POR RICARDO BRANDT
Um relatório complementar da Polícia Federal entregue ao Supremo Tribunal Federal aponta tentativa de tráfico de influência envolvendo o desembargador do Acre Pedro Ranzi, a procuradora-geral de Justiça, Patrícia Rego, e um dos principais indiciados na Operação G7, que investiga suposto esquema de cartel montado no Estado para fraudar contratos públicos com a participação de membros do primeiro escalão do governador Tião Viana (PT).
No relatório, os agentes da PF afirmam que o empresário e ex-deputado federal Narciso Mendes, um dos 29 indiciados na Operação G7, procurou o desembargador do TJ Pedro Ranzi por telefone e se encontrou com ele pessoalmente em novembro do ano passado, antes de uma votação de um outro processo em que foi denunciado por envolvimento em um esquema de prostituição infantil. Por não ter relação com as investigações da G7, a PF produziu um relatório complementar sobre o caso.
Mendes foi um dos 19 acusados em 2012 pelo Ministério Público do Acre por envolvimento em uma suposta rede de exploração sexual infantil que agenciava menores para programas com empresários de Rio Branco - a rede foi desmantelada pela Operação Delivery.
Durante o escândalo, Mendes estava com o telefone interceptado pela Operação G7, quando foi flagrado pelos agentes da PF ligando para o magistrado dias antes da votação do caso Delivery. Ele teria se encontrado com o desembargador na sede do Tribunal Regional Eleitoral (TRE).
Segundo o documento, instantes depois do encontro no TRE, o desembargador ligou para o investigado para falar sobre um julgamento de pedidos de soltura no caso Delivery que ocorreria no dia seguinte. O TJ analisou também em janeiro uma tentativa das defesas de anular as principais provas do processo.
Os agentes também registraram um encontro no mesmo período entre o empresário e a procuradora-geral de Justiça do Estado, Patrícia Rego. Os diálogos gravados indicam que o encontro pode ter sido intermediado pelo pai da procuradora, José do Rego, que é secretário de Articulação Institucional do governo Tião Viana.
Denúncia
Mendes foi denunciado inicialmente pelo Ministério Público do Estado por manter relações sexuais com menor de idade em situação de prostituição. À polícia, a menor e uma agenciadora confirmaram que o empresário pagou para manter relações sexuais com a menor. Porém, na fase final do processo (que aguarda julgamento), o Ministério Público pediu a absolvição do empresário.
"Durante a instrução do caso na Justiça, as duas testemunhas mudaram seus depoimentos e inocentaram o denunciado, o que enfraqueceu as provas contra ele," disse o promotor Jorge Mariano.
O relatório da PF, que está sob segredo de Justiça, foi entregue ao STF e ao CNJ na semana passada. Outro relatório referente a suposta proximidade do desembargador com os investigados serviu de embasamento para que o ministro Luiz Fux determinasse que qualquer decisão do caso G7 não pode ser votada pelo TJ do Acre.
Ranzi disse que foi procurado por Mendes para falar sobre a Delivery. "Recebi ele, falamos pelo telefone, mas nunca disse que ia fazer isso ou aquilo." Patrícia Rego confirmou que foi procurada pelo empresário, mas negou irregularidades. Mendes não foi localizado pela reportagem.
Ricardo Brandt é repórter do jornal O Estado de S. Paulo
Versão de Patrícia Rêgo
Telefonei nesta manhã para a procuradora-geral de Justiça, Patrícia Rego, que estava em Brasília, dentro de um avião, com destino a Rio Branco. Veja o que ela disse:
- Tive acesso ao relatório da Polícia Federal no decorrer das investigações da Operação G-7 e li a reportagem do Estadão. O empresário Narciso Mendes, envolvido na Operação Delivery, me procurou para ser ouvido pelo Ministério Público do Acre, se sentindo injustiçado pela denúncia. Eu sabia que o empresário estava com o telefone interceptado pela Operação G-7. Falei com ele e a reunião ocorreu na sede do MP, com a presença dos dois promotores de Justiça que atuaram no processo da Delivery. Esse é um direto do réu ou de qualquer pessoa: ter acesso ao MP para conversar. Nós temos que receber todo mundo - as partes, os advogados, os investigados, os familiares. Existe até uma resoluçao do Conselho Nacional do Ministério Público que trata do atendimento às partes. Não há nada de irregular, pois eu não manteria conversa que não fosse dentro da legalidade. Até porque eu sabia que o empresário estava sendo alvo de interceptação telefônica da Polícia Federal. Nesse relatório, consta que Narciso Mendes falou com várias autoridades. Ele estava revoltado porque se sentia injustiçado. Nos encontramos casualmente, no shopping, e ele pediu uma audiência. Aceitei prontamente, mas ponderei que a mesma teria que ocorrer com a presença dos dois promotores. Foi no final do ano, durante o recesso ministerial, e várias pessoas intercederam por ele telefonando para pedir que o atendesse, sem necessidade, pois eu já havia marcado a audiência. Uma das pessoas que intercederam foi José Fernandes do Rêgo, meu pai, secretário do governo estadual, que é amigo de Narciso Mendes, pois ambos são conterrâneos do Rio Grande do Norte.
4 comentários:
Xiii, quanto mais mexe, mais fica evidente que este Estado é governado, fiscalizado e arbitrado por uma meia dúzia que há muito fazem das instituições uma extensão de suas cozinhas.
Depois ficam reclamando dos posicionamentos da Polícia Federal e do STF!!!
Sei que existe ampla defesa e o contraditório, mas isso é demais!
Concordo com Joaomaci - Dá-lhe STF e PF!
Tenho absoluta certeza que se fosse um cidadão comum que abordasse a senhora Promotora no shopping a fim de marcar uma audiência com a mesma, ela mandaria tal cidadão procurar o atendimento do MP para certamente ser informado que a mesma não poderia atende-lo.
É essas autoridades de meia porcaria são ums palhaços de circo, pois dizer que qualquer cidadão tem livre arbítrio para marcar uma audiência no picadeiro do circo e ainda ser recebido pelo chefe do picadeiro é uma gracinha mesmo.
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