sábado, 13 de agosto de 2005

MANIFESTO SOBRE A CRISE

Ao Presidente Lula e à Direção Nacional do PT

Na crise política e institucional que estamos vivendo, a ausência da verdade só tem contribuído para piorar cada vez mais a situação e aumentar a decepção e a revolta do povo brasileiro. Queremos mais que nunca a verdade. Não apenas em palavras, mas em atitudes e ações.

Temos visto a crise de longe, desta pontinha da pátria que é o estado do Acre. Mas a angústia que sentimos, ao ver os nossos melhores sonhos transformados num pesadelo horrível, é igual a de todos os brasileiros em todos os lugares desse imenso país.

Somos militantes do Partido dos Trabalhadores e lamentamos que, passados tantos dias e revelados tantos fatos desde o início desta crise, nenhum dos petistas envolvidos tenha sido punido. Para isso não há desculpa, porque o PT tem seus fóruns próprios de decisão e não precisa esperar as investigações da CPI ou da polícia.

É possível e necessário excluir do partido aqueles que dele se aproveitaram para montar seus esquemas de domínio político ou financeiro. É possível e necessário pedir desculpas à nação brasileira por ter permitido que se desenvolvesse, entre nós, as práticas que tanto condenávamos no passado. Só assim o PT poderá se limpar, reconstruir seus ideais e reconquistar a confiança do povo brasileiro.

Não basta argumentar que a política brasileira sempre acobertou as práticas agora reveladas. Não basta dizer que tudo isso começou há muito tempo e que sempre foi praticado nos outros partidos. O sistema político brasileiro está podre, é um fato, mas nós do PT não poderíamos ter incorrido nesses crimes, pois nosso partido nasceu para combatê-los e conquistou o respeito da sociedade por combatê-los.

O PT precisa punir exemplarmente com expulsão pública todos aqueles que conceberam e executaram as operações que resultaram neste escândalo. E o Presidente Lula, independente das instâncias partidárias, precisa tomar atitudes administrativas urgentes.

Por isso nos dirigimos também ao Presidente Lula para expressar nossa confiança de que é capaz de encontrar caminhos para a superação dessa crise, que não coloca em risco apenas o desempenho ou a continuidade do nosso governo, mas o próprio equilíbrio do nosso país.

E a primeira responsabilidade do Presidente da República não é com o partido nem com o governo, mas com o país.

É fundamental que o Presidente examine a possibilidade de convocar imediatamente o Conselho da República, nos termos previstos na Constituição Federal. Sugerimos que, entre os cidadãos convocados estejam os ex-presidentes Fernando Henrique, Itamar Franco e José Sarney, que também enfrentaram crises de grandes proporções e podem contribuir com suas experiências.

E alertamos para que, na análise das atitudes necessárias à superação da crise, todas as alternativas sejam consideradas. Ao Presidente Lula, por exemplo, cabe considerar que uma possível candidatura à reeleição não pode se sobrepor à unidade do país num pacto de governabilidade.

É necessário acelerar a execução orçamentária para aumentar os investimentos sociais e o crescimento econômico do país, porque os riscos para a estabilidade econômica não estão nos programas do governo, mas na crise social que a falta desses programas pode provocar. A política macroeconômica pode, perfeitamente, preservar seus objetivos sem sacrificar as políticas sociais.

A composição política para o Ministério esgotou-se. O Ministério não pode continuar refém de chantagens ou de acomodações políticas. O governo precisa de Ministros do país, com projetos claros e com capacidade para conquistar o apoio no Congresso e a confiança da sociedade.

Na agenda política, sem prejuízo às investigações das CPIs e o combate à corrupção, é possível dialogar com as lideranças e garantir a aprovação de projetos essenciais, incluindo não só uma reforma, mas uma profunda mudança no sistema político do país.

Ao nosso partido e ao nosso governo apelamos: vamos receber com humildade as lições desta crise. Ela não teria surgido em nosso meio e não teria chegado ao ponto que chegou se não tivéssemos, ao longo de muitos anos, alimentado a arrogância e perdido a capacidade de aprender. É necessário recuperá-la.

No Acre, estamos tomando medidas para reforçar a vigilância e evitar possíveis erros administrativos. É fundamental que nossas administrações sejam mais transparentes, abertas e participativas. Isso pode incluir a revisão de procedimentos administrativos e requer, principalmente, a adoção de uma nova atitude política: mais humilde, mais cordial, mais paciente.

Vamos ter mais contato com as bases sociais que deram surgimento aos nossos mandatos e governos. Vamos ouvir mais, especialmente as críticas. Vamos dialogar mais com a sociedade, com as instituições, com a imprensa, com nossos aliados e até com os opositores.

Queremos aprender com a crise, na esperança de que possamos, com nosso modesto exemplo, ajudar nosso partido e nosso país a encontrar os caminhos para superá-la.

Que a esperança, mais uma vez, seja vencedora.

Jorge Viana – Governador do Acre
Arnóbio Marques – Vice-Governador do Acre
Raimundo Angelim – Prefeito de Rio Branco e Presidente da Associação de Prefeitos do Acre
Tião Viana – Senador
Sibá Machado – Senador – Presidente do Diretório Regional do PT Acre
Nilson Mourão – Deputado Federal
Henrique Afonso – Deputado Federal
Zico Bronzeado – Deputado Federal
Juarez Leitão – Deputado Estadual e líder do PT na ALEAC
Ronald Polanco – Deputado Estadual – 1º Secretário da Assembléia Legislativa
Naluh Gouveia – Deputada Estadual
Padre Valmir - Deputado Estadual
Fernando Melo – Deputado Estadual
Manuel Lima – Presidente da Central Única dos Trabalhadores – CUT – Acre

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