sexta-feira, 29 de outubro de 2004

CENSURA EM DEBATE

Existe no cosmo um ser cujo pseudônimo é Astronauta de Mármore que, quando baixa à terra, atualiza o blog Caverna da Lua de Saturno.

A última proeza do Astronauta de Mármore foi reservar espaços para quem queira falar bem ou mal do governador Jorge Viana. Pincei de lá, o bom debate que se estabeleceu entre os jornalistas Antonio Alves e Angélica Paiva sobre liberdade de imprensa no Acre.

Como a Angélica é uma cinqüentona, que costuma escrever nos blgs como se fosse adolescente em sala de bate-papo, tive que “pentear” os textos dela para conforto dos leitores daqui.

Eis o debate:

Angélica Paiva - Se é para destacar um item, lá vai: a censura chegou a tal ponto que os jornalistas convocaram uma assembléia no sábado para debater a questão. O governo porém inoculou seus vírus por lá. Gente que foi para defender o governo e, invertendo as posições, transformou os jornalistas de vítimas da censura em algozes. Uma proposta sem-vergonha de convidar o Secretário de Comunicação Aníbal Diniz para a próxima assembléia, que será realizada em 15 dias, foi aprovada com o voto vencido da TV Gazeta. A proposta aprovada prevê que os jornalistas peçam ao Anibal Diniz, que ele, em sua infinita bondade e poder, conceda a possibilidade de dar um espaço mesmo que pequenininho à oposição. Ou seja: os jornalistas do Acre vão pedir ao Secretário de Comunicação do Governo da Floresta o direito de fazer o trabalho direito, porque, afinal, ouvir os dois lados é o básico. Frente a uma situação dessas, não tem como não concordar com o Toinho Alves: a imprensa do Acre é uma merda! Não sabe de lei. Por exemplo, que rádios e TVs abertas são concessões públicas e não podem estar sujeitas a vontades, mas têm que cumprir uma função social. Não entendem de política, afinal democracia é o mais moderno desenvolvimento sustentável, que não é só reflorestar e ter cuidado na hora de cortar, mas prevêem a liberdade de expressão como condição sine qua non para existir. Não entendem de história. Tudo o que diziam era: vamos fazer dentro da ordem. Sem saber o que defendem com o "dentro da ordem" - descartando-se aqui a corrente positivista, ainda temos a proximidade com a ditadura militar, que também fazia tudo em nome da ordem, e quem não seguisse essa "ordem" era subversivo! E finalmente vão pedir ao Secretário de Comunicação menos censura! Dando à função exercida para assessor, poderes que não possui. Estou envergonhada! Quando a presepada começou, fui embora, enojada. Agora,longe do calor da coisa, analiso da seguinte forma: os vírus do governo deram um tiro no pé ao forçar o convite ao Secretário de Comunicação. Se ele for, vai assumir que a censura, que eles sempre negam, existe. E,se não for, coloca em maus lençóis as pessoas que foram para a assembléia do Sindicato dos Jornalistas defender o governo. Só resta a pergunta: E agora, José, digo, Aníbal?

Antonio Alves - Já que fui citado, vou responder com uma notinha que escrevi em novembro de 95 (governo Cameli, lembram?) no Página 20, intitulada PROTESTO: “Jornalistas farão protesto nesta segunda-feira, em frente ao palácio do governo, contra as ameaças de morte, as agressões e a censura que vem sofrendo. Muito justo. Mas ainda acho que o melhor protesto seria, simplesmente, recusar-se a escrever mentiras. Questionar os entrevistados ao invés de fazer perguntinhas fáceis para ‘levantar a bola’. Deixar de elogiar os que não podem criticar. Investigar e redigir as denúncias. Ouvir sempre o outro lado. Escrever a verdade. Se os patrões quiserem publicar, que publiquem. Se não quiserem, que contratem um capacho qualquer para fazer o serviço. Se não posso viver com dignidade na minha profissão, então mudo de profissão”. Quanto ao governo, Astro, falarei mal quando lembrar de algo para falar bem e vice-versa.

Angélica Paiva - Toinho a discussão é mais profunda que o simples mal-estar da categoria e o "jeito" de sair dele, mudando de emprego. O que está em discussão é a liberdade de expressão como um dos princípios basilares da democracia. Nunca é demais lembrar o velho Voltaire: "Não concordo com nada do q você diz, mas defendo até a morte o seu direito de dizer".

