Mais de duzentos líderes religiosos, cientistas, ambientalistas e governantes do Brasil e do exterior vão se reunir no rio Amazonas, entre 13 e 20 de julho, para examinar os desafios ambientais e questões éticas relacionadas com a proteção do meio ambiente. O simpósio amazônico é patrocinado pelo Patriarca Ecumênico Bartolomeu I (foto) e pelo secretário geral da Organização das Nações Unidas, Kofi Annan.
A partir de Manaus, o simpósio vai usar dez embarcações para visitar vários locais de interesse ambiental, dando a seus participantes uma oportunidade de examinar as condições do rio Amazonas e conversar diretamente com residentes locais e especialistas. Na presença de centenas de convidados e dignitários, os líderes religiosos farão, no dia 16 de julho, a benção das águas do Solimões e do Rio Negro, no encontro das águas.
- Estou muito feliz por ter o privilégio de visitar a grande nação do Brasil e sua grande jóia, o rio Amazonas. O rio Amazonas simboliza a magnificência e vulnerabilidade da criação de Deus. Um dos maiores desafios de nosso tempo é a perda da floresta úmida tropical. Ela toca não só a vida dos povos indígenas e tradicionais que vivem na floresta, mas de toda a humanidade - disse o patriarca.
O simpósio terá início em em Manaus e contará com visitas à sede de mapeamento por satélite do SIVAM, à torre de observação florestal ZF2 e a Santarém (PA). Viajará também ao Parque Nacional do Jaú, ao arquipélago Anavilhanas e a Mamirauá.
Ao longo da viagem, representantes regionais e internacionais discutirão tópicos abrangendo a ética ambiental e assuntos relevantes à Amazônia, como desmatamento, perda de biodiversidade, a introdução de organismos geneticamente modificados, ecossistemas amazônicos, os direitos e desafios dos povos indígenas e tradicionais e o impacto da Amazônia na mudança climática global.
O ponto alto do evento será uma cerimônia ecumênica de bênção das águas do Amazonas, no dia 16. Esperado para o encerramento do simpósio, em Manaus, no dia 20, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda não confirmou presença.
Entrevista
Bartolomeu I: Patriarca Ecumênico de Constantinopla
‘Se amamos o Criador, devemos amar a criação’
Patriarca fala sobre lado espiritual da ecologia e reconhece dificuldades do diálogo de reconciliação com a Igreja Católica
Pelos cálculos do arcebispo metropolitano da igreja ortodoxa grega de Buenos Aires, monsenhor Tarasios, que responde por toda a América do Sul, há entre 20 mil e 50 mil cristãos ortodoxos no Brasil. Segundo o site www.ortodoxiabrasil.com, eles se concentram em 12 Estados e no Distrito Federal. Há uma dúzia de paróquias na cidade de São Paulo e outro tanto no interior do Estado.
Apesar da escassez de seu rebanho no Brasil, Bartolomeu I, o Patriarca Ecumênico de Constantinopla, possui laços de família com o País. Três de seus primos, filhos de um irmão de seu pai, vivem em São Paulo - e dois deles o encontrarão pela primeira vez durante a visita que fará ao Amazonas, no mês que vem.
Não será a primeira viagem de Bartolomeu I para a América Latina. Suas andanças pelo mundo já o levaram a Cuba e ao México. Abaixo, trechos da entrevista que concedeu ao Estado:
Por que seu interesse pela Amazônia?
Sabemos que há uma preocupação mundial com a Amazônia. Queremos conhecer e aprender. E queremos oferecer nossa perspectiva e contribuir para o diálogo que leve à solução dos problemas. O simpósio em si não trará nenhuma solução. Mas acreditamos que a participação de especialistas de diferentes disciplinas e países, bem como de formuladores de políticas, facilitará o entendimento, pois trará ao debate as dimensões científica e espiritual da ecologia.
O que o senhor espera alcançar com o simpósio?
