quarta-feira, 8 de março de 2006

MANIFESTO DO ALTO SANTO

O general Paulo Roberto Yog de Miranda Uchoa (foto), secretário nacional Antidrogas, não permitiu hoje (08/03), durante o Seminário Ayahuasca, a leitura do manifesto assinado por Peregrina Gomes Serra, viúva do mestre Raimundo Irineu Serra, fundador do Centro de Iluminação Cristã Luz Universal (Ciclu) - Alto Santo.

O general também não permitiu que Francisco Hipólito de Araújo Neto, dirigente do Centro Espírita e Culto de Oração Casa de Jesus Fonte de Luz lesse outro manifesto. Os dois centros mais antigos e rigorosos no uso ritual da ayahuasca no país desistiram de participar do seminário.

Dona Peregrina Serra, que é dignitária do Ciclu - Alto Santo, afirma no manifesto que as autoridades do governo brasileiro podem contar com o apoio e colaboração dela "caso julguem necessário providências enérgicas, como a proibição do transporte interestadual e a exportação do jagube, da folha e da própria ayahuasca - o que serviria para conter o comércio da bebida e o tráfico de outras substâncias associadas à proliferação descontrolada de centros de pretensa iluminação cristã".

O manifesto da Casa de Jesus-Fonte de Luz foi elaborado a partir de uma decisão uniforme e consensual de seis centros oriundos da vertente de trabalho fundado pelo mestre Daniel Pereira de Mattos. Ele defende uma legislação que controle a extração e o transporte do cipó jagube, da folha rainha, bem como do Daime. "Defendemos que a Justiça possa punir aqueles que disseminam o uso de drogas consorciadas ao Daime em nossa sociedade".

Os dois centros que melhor poderiam contribuir com propostas sobre o uso ritual da ayahuasca não foram ouvidos em decorrência das manobras de bastidores e do autoritarismo que prevaleceu no "seminário" do Conad. Na prática, o evento foi concebido e organizado por conselheiros e consultores que defendem a liberação do uso de drogas, como a maconha e a cocaína, inclusive durante rituais com ayahuasca.

Os dois manifestos criticam duramente a leniência e o despreparo do Conad para lidar com a realidade dos usuários tradicionais de ayahuasca. O
s povos indígenas do Acre, por exemplo, que são usuários imemoriais da ayahuasca, sequer foram convidados para o evento.

O Alto Santo e a Casa de Jesus Fonte de Luz se opõem à tendência de maior liberalidade que o Conad tende a adotar em relação a ayahuasca a pretexto de regulamentar seu uso sob a pressão de centros que movimentam muito dinheiro comercializando a bebida dentro e fora do país.

- Eu o parabenizo com nota máxima pelo elevado grau de autoritarismo e desorganização do seminário - disse Francisco Hipólito ao general Uchoa.

Conheça com exclusividade os dois manifestos:


"Senhores e Senhoras,

O meu esposo, o Mestre Raimundo Irineu Serra, fundador do Centro de Iluminação Cristã Luz Universal - Alto Santo, do qual sou a dignitária, antes de se despedir deste mundo não se cansava de nos advertir e nos preparar em relação àqueles que viriam a macular a história de sua doutrina, que foi consolidada na Terra com enorme sacrifício dele e de seus primeiros seguidores.

Em inúmeras ocasiões, de modo persistente, Mestre Raimundo Irineu Serra deixou claro que o amor e a lealdade eram as virtudes mais valiosas que esperava dos seguidores da doutrina.

Dirigindo-se a todos, o seu apelo final, tão repetido, nos advertia a respeito do que sucederia até os dias atuais, após a passagem dele para o mundo espiritual.

Foram estas as palavras da instrução que o Mestre Raimundo Irineu Serra nos legou:

- Quando eu me ausentar daqui, vocês reunam, tomem Daime e me chamem que eu venho. Não me deixem inventar moda e ninguém queira ser chefe. O dono daqui sou eu.

Os 68 anos de minha vida, desde o meu nascimento, têm sido dedicados aos ensinos de Raimundo Irineu Serra. As palavras e os ensinos dele me dão força suficiente para permanecer em lealdade como testemunha privilegiada do legado histórico da sua doutrina.

