quarta-feira, 8 de junho de 2005

JORNAL DO BRASIL


O companheiro Lula ignora limites
Augusto Nunes

Há limite para tudo, repetiu há meses o deputado federal Fernando Gabeira. Ele ainda era filiado ao PT quando pronunciou a frase. Convidado pelo ministro José Dirceu para um encontro no Planalto, chegou na hora marcada. Depois de 90 minutos de espera, achou melhor voltar para casa. Há limite para tudo.

A lição não é nova. A frase é diariamente repetida por milhares de brasileiros. Por que inspirou tantas manchetes nos jornais? Porque as quatro palavras foram pronunciadas por um político. Na voz do habitante de um mundo em que a esperteza e a conveniência rasa prevalecem sobre princípios éticos e morais, a declaração de Gabeira soou como uma novidade e tanto.

Hoje no PV, ele continua a praticar com naturalidade o convívio dos contrários. Talentoso, sensível, conhecedor do universo que habita, Gabeira não se espanta com alianças que implodem amizades antigas ou acordos entre antagonistas históricos. ''Não há nenhum amigo que não possa virar inimigo nem um inimigo que não possa tornar-se amigo'', dizia Getúlio Vargas. Mas ele sabia que há limites.

A crise que resultou no suicídio do presidente atestou a impossibilidade de se buscar alguma trégua entre, por exemplo, Getúlio e seu arquiinimigo Carlos Lacerda. A troca de ofensas entre governo e oposição fora longe demais, atingira a honra e a alma dos combatentes. Ultrapassara fronteiras sem volta.

Tais reflexões emergem da contemplação de fotos que mostram o presidente da República sorrindo ao lado do senador Renan Calheiros. Ou por declarações de Lula que absolvem liminarmente o deputado Roberto Jefferson de acusações passadas, presentes e futuras. O poder subtraiu a Lula o senso do limite.

Ele certamente não esqueceu um dos mais vergonhosos momentos da história republicana: o programa de Fernando Collor no horário eleitoral gratuito que apresentou ao país uma mulher chamada Miriam, mãe de Lurian, filha de Lula. A exumação da história já era uma abjeção. Mais abjetas seriam as falas de Miriam.

Ela seguiu o roteiro traçado por assessores de Collor, aprovado pelo bando de íntimos que incluía dois deputados: o alagoano Renan Calheiros, futuro líder do governo na Câmara, e o fluminense Roberto Jefferson. Lula conta que nunca se sentiu tão humilhado quanto naquela noite. Enquanto mergulhava no pesadelo em São Bernardo, Collor sorria em Brasília com o espetáculo inverossímil.

Ao lado do chefe, também Renan distendia, satisfeito, a musculatura do rosto de professor secundário nomeado sem concurso. Perto deles, um Jefferson então obscenamente obeso sacudia o corpanzil nos momentos mais ultrajantes. Era o fim de Lula, celebrou o bando collorido quando o programa terminou. Não era.

Lula chegou ao Planalto já cavalgando uma aliança entre partidos dissonantes. No poder, não demorou a constatar que teria de conviver com personagens sem acesso a lares respeitáveis. Mas ninguém imaginou que, em junho de 2005, Lula teria em Renan Calheiros, agora na presidência do Senado, o maior aliado na luta para sepultar a CPI que ameaça Roberto Jefferson.

Não se esqueça do que viu naquela noite, presidente.

Fonte: Jornal do Brasil

Um comentário:

Anônimo disse...

VERGONHA!!!!!!! Leonildo Rosas do Jornal Página 20 recebe a bagatela de 11.000,00 da ALEAC, conforme publicação no Diário Oficial do dia 16/05/2005. Tantos jornalistas querendo trabalhar honestamente e esse petecão brincando com o dinheiro público.