quinta-feira, 12 de outubro de 2006

LULA É LULA

Célia Pedrina

Caro Altino,

Telefonaram falando da polêmica que está rolando no blog sobre a questão do debate entre Lula e Alckmin. Como sempre, estou por fora, pois hoje tenho uma preguiça danada de acompanhar o mundo virtual. Depois de três longos anos como freqüentadora assídua, cansei. Percebi que a realidade me atrai e me envolve mais. Mas me interessei pelo assunto e resolvi dar uma “blogueada” e confesso que não fiquei surpresa.

Aproveitando que hoje é Dia das Crianças, lembrei de um brinquedo de montagem que estava sendo anunciado na TV durante a semana.
As peças representam as várias partes do corpo de diferentes animais. A criança monta o bicho do jeito que ela quiser: 1) rabo de girafa, cabeça de zebra, corpo de cobra; 2) pata de galinha, corpo de cachorro, cabeça de gato... E haja imaginação!

Pra criança, tá perfeito! Ela vê o bicho do jeito que ela quer. Portanto, ler um texto de análise pós-debate de uma “alkiminista” - corpo na campanha de Alckmin e mente no Trotsky - não me causa tanta estranheza, pois o PT também anda meio cheio destes “bichos estranhos”, meio que “moldados”.

Talvez o que assuste a uma parte da classe alta da intelectualidade brasileira é como que o Lula consegue governar sem ter lido porra nenhuma. Como é que o povo brasileiro se emociona quando ele passa, como foi o caso do senhor que só queria abraçar o presidente e ser solidário, pois também teve um dedo decepado.

Acidente acontecido também lá nas metalúrgicas do ABC paulista, lá naqueles maquinários onde se constroem as Mitsubishis, os Land Rovers, esses carros cabines duplas com vidro fosco que está no desejo de consumo de alguns esquerdistas recém chegados ao poder.

Enfim, a sinergia de parte do povo brasileiro com o Lula é uma questão de identidade, de se ver retratado, de se reconhecer na figura do presidente. Coisa que não acontece com intelectual, com coronel ou com um representante arrogante da nobre estirpe de quatrocentões paulistas.

Eu sou paulista. Paulista do interior. E sei o que é sofrer este preconceito na pele, pois aconteceu comigo, em 1969, na USP, no Partidão, no PcdoB, por ser uma mocinha do interior que queria ser comunista, mas tinha lido muito pouco.

Lula ganhou o debate. Lula vai ganhar as eleições. Lula é Lula. É tão simples. Nem precisaria de grandes análises de alguns “istas” prá entender o que é simples de se constatar. O difícil para a lógica de algumas pessoas “que falam complicado” é entender a simplicidade do óbvio ou a obviedade do simples.

Um grande amigo meu, lulista de carteirinha, mas também detentor de todos os títulos que o academicismo proporciona (professor, mestre e doutor em educação) diz assim:

- A concentração do conhecimento científico que a intelectualidade brasileira de esquerda pratica, em sua grande maioria, é tão ou mais cruel do que a concentração de capital feita pela direita. A falta de dinheiro ameaça a vida do corpo físico, a falta de conhecimento ameaça a existência de novos sábios, novos cientistas, novos pesquisadores...

Talvez seja por isso que não sai do papel, em lugar nenhum deste país, uma universidade que reconheça o equilíbrio entre os saberes. Estar ao lado de Alckmin ou de Lula, independentemente do desempenho deles no debate, é optar pelo lado que queremos ficar.

Em tempo: diz pra Katinha que entreguei o convite pra Áurea e que é pra ela enviar a foto que tiramos na Praça da Revolução, debaixo da espada do Plácido de Castro.

Um abraço.

A professora Célia Pedrina é uma das fundadoras do PT no Acre. Além disso, é mãe do João Eduardo, guitarrista da banda Los Porongas, e da repórter Mariama Morena. O que me incomoda é o patrulhamento, pois alguns petistas enviaram mensagens ou telefonaram para me questionar por ter publicado o artigo da moça alkminista. Isso é intolerável, pois nada melhor que o debate democrático para o qual Célia Pedrina contribui agora. Vou votar no Lula, mas o blog continua aberto para quem queira se manifestar contra ou a favor dele. Kátia avisa que vai providenciar o envio da foto.

17 comentários:

Anônimo disse...

Caro Altino,
Há muito não visitava seu blog, mas hoje, Dia das Crianças, ganhei de presente a imagem feita pela Célia do bicho estranho... Célia - como outros bons petistas - falou com a lucidez que falta há muitos, no que diz respeito ao PT e as inevitáveis faxinas que o partido deverá fazer para limpar a casa - que anda parecendo mesmo com uma "festa estranha, com gente esquisita". Em tempo: meu voto é Lula, antes que pensem que sou Alkimin.

Anônimo disse...