Não há, entre os que prestigiam este Seminário, ninguém que tenha chegado ao CICLU-ALTO SANTO sem que eu não já estivesse lá, na saudosa companhia do Mestre Raimundo Irineu Serra, de meus pais Sebastião e Zulmira, do meu avô Antônio Gomes da Silva, e dos meus tios Lêoncio, Raimundo e Guilherme Gomes da Silva.

Desde que o Mestre Irineu se ausentou materialmente, o CICLU-ALTO SANTO várias vezes foi alvo de salteadores, que ousaram se contrapor àquela advertência de que o seu fundador é e sempre será o dono.

Muitos falam, da boca para fora, claro, em amor e união, mas esquecem que se tivessem cultivado o amor e o espírito de união em seus corações até hoje estaríamos reunidos no mesmo Centro de Iluminação Cristã Luz Universal, no Alto Santo.

Mas na realidade muitos se deixaram dominar pelo egoísmo e passaram a cultivar substâncias e elementos doutrinários de origens diversas em profundo desalinho com a essência da doutrina que conheceram enquanto estiveram com Raimundo Irineu Serra.

Não existe ninguém que tenha recebido autorização do Mestre Irineu para se declarar dono ou continuador de sua infinita obra.


O que ele fez foi permitir, temporariamente, que duas pessoas - uma em Rio Branco e outra em Porto Velho (RO) - reunissem seus familiares para tomar Daime em razão da distância que moravam.

Mas, por ordem do Mestre Irineu, meses antes de sua partida as permissões foram canceladas por Leôncio Gomes da Silva, meu tio, presidente eterno do CICLU-ALTO SANTO.

Noutro caso, o saudoso Daniel Pereira de Mattos, conterrâneo e amigo do Mestre Irineu, recebeu dele um grande benefício para a sua saúde, em 1937. Daniel chegou a receber Daime do próprio Mestre e recebeu a revelação de sua própria linha de trabalho.

Ele procurou o Mestre Raimundo Irineu Serra e o comunicou, tendo o Mestre o apoiado, dando-lhe cinco litros de Daime e o incentivado a que seguisse com o seu trabalho. A casa de Daniel Pereira de Mattos foi edificada sem que fosse necessário surrupiar nada de outra casa. É por isso que os laços de admiração e respeito mútuos permanecem até hoje entre os dois centros.

A proliferação de centros que usam indevidamente os hinos e os símbolos da doutrina do Mestre Raimundo Irineu Serra é da absoluta responsabilidade de cada um que assim procede. Todos têm que prestar contas dos trabalhos que vêm fazendo.

A tentativa de evangelizar ou de doutrinar o mundo com o uso da ayahuasca contraria os princípios da doutrina, que é esotérica e não pode ser confundida com as religiões que se dedicam a arrebanhar fiéis.

O Mestre Irineu costumava dizer o seguinte:

- O meu Daime é para todos, mas nem todos são para o meu Daime. Pelo meu Daime eu me responsabilizo.

Além disso, deixou expresso no Decreto de Serviço, que é o que nos norteia como organização esotérica, a proibição de convidarmos pessoas para as nossas reuniões.

Não existe nenhum centro filiado ao nosso CICLU-ALTO SANTO e, para evitarmos problemas, continuamos cumpridores das ordens que nos foram deixadas por Raimundo Irineu Serra. Nós não criamos nada. Nós não inventamos nem permitimos a moda que o preocupava.

Nós temos a certeza de que ele é o dono. Tudo o que herdamos no CICLU-ALTO SANTO é fruto da inspiração divina de Raimundo Irineu Serra.

Foi ele que nos ensinou que pertencemos a um centro de instrução, de sabedoria divina, do caminho do bem. Foi ele que nos ensinou, ainda, a receber a todos aqueles que o procuram por livre e espontânea vontade.

Toda a minha luta à frente desse centro é para manter os ideais da replantação do cristianismo, da prosperidade e evolução pessoal de cada um de seus membros, dentro do civismo e do respeito às leis do nosso país, conforme o Mestre Raimundo Irineu Serra nos instruiu.

Nós tomamos Daime. Apenas Daime. Daime do Mestre Raimundo Irineu Serra.

Daime foi o nome com o qual o Mestre Raimundo Irineu Serra batizou a ayahuasca, que outros posteriormente apelidaram de santo Daime.

O Daime do Mestre Irineu, o Daime pelo qual ele se responsabiliza eternamente, continua sendo preparado e servido no CICLU-ALTO SANTO no rigor do ritual deixado por ele, a partir do cozimento de apenas três substâncias: água, folha e jagube.

