"Dizem que em algum lugar, parece que no Brasil, existe um homem feliz". A frase é do poeta russo Vladimir Maiakovski. O homem feliz é o analfabeto acreano Chico Abacate, 52, dono de 69 hectares de floresta na BR-317. Há 41 anos, o falecido Aprígio Barros de Mendonça, dono da fazenda que se formou no antigo seringal Bagaço, o presenteou com a área.
Francisco Ximenes de Lima abandonou anos de trabalho no corte da seringa e na lavoura e passou a se dedicar ao reflorestamento da propriedade. Vive com a família do que a floresta produz, sobretudo da venda de abacate, que lhe rendeu o apelido como sobrenome.
A área de Chico Abacate hoje se destaca na paisagem como um verdadeiro oásis em meio aos milhares de hectares de pastos degradados existentes nas duas margens da estrada que liga Rio Branco a Boca do Acre (AM).
Sob a floresta, trilhas completamente limpas, com até três metros de largura, interligam os plantios de diversas espécies típicas da Amazônia. Católico, mas de conduta zen, construiu dentro da mata casinhas coloridas de madeira, que usa para repouso e meditação.
Chico Abacate é considerado um preguiçoso pelos fazendeiros da vizinhança, para quem a existência de uma área de floresta atrapalha o "progresso". Há três anos, um deles mandou a polícia prendê-lo, pois queria se apossar da pequena área do ex-seringueiro e convertê-la em pastagem para o gado. Felizmente a justiça prevaleceu.
- Deus me dá o poder de viver feliz. Estou contribuindo com Deus, com a natureza e com a humanidade. O meu pedacinho de terra é um exemplo para muitos que ainda não entenderam que a natureza precisa ser preservada. Para mim, serve muito mais a floresta do que uma imensa riqueza de gado. Se fosse mais floresta do que boi, todos nós da terra viveria melhor. As crianças e os mais velhos estão morrendo por falta de ar por causa do grande escampamento da terra. A nossa própria vida é a natureza. Nunca tive estudo nenhum e o meu trabalho é pouco. Trabalho pouco, mas vivo tranquilo, esperançoso de ver uma vida melhor um dia.
Desnecessário antecipar mais das lições de um legítimo brasileiro do Acre. O depoimento de Chico Abacate é simplesmente tocante. É uma verdadeira aula de florestania, embora o trabalho dele jamais tenha recebido apoio ou reconhecimento da sociedade ou do poder público. Assista ao vídeo. O que você dirá?
15 comentários:
Isso é um exemplo de vida, de sonho...
A nossa constante busca pela felicidade se resume à plantar abacates... Plante seu abacate. Seja esse seu acabacate um filho, um diploma, um emprego, uma família...
A única coisa que precisamos e começar a plantar os nossos abacates...
Altino, o que dizer diante dessa alma essencial em sua simplicidade?
Não sou religiosa nem mítica, mas para mim, ele representa talvez o que Deus imaginou ao criar o homem e dar a ele este planeta perfeitamente pronto.
Não há reticências, nem arrogâncias que sejam maiores que esse exemplo.
Como viu, os ávidos o chamam de preguiçoso.Porém para os conscientes, ele tem a visão dos anjos que não se tolda com o véu ilusório e maligno da ambição.
Obrigada, Altino por nos apresentar Chico Abacate.
Fiquei pensando agora: todos os Chicos do Acre são assim, anjos?
beijos
"O importante não é o que mundo faz de vôce, mas o que vôce faz com aquilo que o mundo fez de vôce" Jean-Paul Sartre
Essa é a verdadeira "refazenda""abacateiro,acataremos teu ato, nós também somos do mato..." gil. O mundo precisa de muitos chicos
A "florestania" deveria pagar para pessoas como este senhor preservarem a mata, pois essa é a cultura do homem da floresta. Viver dela e nao destruí-la.
Quanta sabedoria,generosidade,educacao ambiental e
sensibilidade concentra esse fantastico ser humano.
