domingo, 23 de outubro de 2005

LIÇÃO DE ÍNDIO



Por Joaquim Tashka Yawanawá

Olá Altino e seus leitores do blog mais quente do Acre, que nessas últimas semanas acabou virando um ringue onde foram lavadas as roupas sujas do indigenismo acreano.


Bom, minha ultima mensagem pro blog foi enviada no apertado da hora, durante a chamada final do embarque em São Paulo rumo à terra do Tio Sam.

Agora escrevo, com mais tranquilidade, pois já estou de volta à nossa terrinha acreana. Quanta saudade da nossa farinha, da carne, do feijão e do arroz. Lar, doce lar.

Agora, voando alto e deixando essa política indígena local, caçando longe para trazer frutos para o povo Yawanawa, conto a vocês o seguinte: voltei neste domingo dos Estados Unidos, onde fui participar de um congresso organizado pela empresa Aveda Corporation, com quem o povo yawanawá mantêm uma parceira de trabalho há 13 anos. Nós fornecemos matéria-prima [urucum] para produtos da empresa vendidos em escala mundial.

Os congressos da Aveda acontecem para lançamento de novos produtos no mercado. São um verdadeiro show de bola, com várias atrações: desfile, curso de maquiagem e corte de cabelo, além de palestras sobre os projetos sociais que ela apoia no mundo todo.

Com Aveda estou mudando a minha visão sobre as grandes companhias americanas. Para mim as grandes companhias sempre representaram a destruição do meio ambiente e a invasão dos territórios indígenas, mas com a Aveda estou aprendendo que é possível desenvolver produtos sem destruir o meio ambiente e as culturas dos povos indígenas.

É possível devolver à Mãe Terra o que tiramos dela para nos alimentar fortalecendo as culturas indígenas, para podermos trabalhar numa relação justa para todos.

Muito parecida com a visão do Governo da Floresta, que tem como projeto principal o desenvolvimento sustentável no Acre. Que bom saber que iniciativas parecidas estão sendo desenvolvidas localmente e no hemisférico sul também.

Volto contente depois de uma semana de várias reuniões, negociação de projetos do povo yawanawa. Estamos seguros de que poderemos continuar contando com o apoio da Aveda, que tem sido uma forte aliada do nosso povo.

In
Peace


Nota do blog: A Aveda tem estabelecido desde 1993 alianças comerciais com povos tradicionais que cultivam ingredientes para seus produtos. Essas associações ajudam as comunidades locais a elaborar modelos de desenvolvimento ambientalmente sustentado, a preservar sua cultura e proteger os hábitats naturais. Um dos grupos é a tribo yawanawá, que fornece um pigmento vegetal natural chamado urucum, usado pela Aveda em lápis de lábios e na linha botânica de shampoos e suavizantes para realce da cor do cabelo. Na foto acima, Joaquim Tashka aparece com o presidente da Aveda, Dominique Conseil; ambos acompanhados das mulheres Mikiko e Laura.

Comentário do antropólogo Terri Vale de Aquino:
"Joaquim Yawanawá, o nosso Tashka, é uma pessoa de grande valor para o Acre, para o seu povo Yawanawá e para o movimento indígena acreano. O que o seu povo vende para a Aveda não é urucum, não é nem a bixina, substância extraída das sementes de urucum, muito utilizada na indústria cosmética. O que ele vende, com a permissão de seu povo, é virtualidade, cultura e imagem. Esse é o produto fino que os povos da floresta devem vender, não é matéria prima, mas festa, pinturas tradicionais, filme, imagem. Essa é grande descoberta. Nada de vender matéria, trabalhar e ser explorado, mas vender espíritos da floresta. O Joaquim tá acima do bem e do mal. E tá dando um exemplo a todos nós que trabalhamos com os povos indígenas acreanos. É isso aí, Tashkã. Viva a Rainha da Floresta, que guia os nossos passos por esse cantos da Amazônia mais ocidental, onde vivemos. Benvindo, Joaquim! O Acre não é meu, mas a boca é. Txai"

2 comentários:

Anônimo disse...

Ola Amigo Altino

Anônimo disse...

Joaquim Yawanawá, o nosso Tashka, é uma pessoa de grande valor para o Acre, para o seu povo Yawanawá e para o movimento indígena acreano. O que o seu povo vende para a Aveda não é urucum, não é nem a bixina, substância extraída das sementes de urucum, muito utilizada na indústria cosmética. O que ele vende, com a permissão de seu povo, é virtualidade, cultura e imagem. Esse é o produto fino que os povos da floresta devem vender, não é matéria prima, mas festa, pinturas tradicionais, filme, imagem. Essa é grande descoberta. Nada de vender matéria, trabalhar e ser explorado, mas vender espíritos da floresta. O Joaquim tá acima do bem e do mal. E tá dando um exemplo a todos nós que trabalhamos com os povos indígenas acreanos. É isso aí, Tashkã. Viva a Rainha da Floresta, que guia os nossos passos por esse cantos da Amazônia mais ocidental, onde vivemos. Benvindo, Joaquim! O Acre não é meu, mas a boca é. Txai