sexta-feira, 18 de novembro de 2005

DA NORUEGA

Em resposta à polêmica causada pelas notas "Nishi pay dá grana" e "Fabiano Kaxinawá", o brasileiro Fernando Assad, que está em Oslo, envia a seguinte mensagem:

"Caro Altino Machado,
prezados amigos, irmãos e irmãs, txais.

Vos peço licença para, aqui neste espaço, colocar algumas palavras, consciente da responsabilidade que é publicar alguma palavra. Admiro a posicão do jornalista, que neste ofício arca com esta responsabilidade diariamente, afinal todos estamos constantemente nos transformando, assim como algumas de nossas opiniões.

Sou um brasileiro chamado Fernando, fazem 27 anos. Tive o privilégio, 7 anos atrás, de reencontrar aí nesta linda cidade de Rio Branco, um grande amigo, Leopardo. Logo depois o Siã, Fabiano e família. Desde então, após muitos reencontros, só cresceu minha amizade e admiracão por eles e todo seu povo Huni Kui. Povo este que tenho tido a honra de conhecer mais de perto e que cativou meu coracão.

Estivemos juntos no fim do ano passado por muito esforco e dedicacão na área indígena do Jordão realizando as gravacões do filme sobre o Katxa Txirim, a cerimônia do gavião real, uma das riquesas da forte cultura Huni Kui. Também elaborando sólidos projetos de desenvolvimento e preservacão que estão se realizando.

Esses irmãos, nativos da floresta, estão trabalhando sério e sabem o que estão fazendo, transmitindo a mensagem do seu povo. Por uma curiosa "coinscidência" estou tendo contato com este equívoco no dia de hoje, dia em que a voz deste menino de 19 anos e seu povo, e do Acre, foi ouvida aqui em Oslo, na Noruega.

Fui convidado por uma associacão norueguesa chamada Indiansk Støtteforening a apresentar alguns projetos deste povo num grande encontro europeu que está acontecendo na capital escandinávica, sendo que um dos projetos, da criacão do Centro de Saúde de Prática e Estudo da Medicina Tradicional Huni Kui, na aldeia do Jordão, já foi aprovado.

O relatório do vice-prefeito do Jordão, o Siã, lideranca do povo Huni Kuin, foi entregue para autoridades daqui. Enquanto o povo da europa aprende um pouco, admirados, sobre a linda cultura do Acre, o próprio Acre a ignora, desconhece, até desrespeita.

Meus irmãos, vamos abrir os olhos e dar valor ao que é nosso. Ainda acrescento que é muito mais válido o que chamas de neo-xamanismo (que não é o caso dos huni kui, definitivamente) do que os velhos vícios da sociedade. Ao menos já é um caminho de volta as origens e vem abrindo muitos coracões. Viva o Brasil, Viva a Floresta.

Finalizo vos agradecendo, Altino, pelo espaco e pela saudável abertura a outras colocacões e esclarecimentos, e a todos envolvidos. E lembro o sábio Confúncio:

- A única maneira de não cometer nenhum erro é não fazer nada. Este, no entanto, é certamente um dos maiores erros que se poderia cometer em toda uma existência.

Amor e luz, sincera e fraternalmente"

Txai Fernando Assad
Oslo - Noruega

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