UM VELHO LATIFÚNDIO

Luis Carlos, colunista político de A Gazeta, manda recadinho na nota "Morreu de velho":

- Meu amigo Altino, exatamente para não levar flechadas, é que passo longe das aldeias.

◙ Caro Luis: O líder indígena Tashka Yawanawá parecia irado logo após ler a sua nota de ontem e pediu espaço para rebatê-lo em artigo no blog. No final do dia, porém, disse que havia desistido porque não quer qualquer desentendimento com Tião Viana pelo fato de você fazer parte da assessoria do senador. Segundo Tashka, o senador teria assumido compromissos importantes na visita que fez ao povo yawanawá e por isso prefere acioná-lo judicialmente. Duvido da disposição dele, Luis. De todo modo, acompanho sua velha coluna com atenção. Você já escreveu que não tem a menor vontade de ir nas aldeias, expressou racismo na história do Jordão, preconceito e desconhecimento nessa dos yawanawá, e novamente escreve que passa longe das aldeias. Se você prefere o direito de ficar longe e não tem vontade de conhecer o que acontece nas aldeias, perde total legitimidade para falar dos índios, fazer a defesa da exploração de petróleo em terras indígenas e coisas do gênero. A imprensa acreana continua um velho latifúndio de ignorância quando se refere aos índios - desconhece até a grafia correta das tribos. E agora surgem até mirações prêt-à-porter. Veja as duas notinhas intituladas "Iauanuauá" (sic), na coluna Bom Dia, d'A Tribuna de hoje:

"A participação do senador Tião Viana no festival da tribo iauanuauá, na região de Tarauacá, rendeu boas fotos e boas observações pelo país afora. O evento, que é realizado ha seis anos nessa tribo, começa a atrair turistas que bebem caiçuma e tomam daime. A festa está virando tradicional e pode entrar para o calendário turístico acreano".

"Aliás, dizem as boas línguas que um dos acompanhantes do senador, após tomar daime na festa indígena, confessou que teve uma visão extraordinariamente mística: viu o próprio senador Tião Viana com uma faixa de governador no peito, jurando cumprir a Constituição do Acre".

◙ Em tempo: O governador Binho Marques se sensibilizou com os apelos que o sertanista José Carlos dos Reis Meireles, da Frente de Proteção Etno-Ambiental da Funai, no alto Rio Envira, tem publicado neste blog. Telefonou para o sertanista para perguntar como o governo do Acre pode contribuir para fortalecer a proteção aos índios isolados na fronteira do Brasil com o Peru. Por sugestão do sertanista, o governador vai pedir que o Exército percorra a fronteira em pequenas operações regulares. O governador disse que está preocupado com a situação e que tem acompanhado a movimentação dos madeireiros peruanos a cada 15 dias, a partir das imagens de satélite que recebe.