O compositor João Donato desembarca na noite de sábado em Rio Branco, onde será homenageado, a partir das 17 horas de segunda-feira, com a inauguração da Usina de Comunicação e Artes João Donato. Volta ao Acre acompanhado da mulher dele, a jornalista Ivone Belém, e do irmão Lisyas Ênio, um dos principais letristas de sua obra. O governador Jorge Viana e o ministro Gilberto Gil lideram a homenagem ao gênio da raça acreana.
Donato traz na bagagem o instrumento que ganhou de presente da cantora Marisa Monte, uma sanfona que voltou a tocar com a mesma empolgação de quando garoto. Joãozinho não se cansa de ser um bom menino. No domingo, o músico comparecerá aos estúdios da Rádio Difusora Acreana, a Voz das Selvas, para conversar e tocar sanfona. Foi lá o começo dos 70 anos de carreira.
Eu tinha 14 anos, morava ainda em Cruzeiro do Sul, quando meus pais compraram, na Casa Badarane, um móvel de marca Semp, de alta fidelidade, no qual se podia ouvir a sequência de até 12 discos de vinil. O aparelho começou a ser pago no crediário, mas faltava dinheiro para comprar discos.
Certo dia, Egberto, um de meus irmãos, não resistiu a uma liquidação e voltou para casa com dois discos: um do brega Fernando Mendes e outro de um sujeito cujo nome e rosto sequer apareciam na capa. A contragosto, ganhei o desconhecido, mas até hoje é meu irmão quem gosta de música brega.
Aquele era o vinil "Quem é quem", de João Donato, que desde então não parei de ouvir. Quis o destino que me tornasse merecedor da amizade desse gênio da música brasileira. Donato jamais se desligou da raiz acreana, que influencia fortemente a sua música.
Na contracapa daquele velho vinil está o perfil que me ajudou, garoto de um disco só, a ficar encantado e a desenvolver bom gosto musical:
"João Donato vem lá do Acre. Tocando uma sanfona de 8 baixos, logo renegada por uma de 120 baixos, começou a se apresentar na Rádio Difusora acreana "A Voz das Selvas". Anos mais tarde, já tendo trocado a sanfona por um piano malandro, foi, ao lado de João Gilberto, Tom, Vinícius e outros, um dos professores da bossa nova (palavras do próprio Tom). "Minha Saudade", do Donato e do João Gilberto, "Amazonas", "A Rã" (Corongondó) foram alguns dos maiores sucessos dele.
Foi convidado a participar do célebre concerto de bossa nova do Carnegie Hall, mas não compareceu. Foi morar em Los Angeles. Casou com Patrícia (americana), teve uma filha, Jodel (linda), e quando Jodel tinha 6 anos, separou-se de Patrícia. E Jodel foi com Patrícia.
Lá nos States, tocou com João Gilberto, Caymmi, Astrud, Marcos, Luiz Bonfá, transou com músicos cubanos, americanos, gravou, foi gravado, tudo isso durante uns 10 anos. Foi inclusive considerado "Brazils nº 1 Pianist" pela coluna de jazz do jornal "San Francisco Chronical".
Agora, voltou por um amor, que acabou não dando pé. Mas resvolveu ficar. Encontrou-se com Marcos Valle, e decidiu-se por se fazer um disco novo de Donato na Odeon. Aliás, é o segundo que ele faz para a Odeon, pois o primeiro foi feito em meados de 50, tocando acordeom, produzido pelo Tom.
É Donato com músicas novas, tocando piano elétrico e até cantando, que foi uma idéia nascida num papo entre ele, Marcos e Agostinho dos Santos".
I love you, João Donato.
4 comentários:
Altino, o artigo está perfeito tanto na informação, como pelo carinho com este importantíssimo músico.
Veja, eu nem sabia que ele é acreano.
Meus parabéns a você e ao seu estado por ter nos dado esse presente.
Beijos e um excelente final de semana.
tu era milionário. meu radinho de pilha japoneis, do porte de um marlboro, só funcionava à meia noite, embaixo do travesseiro de ervas - na época coisa de pobre, hoje vendido nas daslus - sintonizado na rádio mundial ou na jornal do brasil ambos patrocinados pela tap e um motel da estrada do juá, e eu morava a 544 km do rio de janeiro, na mais caipira das cidades paulistas, na beira da serra, devo ter ouvido meu xará numa destas lá por 1972. as coisas que penetram nos ouvidos a gente tem que carregar pro resto da vida. também curti fernando mendes, sempre entre as primeiras das dez mais do barros de alencar, o cearense feio da bela voz da tupi paulista. inté
Altino, impressionante. O João Donato não muda dessa fotografia para hoje. Falo do ar alegre, da sensação de que se trata de alguém integrado com a vida em todos os seus sentidos e alegrias, alguém capaz de ouvir em cada gesto e ser capaz, como é, de traduzir tudo em melodias.
Caro Altino,
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cumprimentos,
Daniela Mann :)
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