ONG francesa propõe loteamento na Amazônia por 1 euro
Memélia Moreira
O loteamento de áreas ainda intactas da região amazônica ao custo de, no mínimo, um euro por ano, está sendo discutido entre jovens da classe media francesa. A proposta, que vai arrepiar nacionalismos exacerbados, é da organização Nature Rights (Direitos da Natureza) coordenada pela grafista franco-portuguesa Samantha Novella.
Ela desembarca no Brasil em agosto para registrar sua organização e visitar comunidades indígenas e camponesas. A partir daí, Samantha, que tem pouco mais de 20 anos, vai escolher a área-piloto para estabelecer seu projeto que pretende reduzir o índice de destruição da Amazônia.
A autora do projeto quer levar a proposta a todos os países ricos da Europa e já trabalha no registro de sua organização também nos Estados Unidos. No documento dirigido aos futuros compradores ela diz que “os custos da proteção serão divididos por milhares, e talvez milhões, de indivíduos, permitindo assim utilizarem os mesmos meios de pressão dos lobbies onipotentes que governam no lugar dos governantes”.
A Nature Rights colocou no ar um site com versões em francês, inglês e português. No site, em letras garrafais, lê-se: "L´Amazonie este en vente!" (A Amazônia está à venda". Confira detalhes projeto, aqui.
A proposta de Novella começa a ganhar adeptos dentro e fora da França. Jean-Pierre Dutilleux, cineasta belga que, nos anos 90, levou o cacique Raoni até ao presidente Miterrand, anunciou seu apoio ao projeto da Nature Rights. Novella irá a Bruxelas nos próximos dias se encontrar com Dutilleux para discutir o assunto.
Jean-Pierre Dutilleux produziu em 2003 o filme Amazon Forever. O filme conta a história de Nicolas, um jovem cineasta aventureiro que chega ao um vilarejo na Amazônia para filmar um antigo ritual tribal, o Kuarup. Lá ele se apaixona por Luacema, filha do chefe Ayupu. Após ter sido iniciado nos costumes locais, Nicolas se conscientiza da iminente ameaça que paira sobre seus novos amigos: a destruição da floresta. A câmera se torna sua arma.
Privatização da floresta
O projeto tem como base a lei 11.284, sancionada em março deste ano, e que terceiriza a maior floresta tropical do mundo. No lugar de conceder à empresas o direito de exploração “racional” da Amazônia, o projeto da Nature Rights quer que esta concessão seja compartilhada com “pessoas do mundo inteiro, que poderiam adquirir, individualmente, um hectare de terra para preservação”. Trocar títulos de exploração dos recursos naturais por títulos de preservação ambiental e desenvolvimento sustentável.
O montante de recursos da “compra” dessas terras seria utilizado para fiscalização e controle dos desmatamentos e, principalmente, para desenvolver projetos com as populações das comunidades das áreas a serem protegidas.
Ainda sem ter conhecimento do espaço onde pretende trabalhar, Samantha Novella procura parceiros interessados em elaborar os projetos de desenvolvimento. Durante sua viagem ao Brasil ela quer entrar em contato com ecologistas, indigenistas e técnicos que possam trabalhar com suas propostas. A primeira área a ser visitada pela coordenadora do Nature Rights deve ser o Pará.
Proteção globalizada
Na apresentação da proposta, a coordenadora da Nature Rights deixa claro que os parceiros não serão proprietários de nenhum centímetro da Amazônia e, para “amansar” qualquer reação de bombardeio ao projeto sob o argumento da soberania nacional, Novella afirma que “A Amazônia é do Brasil e assim será para sempre”.
Mas, mesmo reconhecendo a legitimidade do Brasil ao seu território, o projeto faz uma ressalva e diz que “o patrimônio natural de nosso planeta não tem idioma, raça ou fronteira, nem taxas de câmbio” e em seguida argumenta ainda que está na hora de “globalizar a proteção da nossa natureza”.
Samantha compartilha da idéia de que “a Amazônia é um patrimônio mundial e nosso interesse comum é preservá-la porque ela pretence a todos e todos devem protegê-la”.
O argumento não é novo. No final dos anos 80, o então presidente socialista francês, François Miterrand, durante reunião da cúpula internacional dos países mais ricos do mundo disse que “a Amazônia é importante demais para ser protegida apenas pelo Brasil”. Houve reações de protesto por parte do Itamaraty, mas nenhum desmentido do Quai d´Orsay, onde funciona o Ministério de Relações Exteriores da França.
