quinta-feira, 3 de novembro de 2005

MÍDIA SOFRÍVEL

A Letícia Mamed tem razão ao enfatizar que "a qualidade editorial da mídia brasileira-tupiniquim e, no nosso caso específico, da acreana, anda para lá de sofrível".

Veja o resultado de uma pesquisa sobre comunicação de massa, realizada por estudantes do curso de Comunicação Social do Instituto de Educação Superior do Acre (Iesacre), tendo como foco o que é distribuído para venda em bancas, aos domingos, pelos quatro jornais diários do Acre:

A Gazeta: 600 exemplares

O Rio Branco: 250 exemplares

A Tribuna: 180 exemplares

Página 20: 150 exemplares

Vale assinalar que os jornais providenciam maior tiragem aos domingos, pois vendem mais com suas "edições especiais". Quem quiser, faça as contas: o Acre possui população de 500 mil almas, sendo Rio Branco, a capital, concentradora de 286 mil delas.

O jornal Varadouro, que era editado pelos jornalistas Elson Martins e Sílvio Martinello, no final dos anos 70 e início dos anos 80, chegava às bancas, em média, com 5 mil exemplares. Chegou a ter edições com 7 mil exemplares e não sobrava.

Exemplares do Varadouro até hoje são colecionados e vendidos, além de servirem como fonte de pesquisa para quem quer conhecer a história dos violentos conflitos decorrentes do avanço da pecuária e da resistência do movimento social na região.

O Varadouro era feito por muita gente boa. Além de Elson e Sílvio, participavam da equipe Arquilau de Castro Melo, Toinho Alves, Terri Aquino, Fátima Almeida, Suede Chaves, Celia Pedrina e tanta gente mais.

ENTREVISTA

Essa era uma breve nota sobre a imprensa acreana, mas teve que ser alterada na medida em que meu amigo Elson Martins, 65, fez um comentário e ficamos a bater papo via MSN Messenger. Ele, que participou da fundação de A Gazeta, começou com o seguinte comentário:

- Quando nós a assumimos, no começo dos 80, a Gazeta vendia 2,5 mil exemplares durante a semana e três mil aos domingos. Imagino que a população de Rio Branco de lá pra cá duplicou, no mínimo. A circulação deveria acompanhar o crescimento da população e, claro, o aumento de leitores. Gazeta do Acre. Era esse o nome do jornal. Ele foi fundado por um grupo de Porto Velho (RO) ainda durante o governo Geraldo Mesquita, creio que em 1978. O jornal pretendia fazer o que seu grupo, de O Guaporé, fazia em Porto Velho: pressionar o governo e receber grana para calar. Mas Mesquita era osso duro de roer. Não gostou da linha editorial do jornal, a favor do desmatamento e do boi, e mandou cortar qualquer anuncio pro jornal.

Elson, o que eles fizeram então?
Os caras não tinham como sobreviver fazendo um jornal ruim e contra as tradições acreanas. O diretor de O Guaporé chegou a me oferecer o controle do jornal. Eu definiria a linha editorial que achasse correta. Eu, Silvio, Suede, Arquilau - o pessoal do Varadouro - assumimos a direção do jornal. Pagamos as contas, ia tudo melhorando, quando o empresário Wilson Barbosa comprou o jornal e o entregou ao advogado dele à época, o João Branco. O cara chegou lá tirando sarro da gente numa certa manhã: sentou na minha cadeira de diretor e disse que ia melhorar o salário de todo mundo. Mas a linha editorial seria outra. À tarde, ninguém compareceu para fazer a edição do dia seguinte.

Aí vocês tiveram que parar de criticar o monopólio da carne que era do Wilson Barbosa?
Criado o impasse, o Wilson Barbosa nos chamou e falou: "eu comprei o jornal pra vocês, ora". Então dissemos: "tira o João Branco de lá". Ele tirou. Essa era a condição: não podíamos falar contra o monopólio da carne no Acre, que era do Wilson Barbosa. Nós o tínhamos chamado no Varadouro de "poderoso açougueiro". Aceitamos a condição porque tinha muita pauta a desenvolver contra os fazendeiros. E assim foi feito.

E o que vocês fizeram ao receber o jornal?
Estabelecemos linha dura contra os caras que encontramos na Gazeta. Cada um tinha uma coluna através da qual fazia o seu jabá (gorjeta). A colunista social era esposa do comandante da Policia Militar. Chegou a espalhar que ninguém mexeria com ela por conta disso. Foi a primeira a ser demitida. Nas páginas dela só apareciam fazendeiros e oficiais da PM.