Os que freqüentam o CICLU-ALTO SANTO tomam o Daime apenas nos dias de trabalho, cujo calendário foi estabelecido em vida pelo fundador. Não têm sequer Daime em casa, para evitar risco de uso inadequado.

A polícia, os fiscais ambientais e a vigilância sanitária dos governos estadual e federal podem ficar despreocupadas porque jamais vão flagrar alguém do CICLU-ALTO SANTO transportando cipó e folha ilegalmente ou comercializando Daime e muitos menos com conduta alterada nos círculos sociais.

Eu compreendo a legião de dissidentes do centro fundado pelo Mestre Raimundo Irineu Serra: é mais fácil se retirar e passar a se organizar como bem entendem do que se adequar à disciplina que lhes era exigida no CICLU-ALTO SANTO.

Para mim tem sido doloroso acompanhar a banalização da ayahuasca. Digo ayahuasca de modo genérico porque não é Daime do Mestre Irineu o que tem sido confundido com droga, distribuído e vendido abertamente no comércio mundial.

Quem toma Daime, Daime do Mestre Irineu, comporta-se de modo muito diferente dos que promovem as transgressões, que são do conhecimento da opinião pública, dentro e fora do país.

Nós não nos perfilamos no batalhão daqueles que se revelam fanáticos por ayahuasca. O Mestre Irineu nos advertiu que estivéssemos sempre preparados porque a doutrina dele prescinde da bebida.

Tenho me resignado junto com meus irmãos diante de tudo. Ao pedir aos seus seguidores que quando se ausentasse do CICLU-ALTO SANTO eles se reunissem para tomar Daime e o chamassem, que ele estaria presente, e que não deixassem inventar moda ou quisessem ser chefes, pois ele é o dono, Mestre Raimundo Irineu Serra nos deu a instrução de como nos comportar para proteger e seguir a sua doutrina.

Mestre Raimundo Irineu Serra costumava também dizer o seguinte:

- A casa da Mamãe está cheia, mas os meus eu ponho na palma da mão.

Ainda que muitos até contestem, mas a verdade é que o Mestre Irineu e eu somos os donos desse trabalho. Eu sou a responsável pelo CICLU-ALTO SANTO.

Não é uma posição confortável para quem nasceu, cresceu e até hoje vive dedicada a proteger a doutrina em sua essência.

Falo desse desconforto porque diariamente sou golpeada por salteadores, usurpadores e charlatões que maculam a história, os hinos, os ensinos e os símbolos da sagrada doutrina do Mestre.

Espero contar com a sensibilidade e a colaboração das autoridades do governo brasileiro, que querem constituir um Grupo Multidisciplinar de Trabalho de pesquisadores para o levantamento e acompanhamento das aberrações que vêm sendo praticadas com o uso indevido da ayahuasca.

Elas podem contar com o meu apoio e colaboração caso julguem necessário providências enérgicas, como a proibição do transporte interestadual e a exportação do jagube, da folha e da própria ayahuasca - o que serviria para conter o comércio da bebida e o tráfico de outras substâncias associadas à proliferação descontrolada de centros de pretensa iluminação cristã.

Na condição de dignitária do CICLU-ALTO SANTO, quero me abster de pedir votos para representar ou ser representada como dirigente de quaisquer dos centros usuários de ayahuasca.

Discordo do critério de representatividade adotado pelos organizadores desse evento, que chega ao ponto de classificar um grupo de dirigentes como pertencentes a uma suposta "linha do Mestre Irineu ou do Alto Santo".

Tomo essa decisão porque nunca enfrentamos qualquer problema de ordem pública que demandasse a preocupação das autoridades do nosso país.

Nada do que possa vir a ser proposto ou decidido por cientistas e representantes dos demais centros vai afetar a condução histórica dos trabalhos no CICLU-ALTO SANTO, que é o único estabelecido na Terra por Raimundo Irineu Serra e do qual sou a dona.

O Centro de Iluminação Cristã Luz Universal está situado na minha propriedade particular, denominada por meu saudoso esposo como Alto Santo. O Alto Santo não é um bairro ou uma comunidade. Trata-se de uma área onde o Mestre Raimundo Irineu Serra construiu o Centro e a casa na qual ele e eu convivemos.

