terça-feira, 23 de agosto de 2016

No Acre, indígenas denunciam invasão de território peruano por brasileiros

Facção dissidente do Sendero Luminoso produz cocaína na fronteira com o Brasil 


Laboratório peruano de produção de pasta básica de cocaína

Lideranças da Associação Ashaninka do Rio Amônea, na fronteira com o Peru, denunciaram à Coordenação Regional da Fundação Nacional do Índio, a presença de barcos com moradores do município de Mal. Thaumaturgo adentrando o território peruano em busca de madeira, carne de caça, peixes e ovos de tracajá, nas comunidades Sawawo e Shawaya. Os produtos são comercializados na cidade.

Representantes da Funai, Polícia Federal, Ministério Público Federal e Exercito aceitaram convite para ouvir a comunidade ashaninka no final do mês sobre a situação. Recentemente, Jaime Antezana, peruano especialista em drogas, revelou que uma facção dissidente do Sendero Luminoso agora se dedica ao narcotráfico e controla uma zona da província de Masisea, na região Ucayali, na fronteira com o Brasil.

Em 2012, a PF inaugurou um posto de vigilância e controle em Thaumaturgo, mas o desativou dois anos depois, o que facilita a ação dos narcotraficantes na região.

De acordo com os ashaninka, a movimentação intensa tem acarretado a falta de condição para realizar o plano de manejo de tracajás, caça e peixe. A comunidade ashaninka já se reuniu várias vezes com as lideranças peruanas de Sawawo e Shawaya para tratar da situação.

Entrevista do especialista peruano Jaime Antezana sobre a descoberta de uma nova área de produção de cocaína na fronteira com o Brasil



Neste momento, segundo relato dos ashaninka, cerca de 20 invasores brasileiros estão em território peruano, com capacidade de trazer três toneladas de produtos retirados ilegalmente.

Os indígenas solicitaram providências da Funai, segundo dizem, para evitar que decidam pelo impedimento da passagem dos caçadores dentro de sua terra, sempre os mesmos, já denunciados outras vezes às autoridades.

Em troca dos produtos, segundo os ashaninka, os invasores levam munição e bebida alcoólica para embebedar as famílias peruanas.

— Todas essas ações estão destruindo as comunidades, os danos estão sendo muitos, chegando a gerar diversos conflitos internos, sendo um deles a formação de grupos a favor e contra a retirada, devido as ações destrutivas que vem ocorrendo dentro dessas comunidades. Além disso, quando os ashaninka do lado peruano se posicionam de forma negativa quanto a entrada nestes territórios, são ameaçados, inclusive de morte, quando estes membros chegam no município de Marechal Thaumaturgo - afirma o documento da Associação Ashaninka do Rio Amônea.

Os ashaninka dizem que estão realizando a vigilância de seu território, mas assinalam a “ausência das autoridades competentes para fazer o controle de fronteira”.

Funai

Consultado pela reportagem, o coordenador regional da Funai em Cruzeiro do Sul, Luiz Valdenir, disse que "o caminho é a intensificação da presença institucional na fronteira”.

— A Funai está em processo de implantação de sua nova Coordenação Técnica Local, uma espécie de posto local, e vem realizando monitoramento constante da região. Temos feito conversas constantes com o MPF, PF e Exército, no intuito de melhorar esta presença na região. Acreditamos que o envolvimento de comunidades como a dos ashaninka, que desenvolvem ações de monitoramento de suas regiões, qualificando, assim, as informações que recebemos, bem como a troca de informações com outros parceiros, no lado peruano, são essenciais para esse trabalho.

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