quinta-feira, 22 de setembro de 2005

A FUMAÇA É NOSSA

Do engenheiro florestal Écio Rodrigues (*):

Camarada Altino Machado:

A desinformação e informação cruzada imperam. Parece que interessa ao governo e à oposição que não se esclareça as causas e as dinâmicas dos desmatamentos e queimadas no Acre.

O discurso da sutentabilidade, que já aprovou projeto no Bid e BNDES, para instalar infra-estrutura em todo o Estado, por paradoxal que seja, é o mesmo que promove o ciclo do desmatamento e da queimada, sobretudo quando feito pensando no calendario eleitoral e, da forma tradicional, se mantém intocável.


Mas para ajudar a esclarecer um pouco: em 1999, quando o nosso então ministro do Meio Ambiente, Zequinha Sarney, considerado o melhor de todos até agora pelas ONGs, já sensibilizado pelo PV, decretou a moratória de 120 dias no licenciamento de desmatamentos e queimadas, foram os políticos do Acre - todos, sem excessão, da situação e da oposição- que intimidaram Zequinha e derrubaram a proposta sob o argumento de que muitos no Acre morreriam de fome.

Segundo as palavras daquele que havia sido alçado naquele instante à condição de pensador estratégico, o professor José Fernandes do Rêgo, a medida geraria um "caos social".


Derrubou-se a portaria da moratória, liberou-se de maneira simplória a indigesta autorização de três hectares anuais para desmatamento e queimadas e criou-se a figura esdrúxula da "queimada controlada", como se isso existisse.

Para complicar ainda mais, o Conselho Estadual de Meio Ambiente aprovou resolução regularizando a posse ilegal, chamada grotescamente de "mansa e pacífica", para que as queimadas e desmatamentos fossem "legalizados" nessas áreas. Queimar pode, desde que legal.


E, para ficarmos tranquilos, nunca mais se pensou no asnunto, e moldou-se o discurso de um Acre sustentável, apesar da fumaça, que só dura dois meses por ano, isto é, dá pra aguentar.

Hoje estamos colhendo o fruto dessa imprudência que determinou uma forma de pensar a sustentabilidade no Acre.


Ou seja: ficamos conformados com a idéia absurda dos pensadores de plantão, segundo a qual o desmatamento e a queimada fazem parte indissociável da ocupação produtiva na Amazônia. Absurdo revestido de primitivismo tosco. No mundo da tecnologia e do conhecimento nunca se poderia aceitar isso.

Talvez seja porque somos mesmos irresponsáveis e precisamos da intervenção da ONU ou de algum gringo, para nos obrigar a tratar esse patrimônio mundial, que é a floresta amazônica, com um mínimo de responsabilidade e inteligência.

Depois não adianta fazer beicinhos de afetados com a tal da soberania nacional. Bobagens. Para terminar: essa imundície de fumaça é nossa mesmo, do Acre.

São os acreanos que queimam e, pelo amor de Deus, parem de testar nosso QI com o argumento idiota de que "a fumaça dos outros é pior que a nossa".


(*) Écio Rodrigues, que é engenheiro florestal e doutor em desenvolvimento sustentável pela Universidade de Brasília, presidiu a organização não-governamental Centro dos Trabalhadores da Amazônia (CTA), fundada por Chico Mendes, além da Fundação de Tecnologia do Estado do Acre (Funtac) na gestão do governador Jorge Viana.

3 comentários:

Anônimo disse...

Esse Écio tá querendo se aparecer... pra um engenheiro florestal tá muito fraco...

Anônimo disse...

Uma retificação, se não me engano o Sr. Écio é Doutor em Ecologia.

Anônimo disse...

Tissiano, sua observação foi importante. Falei com o Écio. O cara é engenheiro florestal e doutor em desenvolvimento sustentável pela Universidade de Brasília. Já alterei a nota. Agradeço por sua atenção. Abraço.