Espero que respeitem ao menos o meu direito de não ter o nome do CICLU-ALTO SANTO associado aos centros que têm surgido no bairro Irineu Serra nos últimos anos.

Embora estejamos próximos, no mesmo bairro, e tenhamos convívio pacífico, na realidade estamos separados pelos fatos que estão expostos até aqui.

Portanto, a todos aqueles que transformaram a ayahuasca em mercadoria e usurpam a doutrina do Mestre Raimundo Irineu Serra, devo dizer-lhes: cada um responderá por seus atos, pois "a Justiça de Deus é reta, no mundo e no astral".

Quando a Rainha da Floresta entregou ao Mestre Raimundo Irineu Serra a missão de replantar a doutrinha de Jesus Cristo, ela o avisou que ele não ganharia dinheiro com isso.

Sem o fanatismo que tem imperado, nós vamos continuar a seguir na missão de Raimundo Irineu Serra. Os ensinos e as preleções do Mestre estarão sempre a nos guiar. Para finalizar, repito aqui as palavras dele:

- Quando eu me ausentar daqui, vocês reunam, tomem Daime e me chamem que eu venho. Não me deixem inventar moda e ninguém queira ser chefe. O dono daqui sou eu.

Este é o meu ponto de vista para esta reunião, para a qual designei como representantes do CICLU-ALTO SANTO os jornalistas Altino Machado e Antonio Alves.

Alto Santo, 8 de março de 2006

Peregrina Gomes Serra
Dignitária do Centro de Iluminação Cristã Luz Universal
Alto Santo


MANIFESTO DA CASA DE JESUS-FONTE DE LUZ

Autoridades presentes e representantes dos centros que utilizam a Ayahuasca:

O Centro Espírita e Culto de Oração "Casa de Jesus-Fonte de Luz" existe há 60 anos. Foi fundado no ano de 1945 por Mestre Daniel Pereira de Mattos, aqui em Rio Branco. Mestre Daniel passou 12 anos, em vida de matéria, preparando os trabalhos que hoje coordeno com ajuda de vários irmãos.

Desde o primeiro dia em que o Mestre Daniel chegou no terreno onde nós ainda trabalhamos, já trouxe consigo uma pequena quantidade de Daime, ofertado a ele pelo Mestre Raimundo Irineu Serra, amigo e incentivador da sua missão, recebida da divindade e reconhecida por Mestre Irineu, como uma outra vertente de trabalho, com ritual próprio e diferente dos trabalhos realizados no Alto Santo.

Mestre Daniel utilizou essa bebida para iniciar a organização do seu trabalho religioso, bem como para prestar suas obras de assistência espiritual ao povo da floresta e da cidade Rio Branco. Homens e mulheres passaram a viver essa experiência religiosa.

Temos ainda hoje, em nossa casa, que é de Mestre Daniel, pois ele foi o fundador, pessoas com mais de 70, 80 anos de idade, que conviveram e aprenderam com ele o respeito e a crença nesta bebida sagrada. São experiências vivas que contam como foi o início desta doutrina que efetivamente nasceu no Acre.

Tradicionalmente, seguimos as orientações espirituais de Mestre Daniel, o dono da nossa missão, que nos deixou as instruções de como usar o Daime durante o ritual religioso e prestarmos as obras de caridade em benefício de todos que buscam a sua casa.

Todo atendimento que fazemos, usando ou não o Daime, é feito dentro do nosso Centro. Não saímos a procura de ninguém, chamando para vir
assistir os nossos trabalhos ou fazer parte dele. Todos os que chegaram na casa fundada pelo Mestre Daniel vieram com as próprias pernas. Nunca ele buscou seguidores, nem oferecia ou distribuía o Daime fora da sua casa. Os que buscaram e buscam o nosso centro, o fazem por um chamamento interior, por uma busca espiritual.

Seguimos a tradição deixada por Mestre Daniel, o fundador do nosso
centro, da nossa doutrina e do ritual religioso que executamos. Ele
preparava o Daime com o cipó jagube, folha rainha, água, fogo e nada mais. Ele bebia e servia o Daime puro, sem nenhuma mistura. Ele nunca acrescentou e nem ensinou aos irmãos que o seguiram, a usar com o Daime qualquer outra planta, ou seja lá o que fosse. Isso ele ensinava cantando como deveria ser o feitio do Daime: com o cipó, fogo, água e folha. São essas as combinações com as quais se prepara esta bebida, que nos dá santa miração.

