quarta-feira, 21 de setembro de 2005

É ASSIM QUE VEJO


Esse é o horizonte que diviso da janela de minha casa, ao acordar, aqui na Área de Proteção Ambiental Raimundo Irineu Serra, a oito quilômetros do centro de Rio Branco. A nuvem de fumaça que tomou conta do Acre está mais densa hoje.

Finalmente o governador Jorge Viana vai decretar situação de emergência no Acre. Demorou demais, pois se era pra se valer desse expediente burocrático, atingimos um estágio para o qual o ideal seria decretar estado de calamidade pública.

Em março de 1987 eu trabalhava como correspondente da Folha de S. Paulo, em Manaus, quando certa manhã uma fonte de Boa Vista avisou que as áreas de florestas e savanas de Roraima estavam sendo consumidas por um megaincêndio e que a terra ianomami estava ameaçada.

Escrevi a primeira reportagem a partir de Manaus e no mesmo dia a Folha me mandou pra Boa Vista. O caso virou um escândalo internacional e passei mais de um mês acompanhando o drama.

Pelo que vi lá e agora aqui, posso assegurar que o megaincêndio no Acre (e certamente no outros Estados do chamado Arco do Desmatamento) é muito mais grave do que aquele em Roraima.

Mandei ontem uma mensagem para o e-mail do jornalista Otávio Frias Filho, diretor de redação da Folha, para lembrá-lo que estamos enfrentando uma tragédia ambiental tão grave quanto a de Roraima.


O jornal mais importante do país finalmente trouxe hoje a reportagem "Queimadas encobrem Acre de fumaça", assinada por Sílvia Freire. Ainda é um registro pífio da suposta grande imprensa sobre uma catástrofe na Amazônia.


Párem de falar em Katrina ou no incendiozinho nos jardins em Brasília. Ou vão esperar para correr atrás de nossa fumaçã depois que Larry Rohter conseguir manchetá-la no New York Times? Assim foi com o assassinato de Chico Mendes.

A imprensa brasileira está convidada a conferir o drama. Não sei como os repórteres vão chegar, pois o aeroporto da cidade permanece fechado.

Estou sentindo dores de cabeça desde ontem e com essa janela aberta, a fumaça invadiu minha casa e comecei a sentir ânsia de vômito. Inté mais ver.

4 comentários:

Anônimo disse...

Qué sabê Altino??? No meu entender a peia ainda tá pequena. Tem gente por aí que ainda não baixou a crista como deveria.Enquanto isso não ancontecer...dá-lhe fumaça!!! Marisa

Anônimo disse...

Altino Machado, fui hoje de manhã aqui bem próximo de casa, na cabeceira da terceira ponte, e não dava sequer pra ver a Casa do Índio que fica a cerca de 200 metros do local. Da estrada da floresta não se vê mais a cidade. A cidade sumiu. Parece título de comédia, mas é gravíssima a situação. Preciso trabalhar, mas meus olhos estão ardendo, além das narinas, da garganta e de dores nas costas. Gostaria de aproveitar o seu blog para responsabilizar o poder público por qualquer problema de saúde causado por essa fumaça à mim e à todos daqui de casa. Minha filha mais nova tem apenas 7 meses e temo pela vida dela. Que Deus nos abençõe.

Anônimo disse...

Caro,
acabo de voltar da Terra do Meio. Lá a situação não estava tão calamitosa quanto aí, mas nem por isso menos assustadora. Comentei com um caboclo: "Quanta fumaça! Isso tudo é de queimada?" "Nada, moça. Isso não é queimada..." "Não?! Mas então o qu.." "Queimada, moça, é quando a gente não enxerga do outro lado da rua."
A falta de percepção do caboclo da gravidade da situação é a mesma que acomete diretores de redação: afinal, "todo ano é a mesma coisa", certo?

Anônimo disse...

Isso mesmo Altino, intime a "suposta grande imprensa nacional". Revele o quanto a sociedade brasileira valoriza a Amazônia. Queremos ver as manchetes na primeira página ao lado dos dados ufanistas do agrobusiness!