segunda-feira, 21 de novembro de 2005

DEMOCRATIZAR A COMUNICAÇÃO


Por Lígia Kloster Apel

Caros novos amigos e novas amigas, é com alegria e uma certa apreensão que escrevo para o Blog do Altino. Em primeiro lugar, é claro, preciso me apresentar.

Sou Lígia Kloster Apel, trabalho com comunicação e estou chegando em Rio Branco. Já andei por alguns interiores desse nosso Brasil buscando, assim como muitos bons brasileiros, um lugar ao sol - coisa que não é tão fácil num país onde seu povo e suas riquezas estão à mercê de monopólios, oligopólios, cartéis e indústrias culturais. Mas já disse e repito: sou boa brasileira e não desisto nunca (fazendo menção a um dos poucos jargões governamentais que concordo, extraído aliás, do próprio povo brasileiro).

Chegando em Rio Branco, mais uma vez eu comprovo que o Brasil é o melhor país pra se viver. Sua riqueza natural e cultural é única em toda sua inerente diversidade. Ô terra linda, ô gente bacana! Cheguei aqui e aqui fui recebida com carinho, com respeito, de braços abertos por tanta gente, o que é muito fácil num país de povo acolhedor e amigo, digno e lutador, empático por excelência.

Assim fui recebida por tantos. E também por Altino e alguns de seus amigos. Obrigada a todos vocês, e em especial a você Altino, que proporcionou a ampliação da minha roda de amigos. Sinto-me em casa e, saibam, retribuirei a empatia de vocês, aprendendo e contribuindo em tudo o que estiver ao meu alcance com a construção da florestania no Acre.

E falando em solidariedade, quero aproveitar a oportunidade e me solidarizar com Diogo Soares, Kilriu Farias e Saulinho Machado na indignação que sentiram com a entrevista que concederam ao apresentador da TV Rio Branco, Jorge Said, cuja conduta assumida na ocasião está relatada em "Mediocridade na TV", publicada neste blog.

Infelizmente, vi desses prestadores de desserviço em muitos lugares por onde andei. Dá dó. São meros fantoches nas mãos daqueles que detém o monopólio da mídia. E pior: se contentam com isso. Acho que pior ainda: armam-se contra qualquer menção à possibilidade de democratização da comunicação.

E isso é de indignar mesmo. Enquanto milhares de rádios comunitárias Brasil afora são fechadas violentamente só porque querem uma licencinha para operar com 25 quilos de potência e poder falar com seus amigos, em sua própria comunidade, mostrando a sua arte, a sua vida, veículos elefantes-brancos operam com o máximo de potência para escoar esse tipo de postura pelas nossas casas.

Diogo, Kilriu, Saulinho e todas as pessoas livres, criadoras e sensíveis que modelam o belo e exaltam o sublime, não precisamos desses espaços de divulgação para nossos trabalhos. Temos inúmeras formas de mostrar ao mundo o que fazemos. As pessoas têm critérios refinados para valorizar e/ou repudiar. O banal, por mais que a indústria cultural insista em disseminar, é efêmero.

Enquanto que nós, cultura legítima que recria sua poesia do âmago, do útero, do centro, da essência, somos imortais. Nosso espaço nas sociedades, e nos indivíduos que compõem essas sociedades, nunca nos será tirado, nunca seremos substituídos nas mentes e nos corações.

Cantamos o mistério da vida e ele, como já dizia Einstein, me causa a mais forte emoção. É o sentimento que suscita a beleza e a verdade, cria a arte e a ciência. Se alguém não conhece esta sensação e não pode mais experimentar espanto ou surpresa, já é um morto-vivo e seus olhos estão cegos.

Tenho uma certeza: democratizando a comunicação teremos mais e mais forças para que mais e mais pessoas cantem os mistérios da vida.

Um forte abraço a todos e, mais uma vez, obrigada pela acolhida.

Nota do blog: Foi meu amigo André Mugiatti, jornalista que assessora o Greenpeace na Amazônia, quem fez a ponte deste blog com
Lígia Kloster Apel, assinalando sua vasta competência profissional em comunicação comunitária. Lígia é curitibana formada em comunicação social, habilitação em rádio e TV. De sua experiência profissional, destaco a Rede de Repórteres Comunitários do Instituto IARA, a Rede de Repórteres Educativos do Projeto Rádio pela Educação, além da Estação Digital Muiraquitã - respeitado projeto de inclusão digital em Santarém (PA), que envolve, entre outros, o Grupo de Defesa da Amazônia e o Centro de Apoio a Projetos e Ação Comunitária. Há três meses no Acre, Lígia já enviou, como correspondente da Rede Cyberela, boas reportagens sonoras sobre meio-ambiente, que podem ser acessadas no site Rádio Fala Mulher. E quem quiser saber mais a respeito dela, vá ao Google. Seja bem-vinda, Lígia.

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