Mas Samantha desconhece o jogo dos interesses internacionais e garante querer simplesmente proteger os últimos “pedaços intocados da natureza”.
Samantha diz que projeto é "utopia concreta"
As palavras jorram quando Samantha Novella fala sobre seu projeto de loteamento simbólico da Amazônia. E foi nesse jorro, misturado com soluços que ela, num jantar em Paris, conversou com o embaixador brasileiro na França, Marcos Azambuja sobre a tarefa que se impôs: defender uma das últimas florestas do mundo.
O jantar aconteceu logo depois da aprovação da lei que privatize a floresta e ela não sabia que ele era embaixador. Quando soube, resolveu lhe escrever uma carta que foi o primeiro esboço do projeto que a própria autora classifica de “utopia concreta”.
Revoltada com a lei, Samantha criou então a organização Nature Rights e vem trabalhando durante todo seu tempo livre para m prática o projeto que, em sua opinião, é uma alternativa à destruição sistemática da Amazônia.
Nascida em Portugal de mãe marroquina e pai inglês, Samantha Novella passou os primeiros anos de sua infância numa fazenda entre o Brasil e o Paraguai, convivendo com o povo guarani e agora quer voltar ao Brasil e conversar com todas as pessoas dispostas a abraçar sua utopia concreta.
► A jornalista Memélia Moreira, que vive na Flórida (EUA), escreve para a Agência Amazônia.
8 comentários:
Além de suportar o Brasil jogar com a França no sábado, temos que suportar estrangeiros achando-se os donos da Amazônia. Proponho que os euros sejam para reflorestar a França e os demais países europeus. De Ong em Ong dessa natureza daqui a pouco não sobra espaço para os brasileiros nem por um centavo. Sou brasileira e a Amazônia tem que ser cuidada e ocupada por seu povo e principalmente por seu Governo.
No meu ponto de vista esses tipos de ações põem em risco a hegemônia do Estado Brasileiro. A Terra é nossa é deverá ser nossa. Se fosse o responsável no Brasil eu proibiria o registro e a atuação dessa Ong. Sociedade Brasileira Levante-se! Acorda! Um euro! Fala sério!
Altino, que absurdo!
E a soberania nacional? Foi para o lixo?
Não sou nacionalista radical, mas essa é a idéia mais perigosa que já ouvi porque obviamente encontrará adeptos e recursos para se efetivar.
O governo que criou essa lei estapafúrdia deve cuidar de manter o país nas mãos dos brasileiros.
Beijos
Que garota, hem!
ola, eu sou a samanta da naturerights.. ha um equivoco cuanto ao projeto,nao é 1 euro mais 100 o 200 euros para preservacao por 40 anos (o que diz a lei sobre a privatisacao) de um hectare. de este dinheiro, uma parte vai ao governo para compensar o que ele tocaria das empresas multinacionais como receitas de explotatcao de madeira e otros produtos florestais, o negocio e que a lei ja sai, e que a floresta ja esta sendo explotada a beneficio de empresas internacionais, entao em vez de globalisar a explotacao, porque nao globalisar a preservacao? cada cidadao do mondo deveria poder participar a preservacao, nem que seja pelo oxigeno que respira ... e a amazonia fica e ficara brasileira. eu sou brasileira no coracao porque passei a minha vida toda em iguazu
otra vez a samanta, acho que o comentario precedente nao foi postado...
para responder aos commentarios de antes : a amazonia e brasileira e ficara!
actualmente, e ja faz um tempao, empresas internacionais estao e faz tempo explotando a floresta, que seja oficial o nao, pode se ver o resultado na deflorestacao da amazonia, mais nao sa vem os resultados no desemvolvimento e conndicoes de vida das populacoes locais, porque sao sempre os mesmos que gagnao!
entao porque, em vez de globalisar os recursos da floresta a multinacionais, nao poderiamos globalisar a preservacao da floresta entre os cidadaos do mundo, utilisando os mesmos meios de pressao, e a amazonia fica ao brasil, e a sua preservacao que e internacionalisada.
isto e transformar "titulos de explotacao" de 40 anos que estao sendo atribuidos as empresas internacionais por "titulos de preservacao" por 40 anos a cada cidadao e a terra fica brasileira.
