terça-feira, 1 de fevereiro de 2005

O FAZENDEIRO E A VACA

Tive o desprazer de ler pela primeira vez, logo após o almoço, a mensagem daquele adesivo indigesto que a fazendeirada do Acre tem distribuído fartamente nos dias do Governo da Floresta.

Estava pespegado no vidro traseiro de um fusca velho. Lamento porque não portava uma máquina para fotografá-lo e usar a imagem aqui como "prova do crime".

Mas a mensagem do adesivo, que é grosseira e causa enjôo, é a seguinte:

- Já comeu hoje? Agradeça a um fazendeiro.

Caramba! Quando lí, não me contive e rebati no mesmo tom:

- Não comeu hoje? Mate um fazendeiro.

Um amigo que me acompanhava aproveitou para me repreender com o argumento de que deveríamos ser amorosos e agentes da não-violência. E sugeriu a reação:

- Não comeu hoje? Coma a filha de um fazendeiro.

Como se não bastasse, acabo de ler, em destaque no site do jornal O Estado do Acre, a notícia de que uma vaca teria invadido o quintal da casa onde viveu o líder sindical e ecologista Chico Mendes, que foi assassinado pelos fazendeiros em dezembro de 1988.

A vaca teria deixado turistas americanos e brasileiros em pânico. Citando testemunhas, o site relata com exagero que “as pessoas ficaram sitiadas dentro da casa enquanto a polícia era chamada para prender o animal”.

Geralmente quem fica sitiado está cercado ou assediado por tropas militares. Mas, no Acre, quem sitia turistas é vaca.

“Até agora não se sabe quem é proprietário do animal, que foi recolhido pela polícia e levado para um pasto próximo”, conclui o relato do jornal.

Telefonei para meu amigo e contei o ocorrido em Xapuri. Ele me bombardeou de perguntas como se fosse editor:

- Qual era o nome da vaca? A imprensa está investigando melhor isso? É verdade que aonde a vaca vai o boi vai atrás? Não chegou nenhum boi atrás da vaca? A vaca era subversiva? Se o povo resolver comer a vaca será acusado de ecologista pelos fazendeiros?

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