domingo, 16 de março de 2008

MAIS UM CRIME NA AMAZÔNIA

Fátima Almeida

A notícia neste blog sobre o assassinato (leia aqui) de um tenente governador de Alerta, no vizinho Peru, por razões bastante explícitas, isto é, ações contra a retirada ilegal de madeira na Amazônia, não causou a menor repercussão.

Esperei passarem-se alguns dias para acessar o blog e ver se havia algum comentário e nada. Esperei que o Abrahim Farhat, assessor do gabinete do senador Tião Viana (PT), além de membro do Comitê Chico Mendes, fizesse algum convite para manifestação em frente ao Consulado Peruano, para pedir informes sobre o andamento do inquérito, sobre as medidas que o governo daquele país está tomando para evitar que isso aconteça novamente. E nada.

Estamos muito condicionados, culturalmente, a essa geopolítica que só favorece aos empreiteiros e não possibilita intercâmbio entre ecologistas atuantes. E o Greenpeace, será que fez algo? Alguma denúncia em rede?

Daqui a alguns anos os moradores de ambos os lados da Transoceânica vão gemer e ranger os dentes. Não é preciso ser profeta para saber disso.

O Acre tem larga experiência desse tipo de situação com o assassinato de Chico Mendes e sua repercussão. Não poderia construir uma ponte humana? Só vale ponte de concreto para passagem de carretas?

Um homem foi assassinado em defesa da floresta e ninguém diz nem faz nada apenas porque se passou no Peru?

Quanto tempo vai demorar ainda para cair a ficha que a Amazônia não é exclusividade de nenhum desses países que a tutelaram?

Quantos crimes vão ainda acontecer?

Fátima Almeida é historiadora. Clique aqui para ler mais sobre o assassinato de Julio Garcia Agapito.

Um comentário:

Saudades do Acre disse...

Não sou filósofo, sociólogo ou analista político, mas a vigília constante na observação passiva da conduta humana no meio social e político compeliu-me a refletir sobre alguns motivos que, entre tantos outros, alimentam a miséria da desigualdade social e alimentam também a miséria desse desmatamento irresponsável e desenfreado da Amazônia, cuja ambição não se satisfaz em financiar somente os assassinatos. Financia também os silêncios.
No amplo espectro das personalidades humanas, encontramos tipos dos mais variados matizes, onde cada um é único. O que permite essa unicidade é a existência de uma característica comum - o livre arbítrio -, prerrogativa natural que imprime tal indeterminação às ações, que é impossível antecipá-las com a mínima precisão no tempo e no espaço, a não ser que o autor assim o permita.
Essa variedade gera divergência de interesses e tensões sociais, já que o homem, animal gregário, não abre mão da convivência social, porém, menos ainda, da própria individualidade. Raramente ele substitui o “quero” individualista, pelo “quisera”, mais de acordo com o coletivo. O papel do homem político é tentar minimizar os conflitos, procurando harmonizar os interesses, e isto ele o faz à perfeição, embora com um discurso aos párias, na publicidade transparente da ágora, e outro às castas dominantes, na privacidade opaca dos gabinetes. O livre arbítrio tem a cerceá-lo o poder coercitivo das leis, numa tentativa de padronizar e frear comportamentos, preservando o “equilíbrio” social, ou seja, mantendo sob controle o desequilíbrio social reinante. O que seria compreensível e digno de aceitação, se os tentáculos da lei, com a mesma eficiência com que alcançam a base e eventualmente o meio da pirâmide, alcançassem também o cume. Acontece que não é assim que a coisa se passa. Do alto da estrutura piramidal da sociedade, subordinando de forma sutil a este mesmo formato as noções de direito e dever, estão os políticos e a alta burguesia a criar miríades de leis, conformando um labirinto jurídico com brechas imperceptíveis e artifícios imorais de subjetividade dolosa, cujo aparente objetivo é prover as ferramentas para engendrarem, através de caros e eficientes advogados, soluções que dêem aparência legal a injustiças, impunidades e casuísmos, apanágio das sociedades desiguais. Um caldo de cultura onde proliferam impunemente crimes de toda ordem, amparados pelo binômio (poder econômico + poder político), que sabe habilmente utilizar-se dessas ferramentas. Parece existir, à exceção de alguns notáveis, um comprometimento implícito, constante e venal entre poder econômico, legisladores, aplicadores e executores da lei. E essa relação promíscua compromete o avanço da necessária (r)evolução social e moral que precisa ocorrer, ainda que lentamente, para que alcancemos um equilíbrio social real e sem aspas.