quinta-feira, 19 de janeiro de 2006

ESTRADA DO PACÍFICO

Está cada vez mais próximo o dia em que poderemos transitar por estradas pavimentadas do Atlântico ao Pacífico. A ponte que será inagurada no sábado sobre o rio Acre, ligando os precários portos fluviais brasileiro e peruano, de Assis Brasil e Iñapari, na verdade, faz parte de uma imensa rede de pontes, estradas, portos e outros investimentos de infra-estura, capazes de revolucionar o comércio e o turismo em 12 países da América do Sul.

Ao todo, são 335 projetos que se agrupam em oito áreas de integração, chamados de Pólos de Desenvolvimento. A ponte em Assis Brasil integra a obra de 2.603 quilômetros da rodovia interoceânica, batizada pelos acreanos de Estrada do Pacífico, que ligará definitivamente o Brasil aos portos peruanos de San Juan de Marcona, Matarani e Ilo, no Pacífico.

A Iniciativa de Integração da Infra-estrutura Regional Sul-americana foi proposta originalmente pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. Embora não seja muito conhecida do público, a proposta fundamental do plano é viabilizar a integração dos países do continente.

FHC apresentou o plano durante um encontro de chefes de estado da América do Sul, realizado em Brasilia, em 2000. São projetos prioritários: pontes, estradas, ferrovias, canais e gasodutos. Muitos estão em construção e a maioria deve ser concluída em 2010.

A iniciativa é considerada o plano mais ambicioso de investimentos em infra-estrutura que pretende desenvolver e integrar as áreas de transporte, energia e telecomunicações da América do Sul. A expectativa é de que o plano criará novas oportunidades econômicas, atrairá milhares de turistas e apresentará novos desafios aos ambientalistas que tentam proteger áreas naturais.

O Acre está a 1.470 quilômetros do Pacífico, mais precisamente a 740 quilômetros da cidade andina de Cusco, mas percorrer esta distância é uma verdadeira aventura, sobretudo durante a época das chuvas, quando se torna praticamente impossível transitar por uma estrada de barro muito precária. De Assis Brasil a Cusco, uma viagem de carro nessas condições pode durar mais de uma semana.

O Brasil sempre foi o maior interessado em pavimentar o trecho, tanto que o BNDES emprestou U$ 417 milhões ao Peru para completar o projeto e a Cooperação Andina de Desenvolvimento emprestou outros U$ 300 milhões, sendo a contrapartida do governo peruano de U$ 100 milhões.

A Estrada do Pacífico significará também mudanças no desenvolvimento econômico no interior da Bacia Amazônica, por exemplo, com o transporte de madeira e soja para os países asiáticos. porém, as autoridades envolvidas preferem vender a idéia de que a infra-estrutura servirá mais para estimular o comércio e o turismo entre os países vizinhos.

Alegam que milhares de pessoas ao visitarem anualmente a capital inca de Cusco e as ruínas de Machu Pichu teriam a oportunidade de também conhecer a Amazonia brasileira, a partir do Acre. Por outro lado, os ambientalistas insistem na necessidade de planejamento que contemple a adoção de medidas preventivas.

A Estrada do Pacífico vai expor a região denominada MAP (Madre de Dios, Acre e Pando) a um considerável desenvolvimento e aumentará a pressão sobre recursos naturais, sobretudo a madeira. Vários cientistas e pesquisadores argumentam que isso pode resultar numa pressão irresistível sobre áreas protegidas que abrigam algumas das maiores concentrações de espécies de fauna e flora do planeta.

Embora a Iniciativa de Integração da Infra-estrturua Regional Sul-americana tenha sido proposto por FHC, e agora Lula esteja se beneficiando com a inauguração de uma ponte, o governador Jorge Viana figura como a estrela mais visível das obras entre os três países.

Talvez a Estrada do Pacífico sirva para que os acreanos constatem a inviabilidade de outro sonho: a pavimentação da BR-364 visando interligar os seus municípios. Está cada dia mais evidente a impossibilidade de se construir uma estrada numa região onde, por exemplo, o seixo é importado do Amazonas a um custo altíssimo.

A BR-364 até poderá ser concluída um dia, mas a tendência é o custo de manutenção se tornar insustentável. Um dia, quem sabe, quando diminuir a pressão dos petrodólares, a sociedade passa a considerar a possibilidade de uma ferrovia com todas as vantagens que o projeto encerra.

Um comentário:

Jean Clecio disse...

Altino, parabéns pela excelente matéria. É de lamentar a questão da pavimentação da BR-364. Cabe à população, através das associações, ongs e representantes políticos pressionar para que o Governo elabore estudos de custo/benefícios entre a pavimentação ou a construção de uma ferroria interligando os municípios.