quarta-feira, 17 de maio de 2006

ANOS DE BOM JORNALISMO

Elson Martins

A Folha do Amapá completou esta semana 15 anos de existência. Sua edição número zero circulou em maio de 1991 com um apelo aos leitores que era ao mesmo tempo advertência aos gestores da vida pública no Estado: “Está passando da hora deste povo mostrar que o Amapá não é a casa da mãe Joana”.

De fato, o comandante da reserva da Marinha, Aníbal Barcellos, que havia governado o ex-Território (1979 a 1986) nomeado pela ditadura militar, tornara-se o primeiro governador eleito do recém-criado Estado do Amapá (1988) concentrando mais poder. No velho estilo ditatorial, cerceava a imprensa, punia funcionários e não prestava contas dos gastos públicos.

No novo estado não havia planejamento, nem saúde, nem educação e as obras eram superfaturadas, supostamente, para alimentar contas bancárias de aliados políticos. O governo apostava na impunidade enquanto os demais poderes, constituídos à sua imagem e semelhança, pareciam unir-se contra o povo. Mudar essa situação dependia de atitude ousada, quase suicida, e foi exatamente isso que marcou o nascimento do jornal.

Havia escândalo de sobra a serem investigados por uma equipe de repórteres corajosos e éticos, a maioria debutando na profissão: uma semana era a compra inexplicável de motores russos que custaram uma fortuna (embora fossem inadequados para a região); em outra, confirmava-se fraude na encomenda fraudulenta de uma balsa hospital; ou o rombo na Superintendência de Navegação (Susnava).

A primeira-dama, por sua vez, criou uma fundação através da qual gastava dinheiro público com atividades suspeitas. Ai de quem reclamasse! Um deputado governista experimentou sua fúria e apanhou na cara em plena reunião do Conselho Deliberativo da Sudam, na presença do pomposo José Sarney. A cena bufa ficou registrada na Folha para a história.

Vale lembrar também os namoricos devassos da família: enquanto um exibia taras por uma macumbeira togada, a outra se atirava sedutora para a guarda do Palácio. Por conta dessas diatribes, um aviãozinho do governo fazia viagens caras a Manaus, para alguém comprar uísque e perfumes.

Violência? Nenhum outro jornal fez a cobertura completa do seqüestro promovido contra os vereadores Pery Arquilau e Luis Banha. Os dois foram submetidos a torturas e salvos por milagre.

Um odioso esquema estaria sendo montado pelo filho do governador que intervinha em concursos públicos para nomear jagunços de sua guarda pessoal. O rapaz queria ser governador apoiado por um sistema criminoso, felizmente implodido pela CPI do narcotráfico.

Em 1992 a Folha homenageou sua turma traçando um perfil dos jovens repórteres, diagramadores, revisores etc., que construíram e mantêm, passo a passo, a credibilidade do jornal. Na primeira fase do semanário eles foram orientados pelo experiente chefe de redação, Antônio Correa Neto, o mais bravo e permanente jornalista amapaense. Quinze anos depois, muitos dos discípulos dele (com minha ajuda) atuam em trincheiras democráticas no Amapá e em outras regiões do país.

Nas edições comemorativas estão contempladas também as opiniões dos leitores. Estes absorveram inevitáveis paralisações e estratégicas mudanças editoriais do jornal que não encontrou dificuldades para explicar, por exemplo, a tolerância diante de falhas apresentadas na implementação do PDSA (Programa de Desenvolvimento Sustentável do Amapá) nos dois mandatos do governo Capiberibe (1995 a 2002).

É essa postura que mantém a credibilidade do jornal mesmo nas crises financeiras e políticas que novamente atravessa. O semanário “debutante” não foge do embate e sabe que, dia menos dia, contará com boa estrutura, circulação e tudo o mais num espaço que é seu por merecimento.

Elson Martins é jornalista acreano e sócio-fundador da Folha do Amapá

4 comentários:

Anônimo disse...

Lamentavelmente no Brasil de hoje somos obrigados a tolerar a proibição do legitimo direito de expressão, caso alguém esteja cometendo crime a obrigação da Polícia, Ministério Público e Poder Judiciario é apurar incontinentemente, seja para pobres ou para ricos, não é tolerado pela nação a discriminação de A ou B, as criticas devem nortearem o aperfeiçoamento do ser humano, o excesso é prejudicial para toda nação, mais acima de tudo devemos observar as razões que as levam, alguém esta errando muito, seja políticos ou cidadãos comuns mais o que não pode é cercear os direitos de expressão, no Brasil tudo é novo em matéria de tecnología, menos o coronelismo, menos o afago a qualquer preço a elite, não toleraremos a mordaça, a liberdade de expressão é legal.

Anônimo disse...

de que vive elson martins ou perguntar ofende??

Anônimo disse...

Que bom que vive o Elson Martins. Fiz parte de sua equipe nos primeiros anos da Folha, quando tudo era paixão e coragem, dinheiro pouco e muito aprendizado. Elson Martins e meu pai, Antônio Corrêa Neto, diretor e chefe de redação nos anos 90 são daqueles jornalistas imprescindíveis no caminho da informação responsável, no enfrentamento às elites empedernidas em seus castelos de poder e lodo. Parabéns à história da Folha, mesmo que em alguns momentos incorra em parcialismos desnecessários, ainda é o único veículo impresso de qualidade no Amapá.

Anônimo disse...

Ontem o juiz Anselmo Gonçalves, auxiliar na Justiça Eleitoral, determinou que a versão on-line da última edição da Folha do Amapá fosse tirada do ar. O pedido foi feito pelo PDT, partido do governador Waldez Góes. Em seu despacho o juiz considerou que a Folha estava fazendo "propaganda eleitoral antecipada negativa", contra Waldez. O jornal denuncia, entre outras coisas, que o Amapá tem o maior índice per-capta em gastos com publicidade governamental.