terça-feira, 5 de dezembro de 2006

IMPRENSA SEM DIVERSIDADE

Válber Lima

Impressionante, Altino. Ninguém sabe qual é a importância da SBPC, não? Nos meus dez anos de Acre, não lembro de ter visto essa turma fazer sequer um encontro por aqui. De repente vem o presidente da entidade e mais dezenas de cientistas de ponta, e o fato é tratado como um encontrinho inexpressivo, que não merece uma linha de jornal nas chamadas de capa ou uma nota seca na TV. Impressionante mesmo.

Isso prova que a sociedade acreana ainda está longe de entender a importância da cultura e da ciência. A elite local também não entrou em sintonia com o circuito cultural e científico. O leitor comum de jornal, nem se fala. Esse se interessa apenas pelas fofoquinhas fugazes da política, ou pelos espetaculosos casos de violência da periferia miserável de Rio Branco.

Então, não há um veículo de comunicação, nem jornalistas interessados em escrever e oferecer ao público conteúdos que realmente tragam substância e influências importantes para o desenvolvimento da sociedade.

A ciência na Amazônia é o grande tesouro, mas muita gente ainda não percebeu isso. Só irão perceber quando alguns começarem a enriquecer com ela? Bom, se acontecer dessa forma já não será bom, porque o objetivo não é meramente enricar.

A riqueza é simplesmente um desenvolvimento fruto da sabedoria. É preciso antes ter ciência, para alcançar o desenvolvimento e a riqueza. No final de semana que sucedeu ao encontro da SBPC em Cruzeiro do Sul, eu procurei nos jornais de Rio Branco. Nenhum deu chamada de capa.

Quem fez matéria publicou em local sem destaque. Enquanto isso, nas capitais do Nordeste que recebem essas reuniões da SBPC, os jornais mandam dois ou três repórteres com objetivo de fazer uma cobertura completa do evento. Editores reservam até cadernos inteiros para o encontro.

Assunto não falta, tamanha é a densidade dos temas tratados. E, é claro, esses jornais de lá dão também chamadas de capa para a presença da SBPC. Isso porque a sociedade quer ler sobre esses assuntos.

O interesse não é só do público específico, não. Leitores em geral ficam seduzidos com os caminhos trilhados pelos pesquisadores e com os assuntos que vão interferir diretamente em seus cotidianos. Não é a toa que o Nordeste já produz grande parte dos cientistas brasileiros em todas as áreas de pesquisa.

Bom, Altino, estou lhe escrevendo porque considero você uma espécie de ombudsman do jornalismo acreano, e que também presta um grande serviço para a sociedade. Então, espero que você trate desse tema em seu blog. E, de minha parte, como leitor e cidadão acreano, acredito que devemos manifestar nossa indignação diante dos fatos.

Digo isso também porque já vivi o cotidiano da imprensa local e sei que as pautas estão todas direcionadas, impedindo que exista uma diversidade, não na política, mas dos setores da sociedade. E que seja plena.

Válber Lima é jornalista e fiscal da receita estadual, reside em Cruzeiro do Sul (AC) e é dono do blog Platão Diante da Caverna.

4 comentários:

Anônimo disse...

Caro Valber, a comunidade científica do Acre, como diria um amigo meu, desfacelou-se, desmilinguiu-se, morreu! Foram quase todos embora para seus estados, numa única leva, no fim do mandato de um reitor da nossa Ufac. Sobraram poucos. Um deles, meu amigo e esforçado Alceu Rancy, homem que não entrega os pontos, que até hoje luta sozinho... Sua voz , por vezes, se perde na devassidão dessa floresta, pela conservação dos geoglifos ... E, se algo de positivo conseguiu, seu débito é com ele mesmo, e seus créditos estão em sua própria conta! São compreensíveis as ponderações do texto do Professor Gianotti. São perfeitas e fazem sentido suas reclamações contra a imprensa local.
Mudaram os valores, mudaram os cientistas, mudou o interesse público, mudou a floresta? Ou mudou a imprensa?
Qual é hoje o paradigma? Só a Marina, não vale! Ela é franzina, frágil em termos de saúde, valente, é bem verdade, mas isso só não basta! Chico Mendes é piu morto!
Valber, ainda acredito na Universidade. Não na que ensinará o homem a trafegar no meio das florestas, nem de a pé, nem de patins. Acredito na Universidade que pesquisa, que tem resultados a partir de programas e projetos financiados, a médio e longo prazos. Acredito na força dos movimentos populares, principalmente nestes. Acredito nas lideranças que sabem mais aglutinar idéias que votos.
No mais, vamos inaugurar prédios, bater palmas para discursos e ficar sem entender a malária que fez tremer uma população inteira em Cruzeiro do Sol.
Um abraço
Leila

Anônimo disse...

Altino,
Em meados deste ano de 2006 esteve no Acre o presidente da Academia Americana de Ciências. É isso mesmo!!! O presidente da SBPC americana!!! Ele preside a mais importante, influente e rica academia de ciências do mundo! Foi ao Parque Zoobotânico, visitou o resto da UFAC, mas sua passagem foi "anônima" na imprensa local. Sabe quando outra pessoa desse quilate virá ao Acre novamente? Em algumas dezenas de anos.
Uma pena.
Os blogueiros têm que fazer papel de imprensa? Não é justo pois não somos profissionais e nem temos tempo para viver para isso.

Evandro

Anônimo disse...

Eu costumo criticar a imprensa pelo que é publicado.Mas pelo que não é, aí é complicado. Fica parecendo perseguição.

Anônimo disse...

Nem tanto, caro Marcos Diniz. Depois de ler o texto do Válber, comecei a escrever um comentário que, logo, abandonei. O tema proposto pelo velho Platão nos leva longe. Existem muitas facetas desse comportamento, das relações entre imprensa e poder ou, ainda, e, o que nos leva a caminhos mais complexos, a relação entre imprensa e sociedade. Realizar a crítica da própria imprensa como instituição das sociedades ditas de democracia burguesa, isto nos propõe Válber. E os vazios, o silêncio, na maioria dos casos, é a mais significativo do que aquilo que é exposto, mostrado. Por outro lado, ao levantar o tema, a partir de uma faceta da imprensa regional, Válber o faz num momento em que muito se escreve sobre a imprensa brasileira. Há uma amplo e interessante debate em andamento, levantado a partir do comportamento dos grandes jornais, durante a última eleição brasileira. A edição desta semana da Carta Capital tem uma matéria sobre o assunto e uma boa entrevista com um especialista brasileiro, professor da UNB, autor de um recente estudo sobre a imprensa brasileira. Aqui mesmo, neste blog, o Altino tem selecionado alguns textos bons sobre o assunto.