sexta-feira, 16 de novembro de 2007

PEQUENO ABC DO FESTCINE AMAZÔNIA

para salvar a floresta

Thiago de Mello


O que é o meio ambiente?

É simplesmente uma casa.

Só que grande já demais.

Do tamanho do universo.



Dentro dela cabe o mundo,

mundo, mundo, giramundo

e cabe o sonho profundo

de amor, que essa casa tem.



Amor: dar e receber.

Como ela gosta de dar!

Sabe que é sempre a melhor

maneira de receber.

Seu amor é tão bonito!



O seu nome é lindo: TERRA,

Céu e chão da Natureza.

É a Gaia do mito grego.

Já não é mais um segredo

que ela é um ser vivo também.



E vive de inventar vida.

Cada coisa que ela cria

-pode ser nuvem, lajedo,

sumaumeira, vagalume–

é pra dar contentamento

a quem mora dentro dela.



Mora a flor e o beija-flor,

mora o ninho e o passarinho,

a criança e a esperança,

mora o tempo e o passatempo.



Sua invenção poderosa?

O manancial que não cessa.

Sua glória e sua festa

foi ter plantado a Floresta,

coração verde da Casa,

feito de verdes e escamas,

bromélias e matrinchãs,

de várzeas e terras firmes,

de boto de olho na moça

lavando roupa na beira,

de gavião e bem-te-vi,

de terra roxa alagada,

capim azul canarana,

coruja cantando aflita

dizendo adeus pras estrelas,

de caboclo plantador

de maniva pra farinha,

de tudo a floresta faz

um jeito para ensinar

a alegria de viver.



Mas da multidão de seres

que ela inventou, pois um deles

chamado humano, que se fez

das virtude dos seus verdes,

a cobiça converteu

em maldoso desumano

que lhe vem varando os âmagos

com lâmina envenenada

de fogo e de ingratidão.



Eita-ferro! A Natureza

sabe ser mãe, mesmo assim,

queimada e compadecida,

persiste fiel à bondade,

que é seu destino e seu dom.



Floresta, casa da Vida,

minha prenda preferida,

cabocla suburucu,

popa de lancha, bandeira

no vento, turqueza azul.

Senhora sempre menina,

criança que não se cansa

de repartir a esperança.



Como é bom poder cantar!

Firme de voz e de timbre,

celebro este Festival,

que não deixa a Natureza

sair de cena e rebrilha

no milagre do cinema,

pela mão cheia de estrelas

de Fernanda e Jurandir

com o Antonio de permeio,

levados pelo fulgor

deste Porto Velho inteiro.



Assim bem aconchegada

pelo poder que perdura,

a mata te estende a mão.

Por isso cantando vou,

seguindo o rumo da luz

que Mariana me mostrou,

pelo caminho das pedras

que seu Diga abriu, diamante

de grande sabedoria.



Filho da Terra, a Floresta

é a mais luminosa bênção

que a Natureza te deu.

Dos seus troncos malferidos,

quando anoitece, ouve bem,

se ergue um pungente clamor.

Não é canto de guariba,

Nem silvo de curupira.

É a mata pedindo ajuda.



A Floresta é a tua Casa.

Cuida dela com amor.


Porto Velho, 16, novembro, 2007


O poeta Thiago de Mello demorou três dias para concluir o poema acima. Veio retocá-lo agorinha, na sala de imprensa do FestCine Amazônia, não sem antes demonstrar irritação com as pessoas que tentaram puxar papo com ele. "Estou escrevendo um poema e não posso falar com ninguém agora", dizia a quem se aproximava. Acabamos ficando na sala, apenas ele e eu, por mais de uma hora. Sentado numa cadeira atrás da mesa dele, ao concluir seu último poema, disse: "Altino, agora sou eu perturbá-lo. Quero sua ajuda para "salvar como" e imprimir o poema". Atendi ao apelo, claro, e aproveitei para tirar algumas fotos enquanto o instruía ao computador. Quando se ausentou, copiei o poema que será lido hoje, na noite de homenagem do Festicine a Thiago de Mello. E que ele retribuirá com a leitura do "Pequeno ABC do FestCine Amazônia para salvar a floresta". Vocês têm sorte demais. Tanto quanto eu.

2 comentários:

morenocris disse...

Caramba, quanta inveja de você... rsrs

Beijos.

morenocris disse...

Sabes que eu voltei? Fiquei com essa grande casa em minha cabeça. Vou levá-la.

Olhe, sabes ainda porque o teu blog é diferente de todos os outros? Porque tudo é real. Você comprova o que diz.

Parabéns!

Beijos.