quinta-feira, 24 de agosto de 2006

PORTO ACRE CENOGRÁFICA



Acordei cedo hoje, às 4h45 da manhã, pois estava disposto a fazer uma pescaria exclusiva a partir do velho Rio Acre: fotografar a cidade cenográfica que a Rede Globo está construindo no município de Porto Acre, a 60 quilômetros de Rio Branco, para as gravações da minissérie "Amazônia - De Galvez a Chico Mendes", da novelista acreana Glória Perez, que vai contar a história do Acre.

Brasileiros por opção, aprendemos que, no dia 2 de janeiro de 1899, chegou ao Acre, por via fluvial, vindo de Manaus, com a concordância do governo brasileiro, o ministro plenipotenciário boliviano Dom José Paravicini.

Ele efetivamente instalou uma aduana em um povoado denominado Puerto Alonso (homenagem ao então presidente da Bolívia, Severo Fernandes Alonso) em terras do seringal Caquetá, pouco acima da famosa linha Cunha Gomes.

Paravicini baixou decretos no lugar, passou a arrecadar impostos sobre a borracha e a demarcar terras. Foi em Puerto Alonso que se iniciou as revoltas dos seringalistas e seringueiros brasileiros contra a autoridade boliviana sobre a região.

Puerto Alonso se constituia em um grande povoado para os padrões de época. No período chuvoso, de dezembro a maio, quando os seringueiros ficavam impedidos de trabalhar na selva, estes eram atraídos para aquela vila a fim de gastarem seus saldos.

Os bolivianos não viam com bons olhos a convergência de muitas pessoas para Puerto Alonso, porque frequentemente a ordem era perturbada pelo jogo e a bebida, ocorrendo conflitos sempre indesejáveis às intenções de pacificar politicamente o território.

Foi no seringal Bom Destino, próximo de Puerto Alonso, que aqueles seringalistas e seringueiros, revoltados com a autoridade boliviana na região, se reuniram, juntamente com seu proprietário, Joaquim Vítor, para expulsar o delegado boliviano Moisés Santivanez.

O movimento liderado pelo jornalista José Carvalho foi deflagrado em 1 de Maio de 1899 e ficou conhecido como a Primeira Insurreição Acreana.

Com a chegada de Luiz Galvez, este lançou a idéia de, juntamente com os seringalistas da Junta Revolucionária, fundar o Estado Independente do Acre. Isso se deu porque o governo brasileiro continuava reconhecendo os direitos bolivianos sobre a região.

Em 14 de julho de 1899, foi criado o Estado Independente do Acre, com capital na Cidade do Acre, como passou a ser chamada Puerto Alonso. Luiz Galvez foi escolhido por aclamação como presidente do novo país. A situação do novo Estado Independente não demorou muito e Galvez foi deposto em 28 de dezembro de 1899.

Até que o Governo Federal mandou para o Acre uma força-tarefa que devolveu as terras ao domínio boliviano.

Na ocasião do Estado Independente do Acre, a Cidade do Acre contava com inúmeros edifícios, como a Casa do Governo (a foto mostra a casa em construção, no alto), Câmara Municipal, Alfândega, Capitania do Porto, Casa de Misericórdia, Igreja de Nossa Senhora do Acre, Fórum etc.


Puerto Alonso era considerado um povoado grande para os padrões da época. Passou a ser Porto Acre em 24 de janeiro de 1903. Foi nesta data que o Exército Acreano, liderado por Plácido de Castro, tomou a cidade e expulsou os bolivianos de lá.

O conflito teve início em 6 de Agosto de 1902 em Xapuri. Até hoje, o 24 de janeiro é motivo de comemorações em Porto Acre e a data é lembrada como aniversário da cidade. Porto Acre é patrimônio histórico do povo acreano. É uma memória viva da Revolução Acreana.

Estava em Porto Acre às 7h40 da manhã, quando os habitantes começavam a caminhar sem pressa por suas ruas. Fui conhecer mais um pouco da vida nesta cidade tão remota no mapa do país, que se prepara com todo o Acre para ter sua história finalmente conhecida pelo povo brasileiro.

Entrevistei o morador mais antigo, outro que é o guardião do passado da cidade, fotografei as ruas, o rio histórico, a pachorra de seus habitantes. Aluguei uma canoa com um motor de rabeta e demorei uma hora até a cidade cenográfica.

Tenho uma centena de fotos e vídeos com entrevistas. Por enquanto, um vídeo curtinho de minha passagem em frente à Porto Acre que está sendo erguida diante de uma enorme plantação de melancia do outro lado do rio.

O Acre vai parar a partir do dia 2 de janeiro, quando a minissérie estréia. Não consigo imaginar assistir na TV nossa gloriosa história, tendo um aventureiro incendiário na cadeira de governador após tanta luta e sangue para tornar brasileira essa terra.

O atraso vai seguir de balsa. Podem embarcar, pois vamos nos aproximar de Porto Acre de canoa.







No local da Igreja de Nossa Senhora do Acre foi construída uma sala-memória, onde existe um modesto acervo de peças da histórica cidade



Coleção de garrafas antigas, todas importadas, indica o quanto se bebia durante a Expedição dos Poetas e a Revolução Acreana



Cascas de bala usadas pelo Exército Boliviano



Ribeirinhos navegam no Rio Acre, onde os bolivianos instalaram uma corrente para impedir a passagem de barcos brasileiros



A principal rua de Porto Acre é suja e esburacada



Rute Silva, 17, com a filha Jaine, está casada desde os 14 anos



Vendedores de melancia caminham na principal rua da cidade

5 comentários:

Anônimo disse...

Oi, Altino!

Você é uma redação ambulante! Gostei bastante dessa retrospectiva histórica, mesmo porque o tratamento ficcional da minissérie deve adaptar os fatos, não segui-los à risca. Qual câmera você usou na captação das imagens?

Anônimo disse...

Usei uma máquina fotográfica Sony DSC F828. Abraço

Anônimo disse...

Cara vc não pára nunca né?
estou encantada com tudo que leio e com tudo que vc mostra.
vc é campeão...parabéns caro amigo lindo!
te amo pra sempre
bjos na família

Anônimo disse...

Apesar de simples, é muito linda o nosso povo e o nosso Acre...

Anônimo disse...

Posso ajudar. Escreva para meu e-mail. Abraço