quarta-feira, 10 de novembro de 2004

MARACIMONI

Ano passado trabalhei como repórter e editor-assistente do jornal Página 20. Por sugestão do jornalista Elson Martins, o diretor do jornal, Elson Dantas, decidiu contratar as repórteres Andréa Zílio e Maracimoni Oliveira, ambas do Amapá, para reforçar a equipe.

Por causa disso, a galerinha do Sindicato dos Jornalistas do Acre (Sinjac) fez uma campanha sórdida contra a presença das duas profissionais na redação. Alegavam, vejam só, que elas não eram formadas e estavam ocupando o lugar de acreanos e acreanas.

Argumentei com o cinegrafista Raimundo Afonso, presidente do sindicato (sim, o sindicato de jornalistas no Acre é presidido por uma cinegrafista), que eu havia trabalhado durante quase 10 anos como repórter dos jornais O Estado de S. Paulo, Jornal do Brasil e Folha de S. Paulo, mas nas cidades onde exerci a profissão (São Paulo, Brasília, Goiânia, Boa Vista, Manaus) ninguém jamais me questionou por ter nascido no Acre.

De nada valeram os meus argumentos. Os galerosos do Sinjac queriam expulsar do Acre as duas repórteres a qualquer custo. Naqueles dias, no começo de junho, o Sinjac estava organizando um seminário internacional sobre jornalismo ambiental.

Era o gancho que faltava para justificar uma entrevista com o presidente da categoria. A entrevista, com o título "Florestania é uma palavra complicada", permanece hilária e é um retrato bisonho do nível de imprensa que praticamos.

Depois dela, acreditem, Raimundo Afonso até telefonou para me agradecer. Avisado posteriormente sobre o efeito devastador, o sindicalista ficou de mal comigo. A repercussão dela está na coluna
Via Pública.

Bem, Maracimoni Oliveira não segurou a onda. Na primeira oportunidade que teve, convidada pelo senador João Alberto CApiberibe (PSB-AP), voltou para trabalhar na assessoria dele em Macapá. Andréa Zílio decidiu permanecer aqui e se estabeleceu com a sua reconhecida dedicação.

Agora, mais de 2 horas da madrugada, talvez insone por causa da falta de dinheiro para pagar aquelas continhas básicas, enquanto leio jornais on-line, encontro uma reportagem de Maracimoni Oliveira.

Ela agora trabalha como free-lance para a Folha de S. Paulo e relata na reportagem a prisão do prefeito reeleito de Macapá, João Henrique (PT), que está sendo devorado pela Operação Pororoca. É o que transcrevo a seguir com satisfação:


INVESTIGAÇÃO

João Henrique, de Macapá, é suspeito de atuar em esquema de fraudes

Prefeito petista reeleito é preso pela Polícia Federal

MARACIMONI OLIVEIRA
FREE-LANCE PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM MACAPÁ

JAIRO MARQUES
DA AGÊNCIA FOLHA

O prefeito reeleito de Macapá, João Henrique (PT), foi preso ontem pela Polícia Federal sob acusação de participar de um esquema de fraudes em licitações públicas no Amapá. O petista, que se apresentou espontaneamente, é apontado como membro de uma quadrilha que desviou parte de R$ 103 milhões em recursos federais.
Anteontem, o prefeito de Santana (AP), Rosemiro Rocha (PL), já havia sido preso sob a mesma acusação. A prisão fez parte da Operarão Pororoca, deflagrada na última quinta, que cumpriu 29 de 30 mandados de prisão.
Integravam a organização, diz a PF, o ex-senador e ex-candidato a prefeito de Macapá Sebastião Rocha (PDT) e o empresário e suplente de senador Fernando de Souza Flexa Ribeiro (PSDB), soltos ontem, com mais 21 pessoas.
João Henrique estava em Santarém (PA) havia quatro dias "visitando familiares", segundo seu advogado, Wagner Gomes. O prefeito não chegou a ser algemado. Ele foi preso por ordem do TRF (Tribunal Regional Federal) da 1ª Região, de Brasília.
Em interceptações telefônicas da polícia com autorização judicial, João Henrique fala com o empresário Luiz Eduardo Pinheiro Corrêa, tido como chefe da quadrilha e mentor do esquema.
Em um diálogo, Corrêa diz ao prefeito que "usou de muitos artifícios" para conseguir recursos para obras em Macapá. O prefeito, por sua vez, afirma que "vai conversar com um cara da saúde, o mais influente do partido [PT]", para agilizar um parecer que liberaria recursos para obras do Hospital do Câncer, na capital.
Segundo as investigações, Corrêa mantinha um esquema para ganhar licitações em pelo menos 53 municípios. Tinha contato com parlamentares. Pagava propina e conseguia que funcionários públicos alterassem o Siafi (sistema de acompanhamento de gastos federais) para regularizar, temporariamente, a situação de prefeituras devedoras à União.

