Nada a comemorar diante dos resultados dos prêmios Chico Mendes, do Governo do Acre, e Chalub Leite, do Sindicato dos Jornalistas.
O Prêmio Chico Mendes, por exemplo, jamais reconheceu a importância do sertanista Antônio Luís Batista de Macedo, que teve papel destacado na criação da Reserva Extrativista do Alto Juruá.
Convidado por Chico Mendes para organizar os trabalhadores do Juruá, Macedo enfrentou a sanha de patrões e narcotraficantes daquela região no final dos 1980.
Chegou a ser agredido fisicamente pelo ex-governador Orleir Cameli, adversário histórico de índios e seringueiros. Na atualidade, Cameli é quem é alvo freqüente de diversificadas honrarias do "governo da floresta".
Em 1991, o jornalista Antonio Alves presenciou, em Marechal Thaumaturgo, um sujeito conhecido por He-man apertar o gatilho de um revólver três vezes, quase a queima-roupa, contra o peito de Macedo.
A arma falhou. Pertencia a um policial civil que estava bêbado durante o plantão na delegacia da cidade. O pai de He-man fora expulso da reserva porque era dono de uma plantação de epadu e de um laboratório de refino de cocaína.
Durante a confusão, Toinho levou um murro na cara, aplicado pelo policial que cedera a arma a He-man. Tentou revidar, mas foi contido pela turma do deixa disso. Argumentou que era da paz, que não gostava de briga. Tão logo o soltaram, acertou um soco mais potente na cara do tira.
Pois bem, os agraciados pelo Prêmio Chico Mendes são selecionados por uma comissão controlada pelo governo estadual. Jamais premia a quem ousa alguma crítica aos ditames da florestania. É por isso que Osmarino Amâncio, ex-companheiro de Chico Mendes, jamais será premiado.
E o Chalub Leite de Jornalismo? Simplesmente negou premiação a Gleilson Miranda, autor da melhor foto do ano - a dos índios isolados, na fronteira Brasil-Peru, atirando flechas contra o avião da expedição comandanda pelo sertanista José Carlos dos Reis Meirelles Júnior.
As fotos dos índios isolados causaram perplexidade mundial desde quando foram publicadas pela primeira vez, no final de maio, neste blog e em Terra Magazine. Embora tenha sido uma das imagens mais impactantes de 2008, os jurados preferiram premiar uma foto posada.
Outra surpresa foi o prêmio de jornalismo on-line. A repórter Dulcinéia Azevedo, que expôs pela primeira vez o drama das vítimas do DDT no Acre, foi preterida por uma matéria lubrificada com babosa sobre o festival da etnia yawanawá.
Premiaram até matéria insossa, sem o mínimo ineditismo, sobre fogão que gera energia elétrica. Acontece que o fogão BMG Lux queima lenha da florestania e o governo estadual é o maior cliente da fabricante, uma empresa que pertence ao Grupo BMG, que financiou o valerioduto do mensalão.
Tenho a impressão de que a lista está ficando cada vez mais reduzida e em breve faltará gente para receber o Prêmio Chico Mendes. Com o Prêmio Chalub Leite será diferente, pois os premiados são basicamente os mesmos todos os anos, o que nos dá a ilusão de que temos imprensa no Acre.
Na verdade as duas premiações não têm o menor valor, além daquele de cristalizar o ego de quem gosta disso. Ambas estão circunscritas ao nosso provincianismo, onde a moda é cobrir uns aos outros de medalhas, espadas, insígnias, diplomas etc.
Como no Acre tudo pode acontecer, poupem-me.
■ Atualização: A Secretaria de Patrimônio da União doou um terreno que mede 15m x 30m, na Travessa da Comara, Via Chico Mendes, onde será construída a sede do Sindicato dos Jornalistas.
E Aníbal Diniz, assessor do governador Binho Marques, telefona para tranquilizar-me em relação ao Antonio Macedo.
- A lista dos que merecem a premiação é longa, mas pode ter certeza que o Macedo será premiado antes que você.
