sábado, 7 de abril de 2007

SAVANIZAÇÃO DA AMAZÔNIA

Estudos mostram que diminuição da mata deve afetar ventos, aumentar freqüência de El Niño e provocar seca

Giovana Girardi

A savanização da Amazônia, reconhecida pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) como provável conseqüência do aquecimento global, pode causar impacto no clima de todo o País. O relatório apresentado anteontem em Bruxelas trouxe um quadro sombrio sobre os impactos que as mudanças climáticas vão ter no mundo, com reflexos na biodiversidade, na saúde e em escassez de água e alimentação.

Estudos dos irmãos Paulo e Antônio Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), mostram que a floresta tem influência na circulação de ar sobre os oceanos Atlântico e Pacífico. A diminuição da mata pode afetar os regime dos ventos levando, por exemplo, a uma freqüência maior do fenômeno El Niño e, em última instância, pode provocar seca em áreas produtivas do Brasil.

De acordo com Antônio, a floresta amazônica funciona como uma reguladora do clima. “O sistema climático da América do Sul depende umbilicalmente da Amazônia. Ao destruirmos a mata para a agricultura , por exemplo, estamos dando um tiro no pé porque vai acabar faltando água para as plantações no futuro”, afirma.

A idéia de que a floresta tropical úmida poderá ser substituída por uma vegetação rasteira e menos rica, semelhante à encontrada na África e no cerrado, foi proposta pela primeira vez pelo irmão mais velho da família, o climatologista Carlos Nobre. Os trabalhos do trio são complementares e estão ajudando a montar o quebra-cabeças sobre mecanismos que até recentemente os cientistas apenas supunham que existissem.

Paulo foi atrás de entender os impactos no regime de precipitações. “Há algum tempo nos perguntávamos de que forma a modificação na cobertura florestal poderia refletir na distribuição de chuva tanto localmente como nos oceanos”, explica. Com modelos matemáticos ele observou que menos floresta representa menos chuva na região. E ao interagir esses dados com informações sobre o Pacífico, notou que a redução era ainda mais acentuada.

O sistema integrado apontou que a Amazônia tem influência sobre as águas do oceano. Chuvas na região modulam os ventos sobre o Pacífico, deixando suas águas mais frias. Do contrário, o oceano se aquece, o que pode levar a um aumento da ocorrência do fenômeno El Niño. Do lado do Atlântico acontece a mesma coisa. O El Niño induz o aquecimento na porção tropical norte do oceano, fato que resulta em seca na região Nordeste do Brasil.

Já é sabido que o evento climático provoca também secas na Amazônia, o que suprime ainda mais as chuvas na floresta, e, como um efeito cascata, reinicia o ciclo. “Sem a floresta, o El Niño deve ficar mais freqüente”, explica Paulo.

O fenômeno é um ciclo natural que acontece de tempos em tempos, quando ventos alísios, que sopram do leste para o oeste, perdem intensidade. Com isso, a água quente do litoral fica parada, mais nuvens se formam na região e surge o El Niño Ocorre que a diminuição da floresta também interfere nesses ventos, enfraquecendo-os.

Quem vem explicar como isso ocorre é Antônio. Ele mostra que a relação entre floresta e os alísios está ligada à transpiração das árvores. De acordo com o pesquisador, a evaporação de água pelas folhas é maior do que a observada no mar. Para se ter uma idéia, uma árvore grande (com 20 metros de diâmetro de copa) transpira pelas folhas 300 litros por dia.

Considerando as árvores de grande porte - ou seja, 5,5 milhões de km² - temos 20 bilhões de toneladas de água evaporando por dia. Em rios, lagos e oceanos há 1 metro de superfície evaporadora por metro de superfície geométrica, mas nas árvores essa relação pode ser de 8 a 10 para 1. É o chamado índice de área foliar (total da área foliar por superfície do terreno).

Segundo Antônio, essa força toda de evaporação acaba “puxando” o ar do oceano. Os ventos alísios entram então nesse vácuo trazendo a umidade do oceano para o continente (veja quadro ao lado). Com menos árvores na floresta, no entanto, esse sistema é prejudicado.