12/10/2006 - 20h24
Vantagem de Lula sobre Alckmin é de 12 pontos, diz pesquisa Ibope
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da Folha Online

Anônimo disse...

Realmente, o Lula é um mito! É o sujeito que não leu porra nenhuma, se vangloria disso, e é presidente do Brasil. Quero ver quem ganha do mito!
Tinha todas as oportunidades de estudar, mas não, o mito precisava sair da fábrica e ir para a presidência da República! Não podia haver escalas.... então, pra que discutir Lula. Ele é isso ai.... um mito!

Anônimo disse...

E ainda tem gente que liga pra questionar a publicação do texto da Mag é? Esse pessoal da patrulha está voando em frequência errada, sem plano de vôo, bagunçando o espaço aéreo da democracia.

Anônimo disse...

Tem razão,

Lula é Lula

Lula prometeu que no governo dele corruptos não teriam lugar. O que se viu foi exatamente o contrário. A cúpula inteira de seu governo esteve envolvida em atos ilícitos.

O governo Lula gastou mais em publicidade do que em saneamento básico. O que é inaceitável para um governo que se diz voltado para as questões sociais.

Lula dobrou o número de funcionários no Planalto. De 1,8 mil, foi pra 3,3 mil funcionários. Só assim para empregar todos os amigos do PT.

Lula dobrou seu patrimônio em três anos e meio. Passando a mais de 850 mil de reais. Isso explica gasto tão grande em despesas do gabinete citado mais acima.

Ainda permanece desconhecida a origem de R$ 223,5 mil que foram parar nas contas de Lula e de outros sete petistas que concorreram a cargos majoritários nas eleições de 2002.

Lula mentiu para todos os brasileiros em rede nacional quando disse que foi dele a iniciativa de afastar Dirceu e Palocci por conta de corrupção. Ambos demitiram-se. Com direito a carta amorosa e tudo.

Lula mentiu ao povo ao dizer em entrevista que foi ele quem criou a CGU, Controladoria Geral da União. A CGU foi criada pelo ex-presidente FHC em 2 de abril de 2001. Mas mentir já não é uma novidade para Lula.

Durante o governo do petista Olívio Dutra no sul, que depois foi ministro de Lula, o representante das FARC, Hernan Rodriguez, foi recebido no Palácio pelo próprio governador. A ABIN relata três documentos atestando apoio financeiro de 5 milhões de dólares das FARC para candidatos petistas.

Antes de Lula assumir a presidência o filho de Lula era monitor de Jardim Zoológico. Três anos depois tornou-se um empresário milionário, com contratos suspeitos com a Telemar.

Anônimo disse...

Mas o povo deve cobrar mais do mito, para que o país não caia no abismo de tapa-olhos e esqueça tantos anos de luta contra a corrupção. Se o presidente Lula tirasse a máscara que construiu para si e se tornasse um Jorge Vianna... Este sim, por ex., seria um bom presidente para o Brasil. O que deve ser feito é o cumprimento dos deveres, sobretudo sociais, e não a fuga à verdade. Mas tudo parece um sonho. Uma talvez eterna Utopia.

Anônimo disse...

Pobre do país que é governado por um mito...

Anônimo disse...

Obrigada altino, pela publicação do texto,

Enfim, o exercício diário da democracia é isso mesmo: a gente fala e se atreve a escrever o que pensa.
Ouve, lê e fica meio “p. da vida” com os contrários, mas tem que manter o aprendizado de todos os dias respeitá-los...
E como sempre, a gente acaba repousando nos braços dos que se identificam com a gente...
Acho que eu não saberia viver de outra forma...depois que escapei das tendências e dos grupelhos... desde então, passei a amar cada vez mais, de uma forma quase que obcecada a busca pela minha liberdade...
E acho que tenho me saído bem....

ps: outro dia eu tive que testar esse caso da democracia, pois o Abujamra, ator que eu aprendi a admirar desde os meus bons tempos de universitária, afirmou em seu programa “provocações” da TV Cultura, paulista, que ele não gosta do Chico Buarque nem como músico nem como poeta....mas eu, democraticamente, continuo amando os dois

ps.2 - pobre do país que é pobre...

célia pedrina

Anônimo disse...

É claro que o Lula cometeu muitos erros. erros que a grande maioria dos brasileiros e em especial quem sempre votou nele, jamais esperou que se repetissem em seu governo. Mas o que inciomoda à elite, é 'a Casa Grande" ser comandada por alguém que veio da "senzala".

Anônimo disse...

Célia Pedrina,
Sou testemunha: há 30 anos você enriquece a história politica do Acre com sua garra, seu jeito extrovertido (quase anárquico) de ser, mas sobretudo por sua consciência. Você diz coisas muito sensatas, verdadeiras, e brilha mais ainda pelo que faz. Vamos de Lula. Um abraço

Anônimo disse...

