segunda-feira, 20 de fevereiro de 2006

TERRA DA FARINHA

Voltei hoje da feira de Cruzeiro do Sul. Trouxe feijão mudubim, feijão peruano, meio paneiro de farinha de macaxeira e outro tanto de farinha de tapioca, biscoito de goma e um moi de tabaco negro do Juruá.

A cidade continua isolada do mundo. Uma maçã custa R$ 1,00. O quilo de tomate R$ 7,00, a batata portuguesa idem. Um quilo de comida num self-service da vida, R$ 22,00.

O acesso à internet é discado ou via rádio com muita precariedade ao preço de R$ 4,00 a hora. A população se divide entre os desempregados e os funcionários públicos ou, ainda, entre a maioria pobre e a minoria rica.

Cruzeiro do Sul não se explica. Não há quem possa entender como aquela legião de pobres, desempregados e funcionários públicos tenha tanto dinheiro para movimentar a ostentação de seus barões, donos de mansões bregas, barcos, postos de gasolina, fazendas, máquinas pesadas, aviões, carros de luxo etc.

O país precisa conhecer a proeza dos homens rudes de Cruzeiro do Sul, que figuram entre os mais ricos da região. Instituições como a Fundação Getúlio Vargas e o Sebrae deveriam estudá-los e dar conhecimento ao país da facilidade com que os empresários daquela pacata cidade a transformaram numa verdadeira escola de empreendedorismo.

Um dos homens mais ricos do Acre atualmente, há pouco mais de 10 anos era empregado como atendente de balcão. Agora é dono de postos de gasolina, lojas e dos melhores imóveis e gera empregos. Na cidade existe sempre alguém sonhando em ser laranja de alguém.

Na terça-feira da semana passada, a fiscalização da Receita Federal no aeroporto de Rio Branco deteve a bagagem de várias pessoas que iam participar de um seminário sobre biodiversidade em Cruzeiro do Sul. A companhia aérea Rico não esperou o término da fiscalização.

O avião decolou com o grupo de passageiros, mas sem a bagagem, que só foi entregue no final da tarde de sexta-feira. Fizeram isso como se a cocaína saísse de Rio Branco para Cruzeiro do Sul e não de Cruzeiro do Sul para o resto do país.

Até um marceneiro e um artista plástico outro dia quase se enrolaram. Um enviou uma mesa recheada de cocaína e o outro a recebeu em Manaus. Noutro caso, uma companhia aérea demitiu no ano passado um carregador de cargas que de repente comprou à vista um caminhão novinho em folha.

Estava ainda em Cruzeiro do Sul quando recebi a seguinte mensagem do paleontólogo Alceu Ranzi, que participava da Expedição à Foz do Breu:

"Caro Altino:

Chegamos hoje de volta à Thaumaturgo. Ontem estivemos em Foz do Breu e Tipisca (Peru). Em Tipisca, o prefeito é um índio da etnia jamináua.

Estou levando, para sua apreciação, um "moi" de tabaco de S.João do Breu e ainda, para pitar, dois cachimbos do feitio dos ashaninka do Rio Amonia. Os cachimbos são feitos de cocão e as piteiras são de osso de macaco prego. Espero que possamos inaugurar os cachimbos e soltar umas boas baforadas, pois o "moi" de tabaco deve dar umas seis libras. Um abraço."

Vou chamar o Toinho Alves para apreciarmos com o Alceu Ranzi o tabaco negro de S. João do Breu e os cachimbos com piteira de osso de macaco. E vou aproveitar para contar o que não convém contar agora aqui.

Um comentário:

Anônimo disse...

É altino!! Entre tantos mistérios que a Floresta Amazônica nos apresenta, esse talvez seja um de seus mais intrigantes. Fazer o que!! Isso é Brasil.