terça-feira, 13 de setembro de 2005

POLÊMICAS DA FLORESTA

Transcrevo a seguir duas notas que o jornalista Tom-in Alves publicou no blog O Espírito da Coisa:

Dai-me paciência
A direção do Hemoacre faz restrições a doadores de sangue que sejam usuários da ayahuasca (Daime, Vegetal). O jornalista Altino Machado denuncia o preconceito em seu blog. O senador Tião Viana manifesta-se pedindo à Secretaria de Saúde que retire a restrição. Registre-se que o Senador, que é católico praticante, tem demonstrado, ao longo dos anos, respeitar a tradição do uso religioso da ayahuasca. Mantém boas relações de amizade com as comunidades, especialmente com o Alto Santo, núcleo inicial do Daime, fundado pelo Mestre Irineu Serra e dirigido até hoje por sua esposa, D. Peregrina Gomes Serra.

Mas as restrições feitas pelo Hemoacre fazem parte de um preconceito arraigado em parcelas da sociedade afastadas de suas origens e desinformadas sobre a vida do povo acreano, que acontece fora dos roteiros institucionais. Quando fui presidente da Fundação de Cultura, tive que corrigir cartilhas de combate às drogas editadas pelos órgãos de segurança do Estado, que incluíam o Daime entre seus alvos. De tudo temos que suportar.

A questão é: existe justificativa científica para a restrição? O sangue de um usuário de ayahuasca pode provocar problemas para quem o recebe? Obviamente, não. Sei que não há pesquisas sobre isso –e é bom que sejam feitas- mas a história das comunidades do Daime registra, em décadas passadas, vários casos de doação de sangue sem que houvesse sido registrado qualquer problema. Um dos antigos me contou o caso de um doador de sangue que saiu do templo, durante o ritual religioso em que havia ingerido a ayahuasca, para doar sangue atendendo a um chamado de emergência. Se o receptor sentiu algum efeito da ayahuasca, não sei. Sei que não morreu.

A direção do Hemoacre, certamente, há de rever com rapidez sua posição sobre o assunto. Se os dirigentes da Saúde no estado quiserem aproveitar a oportunidade para receber esclarecimentos e aprender, com humildade, coisas que ainda não sabem, estejam à vontade para pedir.

Madeira de índio
Recomendo novamente a leitura do blog do Altino, que publica a carta dos Yawanawá contra a exploração madeireira que uma empresa do apresentador Carlos Massa, o Ratinho, pretende fazer na região do rio Gregório, território daquele povo. A carta dos índios é clara e não há dúvidas quanto à solidariedade que devem receber de todos nós. Mas quero acrescentar uma cobrança: o governo estadual deve explicar sua posição sobre o assunto.

Fale, Jorge Viana. Fale, Gilberto Siqueira. Fale, Rezende.

E, por favor, sejam tão claros quanto os Iawanawá.

Um comentário:

Anônimo disse...

Altino, também considero um preconceito a restrição de doar sangue quem faça o uso do chá hoasca. Sou sócio do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal a alguns anos e bebo o chá hoasca com frequência; mas de determinada maneira entendo tal restrição: ainda há poucos estudos em relação aos efeitos do chá hoasca. Eu particularmente se fosse receber uma doação de sangue gostaria de ter a certeza diante a medicina que o sangue doado não conteria substância que estivesse sujeito a prejuízos à saúde em longo, médio ou curto prazo. É lógico que para quem faz uso deste chá percebe que ele tão somente traz benefícios ao usuário, o problema está em provar isto à autoridades, o que necessita de tempo e dinheiro.
[]'s
Thiago
andarilhothiago@bol.com.br