segunda-feira, 23 de julho de 2007

SE O ÁLCOOL É VERDE, O CAPIM TAMBÉM É

Écio Rodrigues

Ressuscitar a Alcoobrás, no Acre, talvez tenha sido uma opção razoável, não correta, mas apenas razoável do ponto de vista econômico e social. A região de influência da indústria, que engloba o município de Capixaba e porções das cidades localizadas em todo vale do alto Rio Acre, é pobre e carente. Sem entrar no mérito da qualidade dessas ocupações, o elevado contingente de desempregados ali existentes demandam a geração de emprego e renda.

Mas o tripé da sustentabilidade inclui, além das análises sociais e econômicas, o equilíbrio ambiental. E sob esse aspecto ressuscitar a Alcoobrás foi uma idéia terrível. O cultivo de cana, biopiratiada junto com o café pelo português Francisco Palheta, da Guiana Francesa para o Brasil - por isso a denominação de cana caiena, ou seja, que veio de Caiena - foi o maior responsável pela destruição dos ecossistemas litorâneos do Nordeste ao Sul do país.

Restaram somente 5% da Mata Atlântica, um dos mais ricos e belos ecossistemas brasileiros. O plantio de cana contribuiu para destruir 95% das florestas existentes nessa extensa região. Não há razões para crer que, na Amazônia, será diferente.

A cana se alastra pelo meio rural acreano e altera a paisagem antes degradada pela nefasta pecuária. De Rio Branco a Assis Brasil, o novo dilema ambiental, triste, diga-se, encontra-se em plantar cana ou capim. Se antes a discussão se concentrava na disputa entre gado e floresta, duas alternativas produtivas excludentes entre si, isto é, que não podem ser realizadas na mesma área, atualmente esquece-se a floresta. A alternativa à pecuária é o álcool.

Pela simples razão de substituir a era do petróleo (que vai acabar apesar de alguns acharem que não), um combustível que é o principal responsável pelo aquecimento global, que, por sua vez, coloca em risco a vida no planeta, o álcool foi elevado à condição de biocombustível interessante para o meio ambiente.

Por essa equivocada análise, a produção de álcool, no que se refere ao tema das mudanças climáticas, seria menos ofensivo que o petróleo, ao recuperar, pela fotossíntese realizada pela cana, a fumaça colocada na atmosfera pelos veículos e indústrias. O ciclo se fecharia com o carbono atmosférico indo e vindo, respectivamente, na queima e na produção do álcool.

Todavia, a contradição ambiental do álcool se acentua quando o plantio da cana traz outras graves conseqüências para o ecossistema. Trata-se de uma cultura do agronegócio que precisa ser produzida em áreas enormes, grandes quantidades e com mínimos custos de produção. Exige o emprego intensivo de maquinários e de mecanização, em todas as fases, do preparo do solo até a colheita da cana.

Por sinal, a colheita é outro dilema ambiental que promete. Ocorre que se a cana for queimada pode ser retirada por trabalhadores, ampliando em muito as ofertas de emprego, mas, somente na safra e em condições agressivas à saúde. Por outro lado, se a cana não for queimada, a colheita é mecanizada e não gera emprego algum.

Além, claro, do fato grave de que a indústria, para transformar cana em álcool, gera resíduos químicos que comprometem o lençol freático e a qualidade da água. Nesse caso, o álcool é bom para o ar e muito, mas muito ruim para a água.

Foi-se o tempo que o problema real para a Amazônia era o gado. Nós, a humanidade, sempre conseguimos inovar e criar mais.

O engenheiro florestal Écio Rodrigues escreve no site Kaxiana

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