sexta-feira, 7 de julho de 2006

SEM BRINCADEIRA

Antonio Alves

A Promotoria de Meio Ambiente do Ministério Público recomendou aos governos estadual e municipais não expeçam licenças para queimadas na parte leste do Acre enquanto não forem concluídos os estudos e avaliados os prejuízos do verão passado. Quer ainda que sejam formados comitês contra incêndios e feita uma ampla campanha de esclarecimento da população. Apoiado.

Alguém precisava colocar um regulamento severo, criminalizar as queimadas, defender o interesse público e estabelecer um marco zero a partir do qual se pode flexibilizar, negociar, mas manter ao menos uma esperança de controle. Do jeito que estava, não adiantava apelar aos órgãos ditos ambientais, porque a resposta era invariável: a fumaça local está dentro da lei, a fumaça ilegal é a que vem de Rondônia e Mato Grosso.

Agora vamos ver o debate. Não adiante ficar dizendo que é “só uma recomendação”, que não tem força de lei, que isso ou aquilo. Estado ou proprietários de terra, se quiserem defender as queimadas “controladas”, devem argumentar em juízo e explicar que os prejuízos (sociais, econômicos) do uso do fogo são menores que os de sua suspensão. Cada lado terá que assumir publicamente a responsabilidade política de seus argumentos. A repercussão nacional do assunto exige total transparência. Muita gente estará atenta a possíveis acordos de bastidores.

Tenho particular interesse na campanha publicitária que o MPE recomenda. Não creio que bastem os usuais reclames de televisão, que já se mostraram totalmente ineficazes em todos esses anos. Não basta um briefing do governo e uma resposta-padrão da agência. Além de causas econômicas e sociais, as queimadas tem um componente cultural e psicológico que deve ser percebido. A mensagem deve ser clara e direta, cada segmento de público muito bem definido. Os resultados devem ser medidos.

A última chuva forte caiu há mais de um mês. O solo e a vegetação estão ficando cada vez mais secos. Não dá pra brincar com fogo.

Antonio Alves escreve no blog
O Espírito da Coisa

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