terça-feira, 20 de setembro de 2005
DIÁRIO DE BORDO
Rio Branco às 13h22, após sensível melhora da qualidade do ar em relação ao começo da manhã. Mas o fogo continua no Acre, Rondônia, Mato Grosso, Pará, Tocantins, Mato Grosso do Sul e Maranhão.
Bem, existem pessoas influentes que lêem esse modesto blog, dentro e fora do país, como o jornalista Lorenzo Aldé, editor do site O Eco de quem recebi a seguinte mensagem:
"Altino e Neirton,
Não sei se vocês se conhecem, mas deveriam se conhecer. São ambos militantes ambientalistas abismados com o fogo que devora o Acre. Altino traz fotos e texto sobre isso em seu blog. Neirton enviou a carta abaixo para O Eco.
Coloco os dois em contato porque acho que as pessoas daí, indignadas com a impossibilidade de respirar, precisam se juntar e fazer barulho. Daqui de longe, acompanhamos aflitos.
Altino, pensei em encomendar uma matéria pra você sobre as queimadas, os terríveis efeitos para a saúde (que o Neirton relata) e as providências (ou ausência de) que as autoridades tomam a respeito.
O que o Ibama, o MP e o Governo do Estado têm a dizer sobre isso? Alguém é punido, multado, preso? Quer escrever sobre o quadro tétrico para O Eco? Acho que o Neirton é bom personagem para esta reportagem.
Abraços aos dois,
Lorenzo Aldé
O Eco
Ei aqui a mensagem enviada por Neirton ao jornalista Lorenzo Aldé:
"Estou em Rio Branco ha 20 dias. Nunca pensei que veria um espetáculo tão deprimente e preocupante como o que vem ocorrendo no Estado do Acre e, também, em outros Estados da Amazônia.
A população já não suporta as conseqüências. Asfixiados pela fumaça das queimadas adultos e crianças estão prestes a sucumbir com se fossem prisioneiros dos campos de concentração nazistas, ao serem executados nas câmaras de gás.
Os hospitais e postos de saúde lotados, as escolas vasias, a falta d'agua, a seca, os rios completamente poluidos e vazios em suas calhas, aeroportos fechados para pouso e decolagem, constituem estado de calamidade publica sem que as autoridades possam dar cabo das práticas predatórias levadas a efeito em nome do desenvolvimento.
Os Ministérios Publicos, Federal e Estadual, tomam medidas judiciais, mas as determinações emadas pelo judiciário não são cumpridas nem mesmo pelo Estado. Todos ignoram os mais elementares princípios de respeito ao meio ambiente e a conservação da naturesa.
Já se registram as primeiras vítimas entre as crianças. As gestantes correm o risco de trazerem à luz filhos com sérios problemas congênitos originados pelo meio ambiente predominante, o qual patenteia um quadro de completa degeneração, física e mental, nos indivíduos do porvir.
Até quando haveremos de conviver com tudo isto? Será que não existem meios de coibir tais práticas? Será que o desenvolvimento sustentável é só uma falácia? Ou será que o caminho mais conveniente seria a internacionalização da Amazônia?
Sou um defensor convicto e ferrenho de nosso território pátrio. Me dedico ha mais de trinta anos às causas Amazônicas, mas diante dos acontecimentos com os quais me deparo questiono a mim mesmo, será que vale a pena lutar por uma causa sem bandeira e por um território habitado por seres inconsientes e inconseqüentes?
Em mim mesmo não encontro resposta! Por isto seguirei na luta, mesmo me sentindo isolado e desolado, lutarei para salvar, senão Amazônia, haverei de salvar alguns hectares de florestas que servirão não apenas para demonstrar o que foi esta região, mas para testemunhar que existiram pessoas e organizações que deram tudo de sí para cumprir este objetivo".
Neirton Silvano
Instituidor do Condomínio FSCA (Florestas Sustentáveis Condominiais da Amônia)
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