Antonio Alves - É verdade, Angel, mas primeiro eu tenho que defender "até à morte" o meu próprio direito de dizer. Se eu baixo a cabeça e digo sim ao patrão e ao censor, vou esperar que o sindicato, a categoria, o partido, o sei-lá-o-quê me defenda? Só que tem uma coisa: pra defender qualquer coisa "até à morte", é necessário considerá-la mais importante que a própria vida. Mas a maioria acha que o salário, mesmo pequeno, é mais importante que a liberdade.

Angélica Paiva - Toinho, concordo com você, mas insisto: o foco não é esse. A discussão é sobre a censura exercida pelo Governo do Estado, que é ilegal e imoral. Na minha opinião, a reação ou falta de por parte de jornalistas é fator secundário. E se ater a esse detalhe é manter a discussão na superfície. Existe uma ilegalidade,uma afronta à democracia.E é praticada oficialmente pelo governo e em nome do governo. Este é o foco!

Antonio Alves - Angel, o governo não "exerce censura", ele simplesmente edita os jornais dos quais ele é uma espécie de arrendatário, quase dono. O que o governo poderia (e na minha opinião, deveria) fazer é simplesmente deixar de ser dono e passar a ser cliente, simples anunciante. Nesse caso ele teria o direito de "editar" apenas o anúncio pelo qual pagou. E não daria ordens, nem sequer palpites, sobre reportagens ou linha editorial. Mas aí os patrões (donos legais) deixariam de ganhar uma boa grana. O jogo da chantagem é conveniente para ambos. Só os jornalistas poderiam desatar esse nó, se tivessem vontade e coragem. Mas aí estariam arriscando seus empregos. Então, a única atitude possível é essa que você critica, com toda razão: "pedir" liberdade de expressão. É tudo tão patético!



Um comentário:

Anônimo disse...

Perdoe-me pela ignorância, já que, não sou repórter e não tenho o poder da fala e da escrita, como o admirável Toinho Alves, e pelo fato de não poder opinar pela enquete deste blog, mas me sinto na obrigação de poder (se Altino permitir) mostrar minha insastifação que "o dono da borracha" exerce sobre os "seringueiros".Não sei porque Toinho não respondeu minha resposta ao seu blog.
Uma pena que, artistas como: Maestro Sandoval, Maestro Bararú, Pia Villa, Tião Natureza, Nilton Bararú, Narciso Augusto, João Veras, Eloi de Castro, Ivan de Castela, Verônica Padrão e tantos outros que, mesmo não sendo filho legitimo da terra (mas a amam como se fosse) contribuíram e contribuem com a sua arte para o enriquecimento da cultura Acreana, visto que, tenham seus nomes esquecidos pelas as lideranças do governo. É lastimável. Nada contra, O Senhor Internacional Músico João Donato, que depois de mais ou menos três décadas morando no “exterior”, e que “muito contribuiu para a cultura acreana”, volta ao Acre a pedido do Governo($). Embora o mesmo não sabendo cantarolar o hino de sua "TERRA NATAL" em sua mega apresentação para o povo acreano é literalmente indicado pela liderança PTista, para ter seu nome na escola de arte – USINA DE ARTES – ou seja, “- Novo conceito de sociedade, Florestania com liberdade e aprendizado...”, segundo o nosso vice-governador. Gostaria de saber que liberdade. Onde tudo é imposto pelo o “dono da borracha”. E os “seringueiros?”, tem que ficar calado, SE NÃO...!!!
Esquecem também que a escola de música teve um grande percussor MAESTRO SANDOVAL, e que hoje, no Centro Cultural Tucumã, onde leva uma clientela de não menos 350 alunos das comunidades adjacentes, foi pensada em conjunto em 1996 por uma equipe de alunos (hoje professores) de formação musical da pro-reitoria de comunicação e artes da UFAC, onde tivemos um Professor, filho da terra, formado em música, como ministrante (também esquecido). É... Fico imaginando..., Temos que ir para o primeiro mundo para sermos reconhecidos. “ISSO É UMA VERGONHA!”.
Amigos da Arte...A luta é grande "COMPANEIIRO"