Os 60 anos de história da casa fundada por Mestre Daniel, estão pautada na tranqüilidade e bom uso do Daime, sem transgredir as leis do país, sem prejudicar a qualquer pessoa que ali tenha freqüentado ou bebido o Daime. Muito pelo contrário, as experiências mostram relatos de pessoas que chegaram desequilibradas, com dependência química, completamente desajustadas social e psicologicamente, ficaram curadas e foram
reintegradas à sociedade. São depoimentos vivos para quem quiser ver e ouvir.

O que na realidade temos feito durante toda a existência do nosso
centro, é distribuir o Daime às pessoas capacitadas, na dosagem adequada a cada um, não permitindo a mistura com nenhuma outra substância, dentro de um contexto religioso, obedecendo ao calendário e as orientações deixadas por Mestre Daniel.

Sabemos que tem crescido o número de indivíduos que usam o Daime em
diversos locais e maneiras pelo Brasil e o mundo afora. A nossa doutrina se originou aqui em Rio Branco, em uma pequena terra inicialmente emprestada ao Mestre Daniel, onde ainda está a sede em alvenaria que ele começou a construir em 1958. Não é de qualquer maneira que acrescentamos o número de filiados ao nosso centro. Temos critérios de responsabilidade, para que não venha a desabonar a seriedade da nossa doutrina. Os exemplos falam por si e estão para serem comprovados.

Nos preocupamos com o nome que temos a zelar. Por isso, não nos
interessa ter um número grande para mostrarmos. O nosso desejo é que os nossos irmãos possam seguir felizes, aprendendo a zelar pelo bom nome da doutrina deixada pelo Mestre Daniel.

Não estamos acima do bem e do mal, mas a nossa prática ritual com o uso do Daime, nunca contribuiu para a quase proibição dessa bebida em anos anteriores. Não somos e nunca fomos manchete de jornais, em escândalos envolvendo a venda e a mistura de Daime com substâncias proibidas ou com a deturpação das doutrinas deixadas pelo Mestre Daniel, Mestre Irineu e Mestre Gabriel.

Recorro às autoridades aqui presentes neste Seminário: que tomem
providências no sentido de identificar e impedir que pessoas continuem a praticar tantas irregularidades com o Daime. De forma irresponsável, vão iludindo a tantos, prejudicando o bom nome daqueles que há quase um século, de forma correta e equilibrada, fazem o bom uso dessa bebida sagrada.

Não queremos mais servir de escudo para aqueles que se escondem atrás da Ayahuasca, dos nomes do Mestre Irineu, do Mestre Daniel e do Mestre Gabriel, para usarem substâncias proibidas por lei, para alcançarem objetivos escusos, deturpando e desvirtuando as doutrinas por eles implantadas sobre a terra.

É por tudo isso que defendemos uma legislação que controle a extração e o transporte do cipó jagube, da folha rainha, bem como do Daime. Defendemos que a Justiça possa punir aqueles que disseminam o uso de drogas consorciadas ao Daime em nossa sociedade.

Sabemos que este Seminário não tratará desta questão, mas se o cipó e a folha se extinguissem ou o Daime viesse a ser proibido por vias legais, os trabalhos do Mestre Daniel continuariam a existir em sua plenitude, com os ensinamento da doutrina cristã contidas em seu Hinário e o atendimento a todos que nos procuram em busca de assistência para os seus males físicos e espirituais.

Represento aqui a casa fundada pelo Mestre Daniel em 1945, e nela, como já disse, preservamos a tradição que ele nos deixou. Somos o segundo centro mais antigo, com experiências de uso com o Daime. No entanto, em nenhum momento fomos consultados ou convidados a dar opinião ou idéia sobre a preparação desse Seminário, que pretende escolher membros de uma comissão, para discutir o sistema de moral que envolve o uso do Daime. Tema que ninguém conhece melhor do que homens e mulheres dos centros originários: Alto Santo, UDV e nós.

Não sabemos de quem os senhores do CONAD receberam consultoria. Pelo visto, foi de pessoas que não conhecem a nossa realidade, a nossa história, desconhecem a nossa tradição e o valor do uso ritual dessa bebida, desconhecem muito mais o processo de proliferação de grupos que surgiram a partir dos centros raízes, que utilizam o Daime, que é uma das expressões mais fortes da cultura do Acre ao longo dos últimos 80 anos.

