segunda-feira, 27 de outubro de 2008

UM É CEGO E OUTRO NÃO É VERDE

Moisés Diniz

Uma monstruosidade não deixou de ocorrer na Amazônia. Apesar de o Brasil ter sepultado a ditadura militar e de ter arejado as suas relações institucionais, aqui na Amazônia ainda vivemos o jaguncismo das décadas de chumbo. São assassinados, como se mata inseto, lideranças sindicais e religiosas, líderes indígenas, sem-terra, extrativistas.

Todavia, diferente das décadas de chumbo, agora não morrem apenas homens e mulheres pobres. São abatidas como ‘miseráveis’ todas as formas de vida, árvores, rios, igarapés, lagos, pássaros, peixes, insetos, larvas, sementes, raízes. Mas, voltando aos homens.

Homens e mulheres pobres são abatidos como boi pelas forças do jaguncismo e poucos são os responsáveis que vão a julgamento. E, quando são levados às portas dos tribunais, muitos saem rindo da morte que provocaram e da dor dos familiares.

Não incluímos aqui as estatísticas urbanas, os pobres das periferias, os negros, os desempregados, os jovens da miséria social, as prostitutas. Tratamos apenas das mortes brutais contra os homens que vivem nas florestas, nas aldeias indígenas, nas margens de estradas lamacentas e majestosos igarapés.

Apenas para fazer uma lúgubre e mortal ilustração registramos os 5.062 assassinatos ocorridos em Rondônia, entre 1994 a 2004, um dos menores Estados da Amazônia. Uma prova inconteste de que a morte está vencendo a vida na parte mais saudável, vicejante e esperançosa do planeta.

São centenas de homens e mulheres barbarizados, acossados pela morte impiedosa que brota das mãos apodrecidas dos poderosos. Apesar de toda a dor, eles se protegem entre si e quase ninguém vai julgado ou preso. Os lacaios que os protegem estão em todo lugar, nas casas legislativas, nos palácios regionais, nos tribunais, nas redações dos jornais e até em algumas casas de fé. Uma vergonha.

A Amazônia que grita de dor é um palácio verde de riquezas imensuráveis, corresponde a 60% do território brasileiro, um banco biogenético avaliado em mais de 2 milhões de espécies, um quinto da água doce do planeta, 50 bilhões de metros cúbicos de madeira, além do imenso potencial energético e de gigantescas riquezas minerais.

Na Amazônia, a morte não atinge apenas homens e mulheres sem terra, extrativistas, povos indígenas, habitantes originais das margens dos rios milenares. Aqui, como um imenso cemitério verde, estão ceifando a vida de árvores, rios, igarapés, lagos, pássaros, peixes, insetos, larvas, sementes, raízes.

E como se comporta a justiça aqui na Amazônia? Excetuados alguns bravos juízes e promotores, as coortes estendem tapete vermelho para os jagunços bem vestidos, que fumam charuto cubano e usam camionetes de luxo para vistoriar suas terras ilegais.

Milhões de hectares de terra foram privatizados através da mais descarada grilagem para, em seguida, serem devastados em toda a sua riqueza natural. Os criminosos da Amazônia, quase todos soltos e impunes, dariam para congestionar algumas dezenas de Carandiru. Eles enriqueceram da noite para o dia, receberam subsídios públicos e largos financiamentos e abatem quem cruza seu caminho, que é um só, o de acumular riqueza ao custo irreversível da destruição das fontes de vida na terra.

Quem não vive aqui não tem a mínima idéia da impunidade que nos atinge, nos sufoca e nos agride. Muitos magistrados têm verdadeira aversão aos povos mais humildes do sertão amazônico, extrativistas, povos indígenas, lideranças sindicais da luta pela terra e pela vida.

Um rápido olhar pelos tribunais da Amazônia nos desloca para o tempo das capitanias hereditárias. Aqui a morte continua a nos assombrar, a separar pais de suas mulheres e filhos, enquanto a deusa da justiça tem um olho cego e outro que não é verde.

E não é verde porque as sentenças dessa deusa inocentam quem mata irremediavelmente os rios, os pássaros, as larvas, as árvores, os peixes e condenam os inocentes que cuidavam dessas riquezas universais. E se não bastasse matar as formas primitivas de vida arrancam também a seiva vital dos verdadeiros filhos da Amazônia.

Clique aqui para continuar a leitura. Moisés Diniz (PC do B) é deputado estadual, líder do governo na Assembléia Legislativa do Acre.

4 comentários:

Demien disse...

Texto escandaloso e populista.
Feito para agradar as massas que sempre se regozijam com adjetivações a esmo e todo tipo de absurdidades.
Não aponta soluções, não busca o dialogo, relativiza a questão da crimilidade, da miseria e da impunidade como algo caracteristico da Amazonia o que é, é clar,o um absurdo.

o populismo sempre flerta com miseria e se nutre dela.

Demien disse...

Enviei, ontem, um comentario sobre este texto ontem.

Foi censurado? Se sim, Por quê?

Anônimo disse...

Quem não conhece o deputado deve ficar impressionado com seu texto.
Pura retórica.
Seus atos não correspondem com seu discurso.

Anônimo disse...

Quem não conhece o deputado deve ficar impressionado com seu texto.
Pura retórica.
Seus atos não correspondem com seu discurso.