A um equivoco quanto a transcripcao do projeto, eu calculei mais ou menos 150 euros por hectare, mais uma suma annual ... uma parte de este dinheiro seria para o governo para compensar o que ele tocaria em taxas ect de parte das empresas que explotao a floresta, otra parte seria para financar a preservacao COM o governo federal.
esta lei e uma polemica, e desde bastante tempo (30 anos?) ha pressao sobre o brasil para internacionalisar a amazonia, por causa da deuda exterior, a pressao vem de os memos paises "desemvolvidos" e organisacoes tipo omc , banco mundial e incluso ONG (muitas apoiaram a lei)
... ha muitos articulos sobre esta lei, e so ler..
Que nao haja malententido, eu nao sou brasileira mais creshi no brasil , o meu coracao e brasileiro. Eu sinto reevolta porque paises desenvolvidos metem pressao no brasil poara internacionalisar os recursos naturais. Estes mesmos paises construirao suas riquesas sobre a sangre das populacoes colonisadas, sobre o sangre das populacoes indigenas. Todos estes paises que foram colonisados deveriam ter a sua deuda annulada, se justicia fosse feita sobre a historia.
globalisar a "preservacao da amazonia" entre cidadaos do mundo, deixando a amazonia brasileira, e de gerencia local, ajundando a preservacao (que e no interes do Brasil) e um concepto muito diferente de as grandes ONG que vao botar o controle sobre as terras e tratar de "colonisar" as populacoes locais em colabopracao com o Banco Muindial, que, en gestao ambiental, segue uma politica productivista desastrosa para os povos e a naturesa.
eu repito que ninguem toma propriedade da terra.
desculpem os erros de portugues... espero que percebao as minhas intencoes como sao, eu nao estou completamente pronta, o meu site ainda nao tem versao portuguesa, mais vou tratar de fazer rapido, para que nao haja malentendidos
Caro Altino,
Quando da discussão sobre o projeto de previa a 'privatização' das florestas públicas poucas foram as entidades e pessoas que levantaram a voz em contrário. A máquina dos Governos, Estadual e Federal, trabalhou para garantir que tal crime fosse considerado bom para o país. Os políticos, que deveriam ser representantes do povo mas são representantes dos governos, se adiantaram no sentido de impedir que a população tivesse acesso as informação a respeito das graves consequências da aprovação do projeto de lei.
No Brasil, a internacionalização da Amazônia tem força de lei Federal e goza do apoio da ampla maioria dos deputados Federais e Senadores que aprovaram a lei. Portanto, não temos como dizer que o país busca a proteção do meio ambiente e menos ainda de nossa população. Agora, um erro não justifica o outro. Já basta a internacionalização para as grandes empresas. Não precisamos individualizar a internacionalização e nem precisamos da Samanta para nos ajudar no processo de internacionalização pois temos muita experiência nisso.
Um grande abraço.
a internacionalisacao para grandes empresas que vao explotar as terras por 40 anos e MUITO deferente que internacionalisar a preservacao por 40 anos : porque depois de 40 anos, a amazonia sempre e brasileira e sempre esta de pe ! e o governo gagno a mesma grana... parece que nao percebem bem que este projeto esta de uma certa forma contra a internacionalisacao dos "recursos" às empresas e tambem contra a OMC que mete pressao no Brasil.. nao se percebe que nao ha lucro se nao ha explotacao, o unico interez e para o governo federal e sobretudo para a natureza...
Bem, se essa moça quer ser odiada no Brasil, certamente, se continuar com essa pretensão toda, vai conseguir. Aliás, ela é tão acéfala quanto a maioria dos ambientalistas; não tem informação. Primeiro: a Lei das Florestas foi aprovada para que se explore econômicamente a floresta. Segundo: realmente, é utópico achar que isso iria conter a destruição da floresta. Terceiro: quem escreve "a Amazônia está a venda" quer mesmo ser odiada. Quarto: é infantil imaginar que o governo brasileiro aceitaria um projeto desses. Para finalizar, a Amazônia não é patrimônio mundial; é patrimônio sul-americano, do qual a maior parte é brasileira. Se ela gosta de vender coisas, que venda as suas coisas, não partes do território brasileiro. Se quer salvar o mundo, que comece, então, reflorestando a Europa que, certamente, está bem mais devastada que o Brasil. Europeu querendo dar uma de salvador do meio ambiente, sinceramente, parece piada.
Postar um comentário