Thiago de Mello

O que é o meio ambiente?
É simplesmente uma casa.
Só que grande já demais.
Do tamanho do universo.
Dentro dela cabe o mundo,
mundo, mundo, giramundo
e cabe o sonho profundo
de amor, que essa casa tem.
Amor: dar e receber.
Como ela gosta de dar!
Sabe que é sempre a melhor
maneira de receber.
Seu amor é tão bonito!
O seu nome é lindo: TERRA,
Céu e chão da Natureza.
É a Gaia do mito grego.
Já não é mais um segredo
que ela é um ser vivo também.
E vive de inventar vida.
Cada coisa que ela cria
-pode ser nuvem, lajedo,
sumaumeira, vagalume–
é pra dar contentamento
a quem mora dentro dela.
Mora a flor e o beija-flor,
mora o ninho e o passarinho,
a criança e a esperança,
mora o tempo e o passatempo.
Sua invenção poderosa?
O manancial que não cessa.
Sua glória e sua festa
foi ter plantado a Floresta,
coração verde da Casa,
feito de verdes e escamas,
bromélias e matrinchãs,
de várzeas e terras firmes,
de boto de olho na moça
lavando roupa na beira,
de gavião e bem-te-vi,
de terra roxa alagada,
capim azul canarana,
coruja cantando aflita
dizendo adeus pras estrelas,
de caboclo plantador
de maniva pra farinha,
de tudo a floresta faz
um jeito para ensinar
a alegria de viver.
Mas da multidão de seres
que ela inventou, pois um deles
chamado humano, que se fez
das virtude dos seus verdes,
a cobiça converteu
em maldoso desumano
que lhe vem varando os âmagos
com lâmina envenenada
de fogo e de ingratidão.
Eita-ferro! A Natureza
sabe ser mãe, mesmo assim,
queimada e compadecida,
persiste fiel à bondade,
que é seu destino e seu dom.
Floresta, casa da Vida,
minha prenda preferida,
cabocla suburucu,
popa de lancha, bandeira
no vento, turqueza azul.
Senhora sempre menina,
criança que não se cansa
de repartir a esperança.
Como é bom poder cantar!
Firme de voz e de timbre,
celebro este Festival,
que não deixa a Natureza
sair de cena e rebrilha
no milagre do cinema,
pela mão cheia de estrelas
de Fernanda e Jurandir
com o Antonio de permeio,
levados pelo fulgor
deste Porto Velho inteiro.
Assim bem aconchegada
pelo poder que perdura,
a mata te estende a mão.
Por isso cantando vou,
seguindo o rumo da luz
que Mariana me mostrou,
pelo caminho das pedras
que seu Diga abriu, diamante
de grande sabedoria.
Filho da Terra, a Floresta
é a mais luminosa bênção
que a Natureza te deu.
Dos seus troncos malferidos,
quando anoitece, ouve bem,
se ergue um pungente clamor.
Não é canto de guariba,
Nem silvo de curupira.
É a mata pedindo ajuda.
A Floresta é a tua Casa.
Cuida dela com amor.
Porto Velho, 16, novembro, 2007
◙ O poeta Thiago de Mello demorou três dias para concluir o poema acima. Veio retocá-lo agorinha, na sala de imprensa do FestCine Amazônia, não sem antes demonstrar irritação com as pessoas que tentaram puxar papo com ele. "Estou escrevendo um poema e não posso falar com ninguém agora", dizia a quem se aproximava. Acabamos ficando na sala, apenas ele e eu, por mais de uma hora. Sentado numa cadeira atrás da mesa dele, ao concluir seu último poema, disse: "Altino, agora sou eu perturbá-lo. Quero sua ajuda para "salvar como" e imprimir o poema". Atendi ao apelo, claro, e aproveitei para tirar algumas fotos enquanto o instruía ao computador. Quando se ausentou, copiei o poema que será lido hoje, na noite de homenagem do Festicine a Thiago de Mello. E que ele retribuirá com a leitura do "Pequeno ABC do FestCine Amazônia para salvar a floresta". Vocês têm sorte demais. Tanto quanto eu.
2 comentários:
Caramba, quanta inveja de você... rsrs
Beijos.
Sabes que eu voltei? Fiquei com essa grande casa em minha cabeça. Vou levá-la.
Olhe, sabes ainda porque o teu blog é diferente de todos os outros? Porque tudo é real. Você comprova o que diz.
Parabéns!
Beijos.
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