Roraima
O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) negou ontem à noite recurso do governador de Roraima, o ex-petista Flamarion Portela, contra condenação e ordenou o seu afastamento imediato do cargo para que assuma Ottomar Pinto (PTB), seu adversário político e autor do processo contra ele.
Flamarion se manteve no cargo porque recorria no TSE. Ele ainda pode entrar com recurso no STF (Supremo Tribunal Federal).
Em 3 de agosto, o TSE cassou o seu mandato em processo no qual ele foi acusado de praticar abusos de poder político e econômico na campanha à reeleição, em 2002. Ottomar Pinto tinha ganho no primeiro turno, mas foi derrotado na outra votação.


Colaborou a Sucursal de Brasília

OUTRO LADO

Não há certeza sobre grampos, diz advogado DA AGÊNCIA FOLHA

Wagner Gomes, advogado do prefeito de Macapá, João Henrique (PT), disse ter tomado medidas legais para conseguir a liberdade de seu cliente e que apenas ontem teve acesso aos procedimentos investigatórios: "Essas gravações estão sendo divulgadas como fatos consumados e nem sabemos se são verdadeiras ou não".
Américo Leal, advogado do ex-senador Sebastião Rocha (PDT), afirmou que ainda prepara defesa. A assessoria do empresário Fernando de Souza Flexa Ribeiro (PSDB) disse que as atividades da empresa da qual é sócio, a Engeplan, nas licitações foram legais. A assessoria do deputado David Alcolumbre afirmou que ele não tem relação com o caso.
A assessoria do deputado Hélio Esteves disse não haver irregularidade em trabalhar por liberação de emendas para o Estado. A assessoria do deputado Benedito Dias afirmou que ele irá esperar o pronunciamento da Justiça. Antônio Nogueira preferiu não se manifestar. Os deputados Armando Alves Júnior e Gervásio Oliveira não responderam à reportagem até as 20h de ontem.
O advogado do prefeito de Santana, Rosemiro Rocha, e Ronaldo Serra, advogado de Luiz Eduardo Pinheiro Corrêa, não foram localizados ontem.

2 comentários:

Anônimo disse...

Pouso Alegre (MG), 14.07.2006

Caro Altino Machado,

Li seu texto sobre as repórteres amapaenses e gostaria de mais informações a respeito do caso e de condições para o jornalista migrante trabalhar. Sou paulista, moro há alguns anos em MG e no final deste mês deverei me transferir para Rio Branco. Aí, pretendo exercer a profissão de jornalista para a qual estudei e me formei no ano passado. Sendo esse o grau de xenofobia do sindicato que deveria defender os trabalhadores da área, independente de serem ou não acreanos, considero a hipótese de rever minha intenção.

Obrigado pela atenção.
Um forte abraço.

Claudinei Braz de Moraes
Pouso Alegre (MG)

Anônimo disse...

Caro,

escreva para altinoma@uol.com.br. No momento estou de passagem por Mananus numa correria danada. Abraço

Abraço