sexta-feira, 12 de novembro de 2004

INDEPENDÊNCIA DO JORNALISMO

Encontrei na web uma notícia publicada em julho no jornal Público na qual o escritor português José Saramago questiona a independência do jornalismo. “Nenhum trabalho é independente e não se pode falar de independência do jornalismo”, afirmou o Prêmio Nobel da Literatura.

O autor de "Memorial do Convento" falava no âmbito do seminário "A imprensa, questionada. Uma análise da aventura informativa", organizado pela agência de notícias EFE e a Universidade Menéndez Pelayo, em Santander, Norte de Espanha.

Na conferência dele, intitulada "Informação, a quadratura do círculo", Saramago afirmou que é impossível a informação total e a objetividade, tanto no jornalismo como em qualquer atividade humana.

"Acreditar que 'um fato é um fato' e que com isto se fecha a porta, que a subjetividade está excluída, é um erro, porque se a linguagem é um exemplo de subjetividade e só com a linguagem se pode explicar um fato, já está aí a subjetividade".

De igual forma opinou que a frase "uma imagem vale mais que mil palavras" não é correta, pois que o ato de fotografar se faz de forma distinta segundo o ângulo e a luz. "A fotografia surge num quadrado e parece que o mundo termina ali, e o que se faz é subjetivar a imagem", explicou.

A informação, afirmou o antigo jornalista, é subjetiva na sua origem, na transmissão e na recepção. "A mesma mensagem terá tantos significados quantos sejam os seus receptores", disse.

José Saramago criticou também os "criadores de opinião" e questionou o direito que "tem um senhor ou uma senhora de acreditar que por escrever uma coluna temos de acreditar que é verdade o que diz".

O autor de "Jangada de pedra" referiu também a "relação de cumplicidade" entre os políticos e a imprensa. "Não se fala do cordão umbilical que une a imprensa às empresas. Nenhum jornal pode recusar publicidade, pelo que é certo que os jornais servem para vender clientes aos anunciantes, sejam os anúncios grandes ou pequenos".

Em relação à independência dos jornalistas, o Nobel português afirmou que, na realidade, há que falar da "infelicidade dos profissionais" estarem conscientes que estão a ser utilizados.


"Entre o chefe e o patrão, o jornalista gasta a melhor parte da sua vida em saber se está a dar a informação que quer o 'guia'". "É como um camaleão que tem de disfarçar o que pensa pela cor do meio onde trabalha. Na realidade gostaria de não ter opinião para que fosse menos doloroso mudar as suas idéias pelas dos outros", prosseguiu Saramago.

Enquanto isso, ainda existem jornalistas que sonham com imprensa indepentende no Território Federal do Acre, no extremo oeste do Brasil.

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