quinta-feira, 22 de setembro de 2005

É PRECISO MAIS INDIGNAÇÃO

Fábio Vaz de Lima

A realidade está realmente feia com tanto fogo e fumaça na Amazônia, especialmente no Acre. Além da tragédia, o que me deixa triste são as autoridades do setor, ou que compreendem o problema, perderem a oportunidade de usar o susto com a fumaça para que seja estimulado o grau de consciência da sociedade sobre a fragilidade de nosso ecossistema.

A indignação atual deve-se ao excesso de fumaça, correto? A fumaça ocorre, é claro, por causa de fogo. Mas fogo tem todo ano, um pouco mais ou um pouco menos. A gravidade deste ano se deve, principalmente, aos fatores climáticos, de alcance global.

Parece que há mais de 60 anos não ocorre uma seca como esta na Amazônia. Toda a matéria orgânica se transformou em potencial combustível. Temos sido informados pela mídia da ocorrência de incêndios em Portugal, Espanha, Canadá e Austrália. Este é o fator global, mas temos o nosso fator local. Na verdade a soma de fatores locais podem estar gerando o global.

Do ponto de vista local, a vulnerabilidade de hoje, das nossas florestas, ocorre pelos maus tratos que fizemos em anos anteriores e neste ano, é claro. Mas o estrago deste ano é muito menor. Pasmem! Houve até regressão na Amazônia.

É aqui reside a falta de oportunidade dos gestores em dialogar com a sociedade, principalmente com o setor produtivo rural. Em vez de discutirem de onde vem a fumaça ou de tentarem minimizar as responsabilidades, deveriam ampliar a preocupação da sociedade com as queimadas e desmatamentos.

Deveriam tentar aumentar o capital político para medidas cada vez mais firmes de controle e fiscalização, principalmente de uso diferente do nosso ambiente. Deveriam estar mostrando de modo permanente o prejuízo econômico para a sociedade e até mesmo para o setor produtivo do uso de queimadas. E também deveriam apresentar outras formas de produção capazes de gerar riqueza com nível menor de agressão ao ambiente. Não é fácil, mas é o caminho.

É claro que deve haver, de imediato, medidas emergências de combate ao fogo. Mas aproveitar o momento para cunhar este assunto de vez no calendário institucional e da sociedade acreana deveria fazer parte do empenho dos envolvidos.

Neste momento de crise todos pedem medidas duras. Caso o uso do fogo e do desmatamento fossem proibidos por dois anos mesmo assim o problema não seria resolvido de vez. Mas essa hipótese não deixa de ser sedutora, principalmente para a gestores públicos. É como na corrupção. Caça-se uns 18 deputados que a pressão diminui.

Mas a verdade é que medidas desta ordem não resolvem. Apenas aliviam a pressão política e a indignação momentânea. Depois que chover e tudo ficar verdinho, sem fumaça, todos estaremos mais felizes, mas a destruição das florestas continuará acontecendo sem a nossa indignação.

O desmatamento está proibido em 80% das propriedades em toda Amazônia. O fogo é proibido por alguns períodos em diversos lugares. No entanto, a obediência e a fiscalização são e serão sempre muito baixa.

Sem uma "adesão cidadã" do setor produtivo e sem uma pressão da sociedade para que este caminho venha a ser assumido, estaremos a cada tempo assustados com a destruição do meio ambiente.

Precisamos aproveitar o momento para que a indignação seja permanente contra qualquer agressão ao ambiente. Temos que transformar um número maior de pessoas em fiscais, como você costuma agir, ou como fez a jornalista Alcinete Damasceno, que flagrou o caminhão carregada com madeira, cuja foto foi publicada em seu blog.

Nota do blogueiro: Fábio Vaz de Lima é chefe de gabinete do senador Sibá Machado (PT). Embora possa parecer inadequada a referência, é casado com a ministra do Meio Ambiente Marina Silva.

2 comentários:

Anônimo disse...

Altino, vc já viu as bolas de alguma freira? rssss... eu acho que o Vaz já viu...rssss vê lá:
http://www.noticiasdahora.com/noticias.asp?n=1415&t=3

Anônimo disse...

vergonha...