Como foi a relação com o sucessor de Mesquita, o governador Joaquim Macedo, tio do governador Jorge Viana?
Passamos quatro anos sem receber um tostão do governo Joaquim Macedo. E sobrevivemos como jornal diário. O corretor do jornal era o Mauri Sérgio, que depois se tornou deputado estadual, deputado federal e prefeito de Rio Branco. Ele comprou até carro com o dinheiro da comissão. Bem, o médico do Joaquim Macedo o proibiu de ler a Gazeta. Ele poderia infartar. Mas não tinha agressão pessoal. Era oposição feita com fatos.

Você escrevia as "Gazetinhas", não era?
Sim. E diziam que eu tinha um informante dentro do Palácio Rio Branco. Não tinha apenas um, na verdade, mas a informação deixava os aspones em pânico. Já te falei como utilizei o Roberto Vaz [diretor do Notícias da Hora] como fonte, não? Ele era o encarregado de jogar fora aquelas fitas plásticas das maquinas de escrever do Gabinete Civil. Fazia isso porque era office-boy do governador Mesquita. Eu pedi e ele passou a me entregar as fitas. Eu lia as informações de trás pra frente, na versão em negativo, e ficava sabendo bastante. Nessa época, o Vaz era um garoto ingênuo.

Os jornais hoje são piores?
No aspecto gráfico, acho que são mais bem feitos que antes. Mas parecem nenos atraentes no trato da informação. Acredito que a pauta, de um modo geral, poderia ser melhorada. Não me sinto muito seguro para afirmar que os jornais de hoje são ruins. Não quero polemizar sobre isso. Talvez falte mais coisa do que eu imagino. Como aqui em Rio Branco existem vários cursos de jornalismo, alguém mais especializado pode explicar. Ou os proprios donos dos jornais.

Comentário meu: não é exagero afirmar que a opinião pública não sentiria a menor falta caso os quatro jornais diários do Acre, com a "qualidade" que têm hoje, deixassem de circular. Na verdade a maioria de seus leitores está concentrada na web.

Esse modesto blog segue essa tendência ao registrar a média diária de 300 visitantes únicos, que chegam a gerar até 1,2 mil page views. O leitor pode acessá-lo mais de uma vez durante o dia, mas apenas um acesso, em cada período de 24 horas, move o contador.

6 comentários:

Anônimo disse...

Estes números são da tiragem e não das vendas heheheh

Anônimo disse...

No dia que o governo deixar de sustentar os jornais daqui de rio branco talvez apareça algum empresário que invista em qualidade e mude esse quadro. Por que aqui ninguem precisa competir.. vender jornal... eles nunca quebram... sempre tem o caixa forte.

Anônimo disse...

Oi, Altino:
Corrija a informação: o Varadouro não era meu jornal. Era feito por muita gente boa. Eu e Silvio Martinello respondíamos pela editoria. Na equipe tinha Arquilau de Castro Melo, Toinho Alves, Terri Aquino, Fátima Almeida, Suede Chaves, Celia Pedrina e tanta gente mais.

Anônimo disse...

Olá Altino,
Gostei muito desde post, podemos analisar que aos poucos a internet esta substituindo o meio de comunicação Impresso. Jornalismo Hoje não são só Política e Crimes, também podemos fazer jornalismo de outra maneira, do jeito que agrade, faça o leitor sentir bem e orgulho do que lê.
Atualmente administro o portal o Guia Rio Branco, nossas visita é bem superior que a tiragem dos jornais todos juntos, às vezes o portal já chegou a contar mais de 40 mil page-views E mantém a média de 20 mil diários.
Ah e logo breve também vamos virar Impresso, mais um impresso sem política, sem crimes e sem ataques, serviço de qualidade para publico segmentando, começando com 1.500 tiragens.
Aos poucos chegamos lá, aqui e acolá! 

Abraço e sucesso!

Conheça nosso novo serviço para nossos navegantes.
Agora qualquer acreano poderá escolher seu carro usado sem sair de casa.
basta acessar: www.autoriobranco.com.br

Anônimo disse...

ihiih saiu com erros! desculpe!

Anônimo disse...

O povo acreano não compra ''jornais'' por que no Acre não existem jornais.