Desprezaram também um longo trabalho que fizemos em torno da carta de princípios, contribuição essa organizada, por quem a mais de 30 anos se dedica ao estudo do fenômeno Ayahuasca, Profº Clodomir Monteiro da Silva, que tem transito livre nas mais importantes lideranças do Daime e do Vegetal.

Desprezaram ainda o Mestre Juarez Xavier, dirigente do terceiro Centro com registro mais antigo na cidade de Rio Branco, que até a data de ontem, às 10:30 da manhã, não tinha conhecimento e não foi se quer convidado a participar deste seminário.

E os organizadores do Seminário, sem nos consultarem, decidiram que
seria bom que disputássemos as poucas vagas entre nós, chamados da mesma linha. Somos Centros independentes, fundados por pessoas diferentes. Assim como o Mestre Raimundo Irineu Serra fundou apenas o Centro de Iluminação Cristã Luz Universal – Alto Santo, o Mestre Gabriel fundou a União do Vegetal, historicamente o Mestre Daniel fundou apenas o Centro Espírita e Culto de Oração "Casa de Jesus-Fonte de Luz".

Quando Mestre Daniel desencarnou, em 1958, ele morava no terreno do
nosso centro e havia iniciado a construção em alvenaria, da sede que ainda hoje existe e que foi apenas ampliada ao longo desses quase 48 anos de sua passagem.

Nós não vamos concorrer com alguns centros com os quais mantemos um bom relacionamento (Chica Gabriel, Antônio Geraldo, Juarez Xavier) e outros tantos, por entender que esta forma de escolha despreza a tradição dos centros raízes: Alto Santo, UDV e nós, do Centro Espírita e Culto de Oração "Casa de Jesus-Fonte de Luz".

Embora mantenhamos uma relação amistosa com Antonio Geraldo Filho, dona Chica Gabriel e Juarez Xavier, não somos responsáveis uns pelos outros, muito menos sobre outros centros que surgiram recentemente, que sequer sabem algo sobre o Mestre Daniel e comercializam seus hinos na internet e usam o seu nome indevidamente.

Por isso, tomamos a providência de legitimar a autoria dos hinos em seu nome e o registro dos Direitos Autorais em nome da casa que ele criou, o Centro Espírita e Culto de Oração "Casa de Jesus-Fonte de Luz".

As obras de Mestre Daniel, que praticamos em nosso Centro, é anterior aos estudos realizados pelos cientistas e pesquisadores e a legitimidade dos resultados são comprovados nesses 60 anos. Temos experiências e o conhecimento para ser compartilhado, quando formos requisitados, o que não aconteceu, pois somos um dos centros construtores dessa história religiosa.

Oponho-me aos critérios de escolha dos representantes dos centros
religiosos usuários da Ayahuasca, determinado pelos organizadores desse Seminário e não colocarei o meu nome para concorrer a uma vaga, pelo fato de terem desconsiderado a experiência dos centros raízes (UDV, Alto Santo e nós), e por não querer representar pessoas ou grupos que nunca tiveram contato com a casa de Daniel.

Portanto, não quero representar e nem ser representado por nenhum outro grupo definido pela comissão deste Seminário como sendo da "linha do Mestre Daniel". Represento e só posso falar dos trabalhos realizados na casa que ele fundou em 1945.

Este manifesto foi elaborado a partir de uma decisão uniforme e consensual, dos centros oriundos da vertente de trabalho fundado pelo Mestre Daniel Pereira de Mattos.

São essas as nossas considerações para os coordenadores deste evento, as autoridades aqui presentes e todos os participantes deste Seminário.


Francisco Hipólito de Araújo Neto
Presidente do Centro Espírita e Culto de Oração "Casa de Jesus-Fonte de Luz"

Francisca Campos do Nascimento
Presidente do Centro Espírita Obras de Caridade Príncipe Espadarte

Antônio Geraldo da Silva Filho
Presidente do Centro Espírita Daniel Pereira de Matos

Juarez Martins Xavier
Presidente do Centro Espírita Luz, Amor e Caridade

José do Carmo Ferreira Lima
Presidente do Centro Espírita de Obras e Caridade Nossa Senhora Aparecida

Antônio Inácio da Conceição Andrade
Presidente do Centro Espírita Santo Inácio de Loyola