Nosso objetivo não é resolver todos os problemas ecológicos, mas sensibilizar as pessoas, criar consciência ecológica. É obrigação sagrada da igreja proteger a criação, de acordo com a vontade do Criador. Essa é a razão, em última análise, pela qual o Patriarcado Ecumênico decidiu abraçar esse trabalho. Achamos que é nosso dever. Atuamos em colaboração com a Igreja Católica, que é a maior das denominações cristãs, o que aumenta a eficácia dos nossos esforços e seu impacto junto aos fiéis. Se dizemos que respeitamos e amamos o Criador, temos então que respeitar e amar sua criação.
O Brasil é o país que tem o maior número de católicos batizados. A reconciliação das Igrejas Católica e Ortodoxa acontecerá um dia?
Será um longo caminho. Temos um fosso criado por uma separação de nove séculos e meio. Iniciamos um diálogo há quase 50 anos, quando o papa Paulo VI e o patriarca Atenágoras tiveram um encontro histórico na cidade de Jerusalém, ao final do Concílio Vaticano II. Levantaram-se as excomunhões mútuas que as igrejas haviam decretado. O diálogo teológico começou depois da visita do papa João Paulo II ao Patriarcado, em 1979. No entanto, a comissão mista formada para estudar os pontos de diferenciação dos dois sistemas, com o objetivo de chegar a um consenso, entrou em crise depois de 20 anos de trabalho.
Por quê?
O problema gira em torno das igrejas ortodoxas do movimento uniata, que seguem Roma. Elas mantêm os paramentos e ritos litúrgicos das igrejas orientais mas estão unidas a Roma. Os ortodoxos acreditam que os chamados ritos orientais foram uma invenção de Roma para fazer proselitismo junto aos cristãos do leste. Os nossos irmãos católicos romanos dizem aos ortodoxos que não são teologicamente educados, que não há diferença substancial entre as igrejas, que a diferença está só nas roupas, e que se trata apenas de mencionar o nome do papa de Roma na liturgia, porque somos todos o mesmo povo.
E não é assim?
O entendimento ortodoxo é que esse não é um argumento honesto e sincero. Depois do colapso do comunismo, várias das igrejas uniatas que seguem Roma passaram a desfrutar de mais liberdade e assumiram atitudes agressivas em relação aos ortodoxos. Houve uma reação forte e o diálogo parou. Em setembro passado convoquei os representantes de todas as igrejas ortodoxas e propus a retomada do diálogo, que foi aceita. Roma também concordou. Em setembro próximo haverá, em Belgrado, a primeira reunião plenária da comissão de 30 teólogos ortodoxos e 30 teólogos católicos. O tema será a estrutura da igreja.
Qual é a maior diferença?
É a posição hierárquica do bispo de Roma na estrutura geral da igreja cristã e isso nos leva ao principal obstáculo em nossas deliberações. Nós, ortodoxos, dizemos que o papa tem a primazia do amor e da honra. A Igreja Católica afirma que o papa tem também a primazia de jurisdição sobre toda a igreja cristã e pretende que isto seja um direito divino, enquanto que nós entendemos que se trata de um direito criado pelos homens.
► A entrevista, concedida ao jornalista Paulo Sotero, foi publicada na edição de ontem do jornal O Estado de S. Paulo.
2 comentários:
Os cristaos ortodoxos sao nossos irmaos. Deus sabe a emoçao que é entrar dentro de um templo cristao na Grécia. Nos todos ganhariamos se o dialogo ecumenico prosseguisse e esse fosso que separa Bizancio de Roma acabasse. Seria um passo importante para Paz. Boa viagem amazonica para Bartolomeu I. nn pax et bonum
Acho que a bênção do dia 16 terá uma força muito grande sobre as energias do povo da Amazônia e sobre todas as formas de vida que compõem nossos ecossistemas. Todo passo na direção da paz e da convivência harmoniosa com a Criação é importante para a preservação da vida. Farei o possível estar em sintonia com a bênção no mesmo dia e horário pra dar uma forcinha.
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