A essa altura já devem tê-lo incluído na premiação deste ano. É esperar pra ver.
8 comentários:
Oi Altino,
só pra lembrar: a matéria vencedora da categoria Jornalismo Digital foi Festival Yawa, a festa da Terra, da repórter Tatiana Campos.
A do fogão Geralux venceu na categoria Telejornalismo.
Não fique assim, por favor. Onde está este resultado? A relação dos selecionados? Caramba, aquela imagem dos índios isolados é a do ano de 2008, em minha opinião. Não ser reconhecida, depois que foi divulgada no mundo, isto mesmo, no MUNDO, é falta de sensibilidade, já nem digo de sabedoria.
Beijos.
*perdoa-me as perguntas, se não entendi o texto do post. fique bem. você procura ser sempre correto e justo. parabéns. aí está o seu valor. admiro-te imensamente, como profissional e pessoa humana.
Depois da ironia de Aníbal, Altino, nunca aceite prêmios do poder. Sarte e Drummond não aceitaram prêmios da academia. A marginalidade, meu caro, pertence a poucos.
Depois da ironia de Aníbal, espero que você não receba os agrados do poder. Sarte e Drummond não quiseram prêmios da academia. A marginalidade, meu caro, pertence a poucos.
É isso mesmo, Altino, o sentido dessas premiações é exatamente esse que você aponta. Na verdade, trata-se de um estímulo a não se produzir nada de subversivo, crítico, questionador, que aponte contradições e manifeste independência de pensamento, ou seja, o negócio é reproduzir o ideário oficial e pronto. Essa premiação da matéria sobre o fogão que gera energia, do Jeferson, é só mais uma daquelas doses diárias de água com açucar produzidas pela Rede Globo na tentativa de injetar uma ilusória positividade na loucura em que se transformou o mundo ao nosso redor e dentro de nós mesmos. Na verdade, esse tipo de visão não é à toa, tem a função de dizer para as pessoas que apesar de tudo, está tudo bem. E assim vamos conservando tudo como está, ou seja, de um sentido conservador fenomenal, como quase tudo que vem da globo.
Mas meu caro Altino, a melhor sagração e reconhecimento é essa que iniciativas como a do seu blog recebem do público e dos mais diversos agentes sociais, pela natureza dialógica e democrática que assumem, no que diz respeito à possibilidade de disseminação das vozes diversas e destoantes.
Estão longe, portanto, de precisar do reconhecimento de instâncias oficiais e da auto-libação dessa imprensa que precisa se auto-premiar a fim de construir alguma imagem positiva de si mesma.
Você tem toda razão: provincianismo, dos mais maléficos.
Rapaz, a impressão que dá é que vc vai ser premiado um dia, já que o Macedo vai ser antes de vc... Porém ao me lembrar daquela visita do Jorge Viana à pequena Iaco Propaganda naquele final de 1998 quando ele disse-nos: "olha, milionário vocês não vão ficar, mas faremos muito trabalho." Lembra? Aí eu fiquei alegre e disse a você: cara ele disse que não vamos ficar milionário, mas abaixo disso, ou seja, pelo menos rico ficaremos. Nem uma coisa nem outra. Ou seja, você nunca será premiado. Hahahaha. Só faltava agora a Cia de Selva ganhar um prêmio pela autoria da revista da Assembléia.
O premio verdadeiro pertence ao Chico!
Altino, mais do que oportuno o nome do Macedo, injustiçado seguidamente nas homenagens relativas a Reservas e seringueiros e florestania. A Reserva do Alto Juruá não existiria se ele não tivesse ido pra lá mobilizar a seringueirada e fazer acontecer. Macedo é uma lenda no Alto Juruá. Polêmico, claro, o que para alguns pode ser um defeito, mas acho que é talvez sua principal riqueza. Impossível não notar sua presença. A primeira pessoa que me disse "vem pra cá, Mariana", convidando-me a vir de malas e cuia para o Acre, foi o Macedo. Serei eternamente grata a ele.
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