segunda-feira, 19 de setembro de 2005

REPÚBLICA DO ACRE



Em tantos mil hectares
Milhares de acres
E a terra é de quem
Vamos andando pro espaço vazio
Com as matas queimadas
E as patas dos bois
Na beira dos rios
(Beto Brasiliense)

Quem visita esse blog já observou que tenho publicado uma série de fotos de Rio Branco afogada em densa fumaça resultante das queimadas de pastos e florestas.

Tenho tirado as fotos a partir de um posto de gasolina no bairro das Placas, que é um dos pontos mais altos da cidade. A foto acima foi tirada às 7h33 dessa manhã vergonhosa.


A poluição do ar hoje em Rio Branco certamente é a mais grave da história. Situação semelhante ocorreu em 1987, um ano antes do assassinato do líder sindical e ecologista Chico Mendes, quando os fazendeiros e madeireiros também fizeram a festa no Acre.

Trago o testemunho do governador Jorge Viana, que naquele ano acompanhou o drama apenas como engenheiro florestal. É um trecho do artigo "A República do Acre", escrito por ele em parceria com o jornalista Antonio Alves:

- No ano internacional do mogno, em 1987, 80% das serrarias instaladas na região florestal de Rio Branco trabalhavam exclusivamente para atender contratos de exportação para Estados Unidos e Canadá, que receberam 60 mil metros cúbicos de mogno do Acre. O preço do metro cúbico na serraria era de US$ 200. Na América do Norte, US$ 1.100. Por causa da política federal de incentivo à exportação nem um dólar furado foi recolhido de imposto pelo estado do Acre. Em todo ano, saíram uma média de 17 caminhões por dia, carregados da madeira valiosa da floresta tropical.

É isso. Constata-se, portanto, que a mudança é difícil. A fumaça agora é maior e 17 caminhões carregados de madeira não chega à metade do que passa impunemente, dia e noite, durante a semana na frente de minha casa.

Como não sou governador, não será declararada situação de emergência ou estado de calamidade na República do Acre. E como não existe ninguém que organize "empates", como Chico Mendes fazia, lá vamos nós passivamente pro matadouro.

Um comentário:

Anônimo disse...

"Lá vamos nós passivamente pro matadouro". Sabe o que me espanta também, Altino? É ver que quase ninguém deixa ao menos um comentário para manifestar sua indignação. Será que as pessoas estão respirando? Chico Mendes foi assassinado há quase 17 anos e ainda "constata-se que a mudança é difícil". Vemos os índios ainda terem que brigar por suas terras, que dirá o resto. Semana passada, no seringal, conversei com muitos amigos. Me contaram que o igarapé Caipora, na RESEX Chico Mendes, está seco. Peixes e jacarés morrendo aos montes. Na borda do Seringal Cachoeira, extrema com o Porto Rico, as paxiubas "dobraram" de secas. E agora? Nós já estamos no matadouro.