quinta-feira, 14 de julho de 2005

REPÚDIO AO PESACRE

Prezado Altino!

Embora nem seja da ADUFAC, recebi esta nota e ainda estou perplexo. Por isso, peço-lhe o favor de dar publicidade ao assunto.

Atenciosamente,

Marcos Vindin

PS: Apesar de não conhecer você ainda, costumo tomar o primeiro café em seu sitio.

Eis a nota:

Pelo direito ao trabalho, à vida e à crítica


Até onde sabemos, as malas estão longe do Acre. Os “jefersons, dirceus, valérios, valdomiros, delúbios...”, também. Mas, estamos no Brasil, e, lamentavelmente, não é só o Planalto Central que encena episódios do que poderíamos chamar uma “República” inconclusa. No reino encantado da floresta, o autoritarismo transcende os domínios dos três poderes e se aloja candidamente na esfera da sociedade civil, mais precisamente em organizações teoricamente comprometidas com os segmentos sociais subalternos. Referimo-nos em particular a uma ONG, o PESACRE, cujas origens estão ligadas à UFAC. O PESACRE, em atitude no mínimo reprovável, demitiu uma de suas técnicas justificando “incompatibilidade ideológica”.

Marineide da Silva Maia, técnica, engenheira agrônoma e aluna da Universidade Federal do Acre, junto ao Curso de Especialização em História – Cultura, Natureza e Movimentos Sociais na Amazônia –, em seu trabalho junto ao PESACRE – e agora, longe de lá – vem ousada e corajosamente pondo-se a serviço das trabalhadoras e trabalhadores do campo e da floresta. Mais especificamente, tem desenvolvido importante trabalho junto a camponesas e camponeses do Movimento dos Pequenos Agricultores no Acre, articulando sua capacidade técnica com o comprometimento político e crítico, tão caro ao papel da Universidade Pública Brasileira.

Ironicamente, a crítica construída junto à Universidade Federal do Acre foi alijada da relação à qual a Universidade busca construir: a relação com a sociedade mais distante dos privilégios, do mando e do poder, por um ato político, facista e autoritário do PESACRE, em que permeiam as relações de trabalho e em função, reafirmamos, de uma certa “incompatibilidade ideológica” de Marineide. Como entidade crítica, a ADUFAC deve, além que repudiar tal ato, persistir na luta pela construção da autonomia intelectual e responsabilidade social da Universidade Brasileira, como requisito fundamental no engajamento por uma sociedade em que os Movimentos Sociais sigam sua tarefa histórica de transformação.

Também, ironicamente, o PESACRE, ao demitir pela justificativa de “incompatibilidade ideológica” pela relação orgânica que Marineide estabelece com as mulheres e homens trabalhadores do campo e da floresta, parece se esquecer que a origem de muitas ONGs no Acre – e seu papel – foi dada por um dos mais expressivos Movimentos Sociais do Brasil e do mundo: o Movimento Seringueiro, o Movimento dos Empates. Não fosse ele, talvez as organizações não-governamentais de “defesa da natureza”, hoje, estariam longe daqui ou mesmo nem existissem.

Nesse sentido, a demissão de Marineide não apenas atinge o trabalho sério e crítico da Universidade Pública, e sim o que há de mais importante e significativo no atual campo de luta política no Brasil, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, uma vez que o Movimento dos Pequenos Agricultores tem relação direta com o MST. O PESACRE, assim, “demite” de seu campo também milhares e milhares de mulheres e homens da terra, que devem ser os sujeitos centrais de qualquer organização de defesa da floresta, do trabalho e da vida.

A Associação dos Docentes da Universidade Federal do Acre – ADUFAC –, em respeito e em solidariedade à mulher, companheira e aluna Marineide da Silva Maia, manifesta seu profundo desagravo e repúdio ao ato autoritário, preconceituoso e discriminatório executado pelo PESACRE. Nesse mesmo sentido, a ADUFAC reafirma seu compromisso com a crítica, a liberdade – em especial de atuação e expressão – e o apoio irrestrito a todas e a todos que lutam por uma vida melhor, principalmente próximos àquelas e àqueles historicamente alijados do poder mas que, ousada, livre e fraternalmente, tem se organizado e EMPATADO os mandos e os desmandos governamentais e não-governamentais.

Rio Branco – AC, 12 de julho de 2005.

ADUFAC
(Moção aprovada em Assembléia Geral)

9 comentários:

Anônimo disse...

Altino valeu pelo gesto solidário!

Anônimo disse...

segundo apurei através da nossa ABIN a demissão da Marineide foi realmente motivada exclusivamente por causa do envolvimento da mesma em movimentos sociais que andam surgindo (graças a deus) por cá.A ordem partiu do Conselho do Pesacre, um tipo estranho de Ordem dos Cavaleiros que Ordenam.Segundo boletim da ABIN da florestania a "meliente" vêm se envolvendo em causas e movimentos subvesivos de esquerda e, assobrem-se todos, quem pediu a cabeça da Srta. Marineide foi nada menos que a FETACRE,com votos do CNS e SINPASA.

Anônimo disse...

O Pesacre, como quase que todas as ONGs presentes no Acre, tem uma "lista" de colaboradores, o problema é que não mostra a Lista de Financiadores: USAID, Fundação Ford, dentre outras....estranho e previsível afinal, quela ONG é transparente?

Anônimo disse...

O blog tá todo desconfigurado por causa dessa nota. A bitola está mais larga.
Põe na bitola padrão!
Vamos vê se vc ainda sabe o que é isso.

Anônimo disse...

Oi Altino,
A Marineide é uma mulher corajosa, de quem me orgulho de ter sido professor. Essas tais incompatibilidades ideológicas mostram bem que quem presta são os burros de carga. Pensar é crime. Propor é subversão.
Felizmente ela está acima dessa pequenez que reina na floresta dos dias atuais e é um prenúncio de que os olhos, ouvidos e bocas do Acre estão voltando a se abrir.
Forte abraço.

Anônimo disse...

Interessante. Eu perdi dois empregos para os quais fiz concurso e penei por algum tempo sem conseguir emprego pelo mesmo motivo - "incompatibilidade ideológica". Mas isso foi nos anos sessenta inicio dos setenta, quando, para conseguir um emprego, era preciso era necessário uma declaração emitida pela autoridade policial sobre as posições ideológicas do candidato a emprego. Essas regras, dizem, foram abolidas depois da "distenção gradual e segura", lembram? Pois é. Mas dia desses numa lita estadunidense, frequentada por professores universitário, falou-se do esvaziamento dos quadros docentes dos departamentos de Economia: demitem-se professores heterodoxos, marxistas e não afinados com as linhas do pensamento convencional. Quem comanda o PESACRE?

Anônimo disse...

Quem comanda o PESACRE?

USAID

Anônimo disse...

QUEM COMANDA O PESACRE É O GOVERNANDOR JORGE VIANA. A EXEMPLO DE TUDO NESTE ESTADO.

Anônimo disse...

Até entendemos a indignação e o repúdio. No entanto, toda ONG tem um(ns) dono(s), mesmo que as verbas que a sustenta seja semipública. Consequentemente o(s) dono(s) admitem e demitem quem atender os interesses da ONG ou do(s) dono(s). Se o PESACRE tem seus donos e seus donos estam no governo, só faz sentido trabalhar no PESACRE quem segue a mesma linha.