quinta-feira, 2 de março de 2006

O FAMP VIROU PURPURINA

Por Diogo Soares (*)

São dez e cinquenta e sete da manhã. Estou no trabalho esperando uma reunião. Estou triste. Acabo de ligar para Karla Martins para convidá-la a fazer uma apresentação na Justiça Federal. Um convite pela arte, aceito. Ótimo para a Justiça, que vai contar com o brilho dessa grande atriz. Mas estou triste. Junto ao aceite Karla me deu notícia. Notícia triste. Morri um pouco também. Quem havia partido, atravessado, se desligado deste plano? Busquei todas as metáforas para digerir a morte de Chico Pop.

Me aliviou o peito quando lembrei de uma que ouvi de sua própria boca, na época do FAMP 2003, quando disse que nunca morreria, mas que se transformaria em purpurina. Pensei no Chico dançando à musica do Acre um balé de nuvens e brilho, arribando.

Quem foi esse Chico? Mais um nesse mundo de chicos anônimos, mas esse era desses chicos que todo mundo conhece e abraça e conversa. Não é a toa que esse Chico carregava a identidade num sobrenome adjetivo, o Chico era Pop. Alías, era não, o Chico é Pop, até porque o pop imortaliza as pessoas e isso Andy Warhol conseguiu provar durante a década de 60.

Falando em Andy, a gente percebe que cada lugar tem seus homens à frente do tempo e, que talvez por estarem à frente tenhamos a impressão de que quando se vão queriam mesmo encontrar outros lugares porque já haviam vivido tudo antecipadamente.

Chico Pop. Jornalista. Apaixonado pela nossa música. Fampista. Não fosse por ele o maior festival de música acreana não teria se perpetuado em espírito. O Chico era um pedaço da alma do Famp. Em 2003 fui à sua casa, conheci seus pais e além deles, sua maior relíquia não humana, ali, sobre uma prateleira qualquer, guardada honrosamente dentro de uma pequena caixa, quase toda a história da música popular acreana.

Chico conhecia todos os personagens, conviveu com eles e ajudou a inventá-los também. Tião Natureza, Silvio Margarido, Heloy, Felipe Jardim, Pia Vila, Capú, Leila Hoffman, Roney do Mapinguari em uma das primeiras aparições públicas... até o Binho dando uma de percussionista. O Famp era a vida dele e mais, era a melhor metáfora da felicidade que o velho Chico conhecera.

Hoje a música acreana atravessa fronteiras... geográficas, mercadológicas, de preconceito e vai longe se mostrando tão boa quanto o velho Pop acreditava que fosse. Um sonho antigo desse jornalista querido que foi bem ali, e que nós, músicos, compositores, poetas levaremos a cabo, até porque os sonhos, os sonhos mais bonitos sempre têm purpurina. Ao Chico, todas as preces numa canção de amor. Um dia a gente se vê, meu velho.

(*) Diogo Soares é compositor e vocalista da banda Los Porongas.

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