terça-feira, 16 de maio de 2006

DOCE ESPERANÇA



Caboco Altino,

Sou eu de novo tacacaído de saudade dessa nossa terra e tucupirado de pavor com o noticiário falando dos motins e dos atos de vandalismo em Sampa.

Aqui no Rio, entre uma bala perdida, um garotinho, um arrastão e, vez por outra, um assaltinho, vou levando a vida e fazendo arte.

Hoje, por exemplo, está um friozinho gostoso e nada melhor que um cabernet sauvignon e um charutinho made in Bahia - é mais barato.

"Doce esperança" é uma música muito pra cima e será cantada por artistas daí, do Acre.


Se você me permite, mando um abraço pra Saramar.

Doce esperança

Um txai curumim, lá na beira do riacho
Vai varejando ao léu
De mãos dadas com as estrelas
Embalado pela lua cheia
Esperando o dia acender.

Adorada terra minha
Da pele cor de esmeralda
De rios turvos e calmos
Que no meu peito deságua.

Verdejante terra minha
Mãe Divina e abençoada
Mesmo triste tu tens brilho
Mesmo em chamas tu me afagas.

Crescem feridas tão grandes dentro do matagal
Motosserra serra tronco, serra gente, fúria animal
Corre o fogo incendiando os sonhos, chaga imoral
Arde a terra, a terra sente, sem vida e sem mineral.

A cobiça aventureira dizimando os quintais
Faz cair por terra o ouro branco dos seringais
E o que ainda é verde, um dia poderá não ser mais
Sem as matas, sem as águas, que não seja tarde demais.

Mãe natureza, cristalina luz das águas
Lava as cabeças gerais
Batiza os homens maus
Sem alma e sem coração
Que ferem os teus ideais.

Vôa jaçanã
Nos lábios da manhã
A floresta é tua guardiã.
Canoa talismã
Zum de carapanã
Poronga é estrela aldebarã.

Vôa aracoã
Pros braços de tupã
Iara é deusa e nossa irmã.
Garoa-me xamã
Na noite temporã
Resina-me com tua rã.


Te abraço

Sergio souto

NOTA: Sérgio, sem comentário. Quero apenas explicar que a foto acima foi tirada no dia 3 de outubro do ano passado, no auge da estiagem que castigou a vida no Acre. Dá pra ver bem o estrago causado pela pecuária nas margens do velho rio Acre. Dê um clique sobre a foto e veja o sulco aberto pela Mãe Natureza, em "S", de Sérgio e Souto. Abraço.

3 comentários:

Anônimo disse...

Altino, boa noite.
Sou meio romântica e acredito que presentes nos são dados, muitas vezes, sem querer. Você é um desses distribuidores de presentes, assim como quem bebe um copo de água. É algo tão natural que nem percebe, eu já percebi.
A foto é um choque. Clico inocentemente em seu link lá no meu blog e me vejo frente a frente com essa foto. Coisa de artista. Você sabe como transformar tragédia em beleza plástica.
Depois, ai, ai.
Abraço do outro artista e esse canto belíssimo, esse mundo inteiro dentro dessa canção, essas palavras novas, essas dores, esse sofrer nessa maravilhosa canção.
Fiquei muda, se é que depois de falar desse tanto alguém pode dizer isso.
Mas, você é o culpado. Você descortina esses universos todos.
Obrigada, meu amigo.

Beijos

Anônimo disse...

Parabéns Sergio Souto, sou um grande admirador seu! Continue assim. Abraços

Anônimo disse...

é isso aí Sérgio !!! Voltastes com carga total, inspiradíssimo! Continua... continua... Um grande abraço meu amigo.