Encarna a simplicidade,a verdade cristalina que toca
a todos que se identificam com a sua percepcao pre
servacionista.Revela uma essencia integradora entre
ser humano e natureza,fornecendo exemplo de vida,
que nao tenho medo em afirmar que e um PHD em
ecologia,fornecendo-nos ensinamentos profundos,
aplicaveis e humanitarios.Os Chicos sentem-se honrados
com a sua grandeza.Abracos do Chico Souto
Caro Chico Souto: Terri Vale de Aquino quer seu e-mail. Escreveu dizendo o seguinte:
- Altino, o Chico Souto, é irmão do Sérgio Souto, nosso bom trovador acreano. Por falar nisso, a poesia do Sérgio, publicada recentemente no blog, é muito bonita e singela. Com música então, vai ficar bela. Gostaria que você me mandasse o e-mail do Chico Souto pra agradecer pessoalmente a ele por suas palavras e matar a saudades de um amigo antigo do Colégio Acreano e também no Rio de Janeiro, nos tempos que a gente fundou a Associação dos Estudantes Acreanos, em 1968, "o ano que não terminou", como disse o seu amigo Zuenir Ventura. Nos anos duros do ditador Médici, a gente transformou a Associação num time de futebol, só pra gente se reunir sem ser perseguido pela polícia. Um grande abraço, Txai Terri"
Quando estive no Acre, vi com meus próprios olhos a devastação da floresta causada pelas pastagens de gado, algo que me deixou indignado e triste. Esse artigo me deu um pouco de esperança. O trabalho de Chico Abacate precisa ser no mínimo protegido pelas autoridades, para que seus colegas fazendeiros não queiram aprontar alguma contra o 'preguiçoso'.
As fotos estão ótimas. Parabéns Altino, pelo post!
Pierre
Em meio as imensidões de pastos e áreas degradadas que se proliferaram na nossa realidade amazonica, vem sempre das pessoas mais simples e humildes os exemplos de florestania.
Bom saber que existem pessoas tão humildes pensando e lutando pela preservação ambiental. Eternidade para homens como Chico Abacate!
Não consigo ver nesse post mais do que ele é: a realidade de um homem que conseguiu manter um pedaço de floresta próxima ao asfalto. O ótimo escoamento da produção de abacates lhe é favorável. Há energia elétrica, há escolas próximas (na sede do seringal e no Boa União, vizinho), há transporte de mercadorias e, de quebra, a área está sendo supervalorizada exatamente pelo potencial dos recursos inexplorados. Um olhar romântico sobre a vida de Chico é até bonito, do ponto de vista literário... no entanto, a realidade nos grita que milhares de produtores em outros lugares do Acre não conseguem sequer transportar a sua produção por falta de ramais e que não lhes resta outra alternativa a não ser vender suas propriedades da preço de "banana". No mais, devemos ter em mente que não há realidade quintessencial, não existe revelação final da existência, a não ser a nossa própria idealização da realidade. O que há, inclusive neste caso, é uma convergência de condições estruturais que desembocam em fenômenos específicos. Com o tempo, tudo isso ruirá ou ganhará nova forma, pois "o que é sólido se desmancha no ar".
Que figura maravilhosa! Obrigada, Altino, por nos dar a oportunidade de conhecê-lo. Um abração,
Mônica
SÃO OS ANJOS GUARDIÕES DO TEMPLO,
EXALANDO AROMAS DE HUMANIDADE. OLHARES TERNOS, VIGILANTES E UMA SABEDORIA QUE EMOCIONA. QUE VENHAM MIL CHICOS DO ABACATE, DA MANGA, DO CUPUAÇU, DO AÇAI,
DA CARAMBOLA E DO ABACAXI. QUE SEJAM OS
CHICOS, VERDADEIROS, SOLIDÁRIOS. UM TIQUIM DE PREGUIÇA NÃO FAZ MAL A NINGUEM. DEITAR NA REDE E BALANÇAR É TÃO GOSTOSO. OS CHICOS DA FLORESTA MERECEM !
VALEU VISCONDE !
Eis o Abacate maduro em sua humanidade.
Ser todos pensassem como o Abacate nossos filhos netos, seriam mais felizes futuramente.
Viveriam numa floresta sem distruição quase toda presevada como er o pensamento de Chico Mendes.
Cade a assistencia tecnica do governo ta faltando em quase todo acre.
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