quinta-feira, 28 de agosto de 2008

"NA AMAZÔNIA SÓ NÃO TEM BAIANO"

José Altino Machado, 66, ganhou fama internacional ao liderar, nos anos 80, a legião de 40 mil garimpeiros que invadiu as terras dos índios ianomami em Roraima. Também já foi acusado de usar propriedades e aviões particulares, bens acumulados na mineração, para ajudar fazendeiros e madeireiros a invadirem a Terra do Meio, no Pará.


O ex-presidente da União dos Garimpeiros da Amazônia, tantas vezes acusado de genocídio contra os ianomami, vive em Governador Valadares (MG), onde nasceu, e se dedica a criar gado tabapoã e a produzir milho.

Mas o fazendeiro não deixa de acompanhar e de dar pitaco sobre o que se passa na Amazônia, como ontem, quando o Supremo Tribunal Federal começou a julgar a ação contra a demarcação da Raposa Serra do Sol, que colocou em pé de guerra índios e agricultores de Roraima.

- O julgamento no STF significa a vitória da falta de cultura e da falta de verdade histórica. Antes de mexer em qualquer questão indígena, a sociedade brasileira deveria decidir o que os índios serão para o Brasil. Eles formarão uma nação, eles serão nacionais? Eles terão deveres ou não pertencerão ao país? Essas questões precisam ser solucionadas antes - disse Altino Machado ao Blog da Amazônia.

Como líder dos garimperios, Machado era tão ou mais radical que Paulo César Quartiero, o líder dos arrozeiros de Roraima. Mas o que é a Amazônia para esse mineiro que começou a aventura em busca de ouro quando tinha apenas 25 anos de idade e que se tornou num dos personagens mais controversos da história recente da ocupação da região?

- Na Amazônia só não tem baiano, que é uma outra raça brasileira. A Amazônia é uma região de pessoas para lá de excepcionais. Ela suga de todas as regiões as pessoas mais rebeldes do sistema social brasileiro, que não aceitam a mendicância, o comando ditatorial de governos. Para a Amazônia se vai pela alma para enfrentar outra fronteira de vida. Na Amazônia, a gente é avaliado pelo que a gente é e não pelo que a gente tem. Essa é a grande diferença da Amazônia em relação ao resto do mundo. Lá só tem quem trabalha, lá só tem quem sabe, quem faz. É por isso que a Amazônia não acomoda baiano.

Leia a entrevista com o xará do blogueiro no Blog da Amazônia.

7 comentários:

. disse...

Discordo em relaçao ao preconceito com os baianos... mas em relaçao ao resto concordo plenamente... o proprio Orlando Villas-Boas - diga-se de passagem, depois do Marechal Rondon o maior indigenista ou sertanista (como queiram)- ja alertava para a criaçao dessa naçao indigena... se isso acontecer, é um ato lesivo contra a patria com consequencias catastroficas

Tania disse...

Altino, a primeira parte do julgamento sobre a TI Raposa-Serra do Sol ontem foi lindo, emocionante. Aliás, há muito que não me emocionava com qualquer julgamento no Judiciário. Mas, estar ao lado da Marina naquele momento, assistindo ao debate de uma causa que ela abraçou com tanto vigor; ver a Joênia, uma índia Wapixana que lutou muito para se tornar advogada, subir à tribuna da mais alta Corte do país; ver o Ministro Eros Graus chorar explícita e abundantemente de emoção no momento em que ela fazia a defesa do Monte Roraima de seu povo e, finalmente, ouvir o voto eloqüente, rico e definitivamente histórico do Ministro Carlos Ayres, que relatou o caso, fizeram o meu dia diferente ontem.
A certa altura chorávamos muito também, e eu já nem mais sabia se chorava pela fala da Joênia, pelo choro do Ministro, pela alegria de estar lá e poder ver aquilo...
Bem, seu Xará ai não merece o nome que tem, nem qualquer comentário.
abç.
Tânia.

p.s: entre as citações que referendaram o voto do Ministro, ao lado de Boaventura de S. Santos, Eduardo Viveiros, José Afonso da Silva, estava também Marina Silva. Ele transcreveu parte de um artigo dela na Folha de São Paulo.
Agora ela consta nos anais do STF, formalmente falando.

Unknown disse...

O sr. altino aí não está de todo errado. A maioria das etnias que existem no Brasil, desenvolvem a sua cultura apenas nos festivais de suas tribos. Eles já estão contaminados pelo tesouros dos brancos, o Governo, ou melhor, nós os contribuintes, damos a eles todo tipo de assistência: médica, hospitalar, infra-estrutura, e eles o que dão em volta, eles não trabalham 3 meses por anos apenas para pagar imposto. Essa questão indigena realmente têm que ser revista, claro que, caso a caso. Enquanto tempos etnias que ainda são fiéias às origens, temos os cintas-larga que usufruem dos prazeres que os seus diamantes proporcionam. A questão indígena, como tantas outras no Brasil, está com anos de atraso e deve ser revista. Em RR penso que tenha terra o suficiente para os produtores e os indios. Tá, temos que preservar as reservas ali existentes, e depois, eles - os índios - vão fazer o que? Eles vão pressionar a funai e o governo federal pela ajuda que eles "pensam" que têm direito.

Andreia Fanzeres disse...

Muito oportuna a entrevista. Parabéns pela sacada.

Andreia Fanzeres disse...

Muito oportuna a entrevista. Parabéns pela sacada.

Unknown disse...

"- Na Amazônia só não tem baiano, que é uma outra raça brasileira"
Isso é preconceito? ou entendi errado?

Olhar crítico sobre os fatos disse...

O julgamento alusivo a Raposa Serra do Sol é um fato que tem chamado atenção no Brasil e fora dele, devido a sua importância política e econômica. Isso é consenso!

Todavia considero lamentável! o comentário a respeito do povo baiano. É muito irresponsável, quiçá leviano, rotular capacidades intelectuais e formas de trabalho ao nascimento em região específica.

Esse Senhor teve um surto de IMBECILIDADE !

Gabriel, baiano, engenheiro, especialista, mestre e doutorando em engenharia pela UnB