Célia Pedrina, o programa do Abujamra tem por nome "Provocações". Então? A gente dá um jeito: continuamos gostando da música e da poesia e, agora, lendo os romances do Chico e, de quebra, continuamos admirando o Abujanra.

Aliás, vivo dizendo para meus filhos: antes de achar que minhas opinões sobre música sejam remanescência do velho que sou, ouçam Chico Buarque, prestem atenção em suas músicas, ouçam Tom, Edu Lôbo, Baden, de preferência na voz de Elis, ouçam Zé Keti (pedir para que experimentem, em alguma noite de carnaval, abrir os braços ao ouvir Noite dos Mascarados seria demais) leiam Vinícius e Drummond. Depois a gente volta a conversar. E eu gosto do Skank, hein? O Abujanra "faz tipo", certamente, tem consciência de que integra essa linhagem.

Anônimo disse...

Tributo a mediocridade
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sergio souto e marco berger


Teu veneno
Vai passar por mim direto
Tens o olhar sombrio e torto
E eu te olho sempre reto
Teu sorriso magro e morto
Não me causa desafeto.

Teu veneno
Vai passar por mim distante
Tens o andar truncado e curvo
E o meu passo é navegante
Tua voz não encontra eco
Nos meus versos dissonante.

Teu veneno,é o teu veneno
Sôfrego,dilacerante
Teu veneno,é o teu veneno
Para mim é estimulante.

Anônimo disse...

A afirmação da(o) Freire é de um ranso ideológico grotesco e ultrapassado. Lula jamais seria eleito se os 30% que nunca votaram nele não tivessem dado o voto de confiança. O problema é que ele não soube honrar e não fosse o assistencialismo eleitoreiro que dividiu o país ele já estaria derrotado. Infelizmente existe pobreza no país, em todos os sentidos, e por isso o Apedeuta tem grandes chances de continuar com a destruição da frágil democracia brasileira.

Anônimo disse...

Desculpe. Este não é o foro ideal para polemizar. O asssunto requer algumas laudas a mais. Começaram a apedrejar do alpendre. o Paulo, será o Maluf ?

Anônimo disse...

Ótimo que o sério souto esteja de volta com sua poesia fácil e sua verve fecunda, para alegria de todos.

Anônimo disse...

O mito não precisa dar satisfação do que faz ou fez....
No mito nada respinga...
O mito não é contestado...
O mito nunca erra...
Pobre do país pobre que é governado por um mito! Pobre continuará!

E já que falaram no Maluf, no final das contas ele é que tem razão. Veja vocês, a "competência" tucana e o "sonho" operário seguem a risca a retórica malufista do "Rouba mas faz"! O segundo turno é a disputa entre os sujos, pra ver quem fez melhor!
Assim caminha o país do mito!

Anônimo disse...

Caro altino,

Além dos comentários que vão aparecendo no teu blog, por conta da discussão sobre o 2º turno, vou encontrando as pessoas pelas ruas de rio branco que também querem registrar a opinião sobre o assunto.
O fato é que a eleição lula e alckmin realmente está polarizada, apesar da vantagem de lula e servindo prá revigorar debates e encontros que estão sendo imperdíveis....
Como foi o de ontem à noite no programa “de olho no voto” onde os debatedores promoveram um momento ímpar de polêmica, lucidez e clareza, de ambos, sobre o momento político brasileiro.

Estavam discutindo a questão do 2º turno Mino Carta, editor-diretor da revista semanal “Carta Capital” e Clóvis Rossi, comentarista político do jornal a “Folha de São Paulo”, que dispensam maiores apresentações pela longa e (re) conhecida trajetória de ambos na história da imprensa brasileira.

Foi uma das melhores “meia-hora” que pude assistir nestes últimos 60 dias...quem não viu, perdeu realmente uma polêmica sadia e esclarecedora...

Fiz questão de escrever para o Altino, um pouco meio que entusiasmada pela repercussão do meu texto e também para constatar e deixar registrado que este exercício democrático de dizermos o que pensamos realmente revigora a nossa vontade de continuarmos na busca do melhor para todos nós enquanato agentes e partes da sociedade brasileira.

ps: dos comentários que li após a inserção do meu texto o que mais me deixou intrigada foi o do Sergio Souto quando ele afirma “”certos venenos estimulam a ação/reação”...
enfim...

ps.2 – na próxima sexta e sábado tem a 2ª edição do Varadouro Rock, com 16 bandas (08 da terra e 08 de outros estados)...vale a pena dar uma olhada e saber mais sobre, pois desta vez antes do debate que vai sobre o cenário da música independente no Brasil, eles vão apresentar aos músicos do brasil, os "jurássicos" que fundaram o jornal Varadouro e qual é a ligação entre a proposta do Festival e a proposta do Jornal