A longo prazo o pesquisador acredita que o impacto no continente pode ir além da influência no El Niño. Se os ventos alísios não forem atraídos para cá, a seca pode se estender para outras partes do País. “Perceba que na mesma linha de São Paulo, do outro lado dos Andes, temos o deserto de Atacama. São os ventos alísios, que defletem na cordilheira, que levam chuvas para a região Centro-Oeste, Sul e Sudeste no verão. Sem a floresta, talvez tenhamos um deserto ali.”

Antônio tem apresentado suas conclusões em conferências internacionais, mas ainda não submeteu seu trabalho a uma revista científica. No final de março, no entanto, ele ganhou dois aliados. Os russos A. M. Makarieva e V. G. Gorshkov publicaram um estudo na revista Hydrology and Earth System Sciences que sugere, com base em formulações físicas, que a destruição de florestas continentais como a Amazônia deve gerar desertos a médio prazo. “Tudo começa a se encaixar e vemos com clareza o papel da região.”

Giovana Girardi é repórter de O Estado de S. Paulo.

8 comentários:

Anônimo disse...

A desesperança não pode ganhar espaço em nossas almas ,não vamos desertar enquanto mata houver. A desfaçatez,o cinismo, o descaramento não podem ficar tão espaçosos. É preciso recomeçar a luta pela floresta para impedir que a Amazônia se torne estéril e desabitada,ainda temos vidas inteligentes por aqui.Desertar jamais!Se cada igreja que existe nesse lugar assumir a luta, a obra de Deus pode ser salva.Irmãos orai e vigiai!

Anônimo disse...

Como não faço parte da "Igreja do Aquecimento Global dos Ultimos Dias" (invenção do Reinaldo Azevedo), prefiro ficar com Aziz Ab-Saber. A Amazõnia vai ter aumento da própria biodiversidade e, se deixarem quietas, as áreas de capoeirão voltarão a ser florestas mais rapidamente. É que tem uma coisinha simples, sabem? O calor aumenta a atividade orgânica, acelera a troca de energia, aumenta o dinamismo das células, proliferam os microorganismos com mais velocidade...

Anônimo disse...

Não use o nome de Deus em vão...

Enquanto dinheiro tiver as Igrejas e seus seguidores não desistirão.
Mas e quando o dinheiro acabar? O povo sumir e a seca chegar?
- Ai sim, poderemos vender petróleo sem problemas com os ecologistas.

Anônimo disse...

A luta contra o descaso com os recursos naturais deve ser feita de todos os lados: contra o desmatamento, contra prospecção, reciclagem de resíduos sólidos, estudos de impactos ambientais na construção de estradas, EIA para os postos de lavagem (sim senhor, já pensaram para onde vai aquela água toda?), retiradas das pessoas das marges de rios e igarapé, mais árvores plantadas nas praças, nas casas... Por falar em casas é um absordo tremendo o mundo todo se discutir o problema da escassez de água e quando passamos pelas residências os cabeças-de-bagre dando lavagem em suas áreas, suas calçadas... pra quê gastar tanta água com lavagem de calçada ?!?!?!.. cabeças de bagre mesmo... É uma luta que deve surgir de todos os lados... Ouvi de um idiota outro dia que viajou de avião recentemente que tem muita mata no Acre, "pra quê tanta mata?" - Disse ele... É por causa de idiotas como esses que a natureza pede socorro... É uma luta de todos.

Anônimo disse...

"Igreja do aquecimento Global dos Últimos Dias,"

Essa é forte ,Eliseu! Acho que o anônimo primeiro tem razão, se cada igreja se dedicar a causa fica fácil ganhar essa parada, porém, como diz o anônimo 2,dinheiro X natureza X cabeça de bagres, não combinam.Vamos observar a campanha da fraternidade da igreja católica, até onde vai.
Não usar o nome de Deus em vão...essa parte também é forte, será em vão mesmo? Não. Vamos acreditar, vamos fortalecer a igreja do Aquecimento global dos Últimos Dias, sim, nem que seja esse o último gesto na defesa da vida na Amazônia.

Anônimo disse...

ei "global" sabia que a CAVERNA DA LUA DE SATURNO foi reaberta, arranje + uma briga com ele para que possamos nos divertir.

Anônimo disse...

Altino,
Segundo a revista Veja desta Semana o "ambientalista" Jorge Viana deu grande contribuição para a savana da amazônia, pois em seu famigerado governo desmatou-se 1/3 das matas em nosso Estado.

ALTINO MACHADO disse...

Foi mesmo? Grato pela informação.