terça-feira, 10 de janeiro de 2006

JOÃO DONATO

Por João M. Prado

Quem é fã do compositor e pianista brasileiro João Donato terá neste ano motivos de sobra para comemorar. Em 2006, o músico pretende lançar vários discos (como afirmou em depoimento à revista Bravo deste mês): um dedicado ao repertório cubano, outro chamado An evening with Bud and Donato, com o saxofonista americano Bud Shank, e mais João e Maria, com a dupla Edson e Titã, além de um novo trabalho com a cantora Marisa Monte e por fim um disco com Carlinhos Brown. Ufa!

Aos 71 anos de idade, Donato, que já sofreu um ataque cardíaco, parece sempre estar pronto para recriar sua carreira. O músico assume cada vez mais sua aproximação com o pop, compondo com artistas diversos como Dorival Caymmi a Marcelo D2, passando por Gal, Gil, Caetano, Milton Nascimento, Ângela Rô Ro e até Cazuza.

Tamanha é a admiração de outros artistas para com o talento do compositor no piano, que elogios não faltam, tais como a declaração polêmica de Nana Caymmi : “Ele está junto de Miles Davis e Johnny Mandel. É melhor que o Tom (Tom Jobim), que não inventou nada”. Outro também que compara Donato a gênios da música é o produtor e crítico musical, Zuza Homem de Mello: “É um dos maiores estilistas da música brasileira. Não é sinuoso, é objetivo, impressiona pela aparente simplicidade. Eu faço um paralelo com Thelonius Monk.”

Nascido no Acre, em 17/08/1934, ainda criança João Donato ganhou um acordeom e com apenas 11 anos conseguiu se transferir com a fama adquirida para o Rio de Janeiro. Poucos anos depois, já era um músico profissional apresentando-se no Sinatra-Farney Fan Club e em algumas jam sessions na casa de Dick Farney. Foi nesses espetáculos que ele acabou conhecendo Tom Jobim, João Gilberto, Vinícius de Moraes e toda a turma que formaria a bossa nova.

Em 1959, foi morar no México e de lá seguiu para os Estados Unidos, onde morou durante três anos e atuou com vários grupos cubanos, entre eles Mongo Santa Maria e Tito Puente, Cal Tjader e Johnny Martinez. Em 62, João volta para o Brasil depois de uma excursão pela Europa, onde grava Muito à Vontade (1962). Retorna aos Estados Unidos e vive lá por mais 10 anos, tendo gravado com o saxofonista Bud Shank e um de seus mais clássicos discos, A bad Donato (1970), com a participação do contrabaixista Ron Carter.

Entre 1976 e 1995, Donato lança apenas um disco: o instrumental Leilíadas (1986), em que não se deu nem ao trabalho de batizar as canções. Foi um período difícil na carreira do compositor, que entrou num período de ostracismo, sobrevivendo de arranjos, trabalhos por encomenda e sem paixão artística para compor: “Era uma síndrome repetitiva. Eu não era procurado pelas gravadoras e também não procurava por eles”, lembra o pianista.

Depois de idas e vindas, Donato voltou a gravar alguns álbuns, entre eles So danço Samba (1999), Remando na Raia e o último New sound of Brazil: Piano Sound of João Donato (2003). Agora, passado o segundo período de ostracismo, parece que 2006 será o ano dele. A música brasileira agradece!

Nota: O artigo foi publicado no site da Rádio Antena 1. E vamos esperar a cópia da entrevista do João Donato à revista Bravo!, prometida ao blog pela jornalista Ivone Belém, mulher do músico.

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