terça-feira, 13 de setembro de 2005

EMPATAR OU LAÇAR

Até que enfim surge uma manifestação sensata de uma autoridade do governo estadual a respeito das queimadas que castigam o Acre.

O diretor de Gestão Técnica do Instituto de Meio Ambiente do Acre, Fernando Lima, declarou à repórter Tatiana Campos, do jornal A Gazeta, que a tendência é diminuir o número de queimadas, não por conscientização ou controle, mas por não haver mais áreas de interesse dos produtores ou fazendeiros a queimar.

Mas ainda existe muita gente no Governo da Floresta iludida por acreditar que os madeireiros e fazendeiros do Acre, conhecidos mundialmente pela violência e desrespeito ao meio-ambiente, tenham se convertido em menos de oito anos em civilizados agentes do desenvolvimento sustentado.

A situação é tão grave no Acre que o jornalista Sílvio Martinello, diretor da Gazeta, interrompeu as piadinhas que escreve diariamente em sua coluna para fazer uma análise concisa e realista:

"A semana começou com mais uma friagem, que significa mais seca, mais queimadas e risco de incêndios, mais fumaça, mais doenças, mais mortes de crianças, mais falta d'água, mais...

Alguém poderá argumentar que no ano que vem será diferente, que este foi um ano atípico. Quem garante? No ano que vem e nos outros subseqüentes poderá ser pior. Já são as conseqüências do desmatamento e queimadas indiscriminadas. Mais exatamente para o plantio da soja, que furou o cerco do Cerrado e está invadindo a região amazônica.

Até que a pecuária estava circunscrita ao espaço ocupado nas décadas de setenta e oitenta, os problemas não haviam se agu-dizado tanto. Agora, danou-se. Pelo sim, pelo não, aqui no Acre ainda haveria tempo de estancar o processo de destruição; recompor o equilíbrio nas nascentes e ao longo dos rios e igarapés, sem prejuízo das atividades econômicas; e sobretudo resguardar a saúde e a sobrevivência da população.

Se esses não são argumentos fortes, aí será o império da irracinalidade, da burrice mesmo. Para quem pensa só naquilo, em soja, veja os potenciais que estudos da Suframa indicam para o Acre: Café, guaraná, indústrias de produtos minerais não-metálicos, farinha de macaxeira, carnes e laticínios, potencial madeireiro (móveis, madeiras serradas e indústrias de compensados); Piscicultura, amido de macaxeira, processamento de frutas tropicais (cupuaçu), palmito de pupunha; extração de safrol da pimenta-longa, couro-vegetal, castanha-do-brasil, turismo ecológico".

Para mim continua valendo a sugestão do jornalista Tom-in Alves:

- O que o governo tem a fazer é notificar todos os fazendeiros que desmataram as margens dos rios e igarapés, dar-lhes um prazo para reflorestar tudo novamente, ajudá-los distribuindo sementes e mudas, mobilizar milhares de desempregados para esse serviço. Mas pra fazer isso tem que estar disposto a gastar dinheiro com Meio Ambiente, não apenas com obras, e tem que ter coragem pra arriscar-se a perder as “doações” dos “empresários” nas campanhas eleitorais.

Os fazendeiros estão tocando fogo até nas florestas das áreas de preservação permanente para ampliar suas pastagens. E eu pergunto: sem Chico Mendes, quem é macho para "empatar" ou laçar fazendeiros?

Nenhum comentário: