sábado, 10 de julho de 2010

DO SERINGAL AO CONVENTO

CLÁUDIO DANTAS SEQUEIRA


Em boa parte de sua infância, Marina Silva cumpriu uma rotina dura demais para qualquer criança. Levantava às 4h30 da madrugada, tomava o café que ela mesma moía em pilão, calçava os sapatos que fazia em látex, ligava o rádio e esperava pacientemente, sentada em silêncio na soleira da porta, a turma que sairia em caminhada para mais um dia de trabalho. Com a lua baixa e o sol ainda por nascer, o corpo demorava a despertar no trajeto de 15 quilômetros até a estrada de seringa. Depois, embrenhava-se na densa floresta em busca da “madeira”, como os acrianos chamam as seringueiras centenárias. O longo percurso era repetido quatro vezes ao dia. Foi assim dos 11 aos 16 anos. “De manhã a gente fazia o corte e à tarde voltava para recolher o leite em sacos de até 15 quilos”, contou à ISTOÉ a irmã mais velha de Marina, Maria Deuzimar da Silva, que até hoje vive na região do antigo seringal Bagaço, onde nasceram. As duas dividiram a lida com o pai, Pedro Augusto da Silva, e outra irmã, Maria Lúcia da Silva, um ano mais nova que a candidata a presidente da República pelo Partido Verde.

Já naquela época, a presença de crianças no trabalho de extração surpreendia. “As pessoas achavam um absurdo. Ficavam assustadas, porque não era comum meninas trabalhando no corte da seringa”, diz Deuzimar. “Normalmente, as mulheres cuidavam do roçado e os homens do seringal.” O problema é que na casa de Marina, de homem só havia o pai. O caçula, Antônio Arleir da Silva, nasceria mais tarde. Com sete filhas e a contingência de uma dívida com o dono do seringal, não restou a Pedro Augusto outra opção. “Fui tentar a sorte em Manaus e Belém, mas não deu certo. Quando voltei para o Bagaço, o patrão foi quem bancou as passagens. Tinha que pagar de volta”, explica o pai de Marina. Ele ainda resistiu à ideia de pôr as filhas no seringal, mas a mãe das crianças, Maria Augusta, foi firme. “Ela era muito orgulhosa e não queria ficar devendo”, diz Deuzimar. Em pouco tempo, as pequenas aprenderam o ofício. Começaram cortando até 150 seringueiras por dia. Logo, passaram a encarar as estradas mais compridas, com até 280 árvores. Também passaram a compreender a relação de amor que os seringueiros têm com a floresta. “Ela nos dá o sustento e nos faz sentir livres”, resume o pai. Além disso, segundo ele, “Marina achou que era melhor trabalhar à sombra das seringueiras do que debaixo do sol no roçado”.

A mais de 70 quilômetros de Rio Branco, o seringal era abastecido de mercadorias levadas em lombo de burro. Ali não havia escolas, e as brincadeiras se resumiam aos bonecos de madeira e pano feitos pela avó. Quem viu Marina crescer na floresta lembra de uma criança brincalhona e muito criativa. “Às vezes, ela parava o corte e pegava a água que a gente levava para beber para tirar borboletas e cigarras que caíam na tigela do látex. Ficava alegre só de ver o bicho voar de novo”, diz Deuzimar. A outra irmã, Maria Lúcia, recorda também um episódio curioso. “Um dia a gente estava chegando na estrada de seringa e ouvimos um rugido de onça. Ficamos com tanto medo que nos empoleiramos numa árvore. Ela riu um bocado, apesar do susto”, conta. O pai também se diverte ao relembrar a vez em que a filha, cansada da rotina, decidiu plantar seu próprio seringal em volta da casa. “Depois de fechar o corte, as irmãs foram embora. E ela ficou ali colhendo várias mudinhas nos pés das seringueiras mais próximas. Daí foi pro meio do roçado e plantou um pezinho aqui, outro acolá”, diz.

Clique aqui para ler a reportagem completa no site da revista IstoÉ.

4 comentários:

Magui disse...

O sistema procura heróis e lhes dão limites nas conquistas.Existem milhares de brasileiros que podiam ter suas conquistas mas não obtiveram porque não interessavam ao sistema.

Valterlucio disse...

Se é para escrever uma biografia e vender nas livrarias, não resta dúvida de que Marina daria um boa história. Para ganhar votos, porém, é inócua. Este lugar de "da Silva" pobrezinho que venceu já foi apropriado por Lula no coração do brasileiro. Não tem lugar pra dois.

Fátima Almeida disse...

desculpem, mas jo no creo que caminhavam quinze quilômetros diariamente. Menos. As estradas de seringa não possuiam extensão tão longa

Egidio Pandolfo disse...

Prezado,
Esta foto está claramente editada. A menina em pé, à direita, teve a face aplicada posteriormente. A luz e a proporção do rosto, denunciam claramente a manipulação.
Abraços