sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

ORAÇÃO POR MARINA

Antonio Alves


Neste dia em que teus anos chegam a uma soma tão inteira, plena e redonda como uma lua cheia, bem que eu gostaria de te dizer umas tantas palavras que demonstrassem minha estima, admiração, respeito, amizade. Palavras que tivesse o calor de um abraço e fossem capazes de oferecer abrigo, solidariedade, justificação. Afinal, todo mundo precisa do reconhecimento de seus semelhantes e mesmo aqueles que trazem a certeza no olhar –e por ela são capazes de enfrentar o mundo- necessitam também de um outro olhar, por breve que seja, em que se transmita o entendimento.

Minhas palavras, entretanto, seriam também o reconhecimento de que não tenho, além delas, muita coisa a te ofertar nesta data. Não tenho uma nova canção, uma poesia, um livro que possas ler com prazer. Nem mesmo trago boas notícias da terra e do povo que tanto amas e para quem trabalhas. E se te contasse os detalhes da guerra nas fronteiras onde andei terias que redobrar a fé, pois o amor e esperança parecem estar rareando.

Não tenho o poder com que um dia sonhamos, e com o qual mudaríamos o mundo. Na verdade, procuro saber quem o tem, e aqueles a quem pergunto apontam para todos os lados mas nunca para o próprio peito. A todos parece ter sido dado o poder de manter as coisas como estão, mas não de mudá-las. E como não ando atrás de explicações, mas de sonhos, adio para não sei que data o momento de te dizer: estamos plantando alimento e flores onde havia erva daninha, há alegria nos lares ao invés da fome, a liberdade afugentou o medo, não há mais no ar sinais de fumaça, a vida prospera e todas as crianças crescem com saúde, as sementes brotaram e dão frutos a mil por uma.

Talvez no próximo ano, ou em algum ano de nossas vidas, possa transmitir os anúncios da tua vitória para fazeres o que bem sei que farás, recolher-te sob o manto discreto da humildade e deixar que todos saiam às ruas da comemoração. Por enquanto, posso oferecer apenas dois presentes modestos, pessoais e íntimos.

O primeiro deles é o raio de sol que hoje me acordou, na morada tranquila que estou preparando fora mas não tão distante da cidade. No amanhecer, brilha o orvalho sobre as folhas da capoeira ainda rala que já se ergue no lugar onde só havia capim. Imbaúbas, algodoeiros, faveiros, mulateiros e muitos, muitos ipês já despontam por toda parte. À sombra deles crescerão, mais lentos porém mais fortes, aguanos e cedros, seringueiras e castanheiras. E na beira do açude, arrodeada de açaizeiros, uma samaúma abrirá seus galhos para abrigar orquídeas e pássaros. Eis o que te oferto hoje: a visão de uma floresta que estou plantando para curar a ferida que outros, descuidados, deixaram sobre a terra.

Embrulhado neste primeiro presente, vai o segundo: guardes a certeza de que ainda estou na luta, na mesma velha luta para a qual te levantas todos os dias em outra fronteira, mais inóspita e difícil que a minha, mais cheia de incompreensões e ofensas. Talvez te anime o fato de que ainda há alguém aqui e que este alguém desconfia que, mesmo secretamente, há muito mais gente pensando em ti ao levantar-se, pela manhã, antes de calçar as alpercatas do caminho e empunhar a espada da paciência. Estamos aqui, contigo.

No mais, faço o que se deve sempre fazer todos os dias e não apenas nessas datas especiais: espalhar as bênçãos que, por sobre as dificuldades do tempo, sempre recebemos de quem as tem para dar. Abençoada seja tua saúde, esta que te põe de pé em firmeza, com um imperceptível tremor na medida necessária para não deixar-te esquecer os limites humanos. Abençoada seja tua família, que os abraços de teu esposo e tuas crianças sejam o mel e o leite da tua tigela. Abençoada seja a tua igreja, pois é na vida em comunhão que se renova a mensagem que recebes no lugar mais íntimo. Abençoado seja teu trabalho, tua semeadura. Abençoada seja tua luta, cada vitória real, cada derrota aparente, pois o tempo saberá separar o que passa e o que permanece.

Abençoados sejamos todos nós, que compartilhamos a dádiva de viver contigo neste lugar, neste tempo, nesta vida.


O poeta Antonio Alves escreve no blog O Espírito da Coisa. A homenagem dele ocorre no momento em que a ministra do Meio Ambiente não tem contado sequer com a solidariedade ou apoio político de lideranças do PT do Acre, onde o partido conduz o terceiro mandato do "governo da floresta".

6 comentários:

Saudades do Acre disse...

A emoção não é uma constante em minha vida, variando na linha do tempo, da alegria máxima, à máxima tristeza. Raras, raríssimas vezes, porém, me emocionei a ponto de chegar a um choro velado. Três vezes, não mais. A primeira, de alegria, quando me nasceu a primeira filha. A segunda, de tristeza quando meu pai seguiu em direção à Paz. A terceira, também de tristeza, quando minha mãe o seguiu, certamente pela força do amor. Chorei hoje, pela quarta vez, de tristeza, quando ao começar a ler as palavras do Poeta, vislumbrei resquícios de desesperança. E chorei pela quinta vez ao final do texto, desta vez de alegria, ao descobrir que ele era, na verdade, uma Ode à esperança e à vitória. E hoje, também em função desta data, e do recôndito de minha alma acreana, reformulo ao Senhor um pedido: Que Ele permita, se te cansarem os braços, Marina, que os irmãos que te amam, te admiram e em ti confiam, próximos como o Poeta Antonio Alves ou distantes e anônimos como eu, possam erguer juntos tuas mãos até a vitória final, a exemplo da batalha de Refidin.

disse...

Leio com emoçâo profunda as palabras que som, sem dúvida, belhas porque sâo sinceiras.

Anônimo disse...

Belíssimo o texto do Toinho, Altino. Comovente de um jeito que só as lutas comuns podem ser. Uma ode que nos faz acreditar que um dia o homem será irmão do homem. Que o universo abençoe Marina, Toinho, você e todos aqueles que dão um sentido especial ao breve tempo de nossas vidas.

Daniel Pearl Bezerra disse...

Convido a todos a assistirem ao novo vídeo do blog Desabafo País: "MÍDIA ESGOTO - SERRACARD e FHC CARD". Imperdível:
http://br.youtube.com/watch?v=BNP7Bzya0Nw

ou http://desabafopais.blogspot.com/
Um abraço, Daniel Pearl - editor. (Prêmio iBEST – blog/político)
Permissão para divulgação em seus blogs e sites.

morenocris disse...

Lindo presente do Toinho. Feito com alma.

Beijos.
Bom final de semana.

Unknown disse...

Altino, o meu comentario vou fazer em cima de uma frase que os petistas usam muito "Companheiro" Foi s� o Ex Governador Jorge Viana sair do poder que ele conheceu quem era amigo dele, de companheiro n�o tem muita coisa n�o, hoje o Pt e um partido que esta desfacelado dos seus mais de 10 municipios administrados por eles a grande maioria fai fugir das m�os petistas pode conferir em outubro. A Ministra tem que horar muito mesmo e confiar Naquele que sustenta a sua vida pois os sanguesugas est�o soutos e nem perceberam que ela esta precisando de apoio, pois est�o oculpados com as contagens das cifras t�o queridas.