quinta-feira, 25 de outubro de 2012

ALÉM DAS CORTINAS VERMELHAS

POR PEDRO GUSTAVO NUNES

A exemplo de tantos outros reinados e impérios, o que convencionalmente vem sendo denominado “vianismo”, experimentou da ascensão ao apogeu, e agora demonstra uma fragilidade igual ainda não vista, perante uma desorganizada e atrapalhada oposição que, mesmo com restrito potencial bélico, luta contra um oponente arsenal político-financeiro construído pela coligação Frente Popular do Acre (FPA), apenas com coices e pontapés, e ainda assim coloca em cheque a supremacia de um grupo que um dia pareceu invencível. Uma era de boom econômico, grandes obras de infra-estrutura, resgate cultural, dentre muitos outros acertos de gestão. Mas o que pode ter colocado em cheque a política vianista da FPA, considerada por muitos o período de maior avanço da história do Acre?

A história dos movimentos políticos, desde os tempos mais remotos, sempre evoluiu, mesmo que lentamente, em busca da democracia plena, ainda que a sua plenitude nunca tenha sido efetivamente alcançada. Pelo menos não no cenário nacional ou acreano. E o raciocínio é óbvio: para que os iguais existam necessita-se manter um exército de desiguais. Em um cardume de milhares de peixes, todos os milhares são iguais, enquanto que em uma matilha de brasileiros uma minoria tem pedigree à revelia da maioria de vira latas.

O maior equívoco da política inovadora da FPA (acho o termo popularismo mais adequado que vianismo) foi segregar a sociedade em castas, num apartheid social-democrático, dando uma retórica colonial ao que chamou-se de inovação. Os desiguais integrantes da maioria esmagadora, legitimando os iguais, dando-lhes carta branca (votos) em permissiva subordinação, delegando a minoria elitista a pensar por todos.

Em um Estado democrático de direito o conceito parece ser bastante simples. A vontade da maioria prevalece. O poder emana do povo que escolhe gestores públicos de cargos eletivos cíclicos e, a cada novo ciclo, a sociedade organizada e teoricamente civilizada reconstitui o novo ciclo como em um movimento de translação. Para dar continuidade a esse ciclo, existem as eleições.

Mas o que temos percebido, há tempos, é que o ciclo é mais teórico do que prático. Na verdade subtrai-se o direito do cidadão de pensar. Pelo menos o direito dos desiguais. Estes não têm a opção de pensar, pois estão reféns de programas sociais, cargos comissionados e de falsas promessas. Doar o voto é garantia de sobrevivência, mesmo que seja por mais um dia. Um desigual ao negar seu voto ao popularismo, está trocando a garantia da vaidade de um igual por um futuro incerto. E se ele se rebela a pensar, poderá estar permutando o sustento de sua família pela sua alforria intelectual. Portanto, não há interesse em dar cidadania aos desiguais, pois a cidadania é a fonte do pensamento, é o ponto de partida dos questionamentos, é onde os desiguais se tornam iguais, onde o coletivo prevalece sobre o individual.

Para quebrar esse vício há que ter coragem. Jamais enxergaremos o que há além do lulismo, vianismo, popularismo ou seja lá o adjetivo que for, se não arriscarmos rasgar as cortinas vermelhas. Pode ser que se encontre o paraíso. Como também, há o risco de adentrarmos num ciclo apocalíptico. Arriscar é preciso. Já conhecemos as trevas. Todo brasileiro conhece as trevas. Ou veio dela, ou está nela ou próximo dela.

Mas pouquíssimos são os desiguais que tiveram a oportunidade de conhecer o paraíso. “Penso, logo existo”, as palavras proferidas pelo francês René Descartes, em meados do século XVII, deveria ser adotada como um grito de guerra por todos brasileiros, ruindo desde o Reich popularista da FPA até o caudilhismo dos Sarney, e assim quem sabe, a era dos desiguais, se torne apenas mais um triste capítulo de nossos livros de história.

Pedro Gustavo Nunes é médico veterinário e servidor público estadual

4 comentários:

ELSOUZA disse...

O Dr. Pedro Gustavo Nunes, que não conheço, além médico veterinário demonstra notório saber no campo da história, da ciência política e da ciência social. Parece um grande sociólogo. Nunca vi aqui no Blog do Altino Machado um comentário de tamanha grandeza e lucidez. Essa de “doar voto como garantia de sobreviência e a permuta do sustento próprio e de sua família em face da rebeldia” é do cacete. Meus parabéns, ressaltando que o “Reich popularista da FPA” excedeu-se aos limites do humanamente suportável e EXAURIU-SE. Acabou-se. Somente lamento sobre a possibilidade do caos social que está por vir, pois a iniciativa privada não terá condições de absorver tamanha quantidade de COMISSIONADOS DESEMPREGADOS e a tendência é aumentar o número de vagas no chamado emprego informal.

Enzo Mercurio disse...

Dr Pedro é umas das cabeças pensantes nesse Acre .
Não o conheço , mais ele expressou bem onde estamos atolados.

Anônimo disse...

Dr. é quem tem doutorado...

Fátima Almeida disse...

A Frente Popular do Acre sob a batuta do PT precisa colocar todos os chefes do serviço público nas ruas porque não possui militância. O movimento estudantil, secundarista e universitário sumiu. Os sindicatos rurais e urbanos sob a coordenação política da CUT também sumiram. Os artistas que antes eram mais combativos com suas organizações por categoria tipo associação de músicos, de artistas plásticos, federação de teatro amador do Acre, etc..também saíram de cena. Não é possível para partido algum representar o Estado e ao mesmo tempo apoiar movimentos contra ele. No momento em que as esquerdas chegam ao poder elas já assinam seu óbito. O que mais que fazem, daí por diante, é buscar um rosto quando não existem mais máscaras possíveis, forjar alianças sem critérios, desesperar-se.