
sábado, 16 de setembro de 2006
sexta-feira, 15 de setembro de 2006
40 anos depois

E Marques contou que estava com 20 anos idade quando a direção da revista Manchete decidiu destacá-lo, na companhia de um fotógrafo, para uma reportagem sobre a distante Rio Branco, capital do Acre.
Entre os várias entrevistados, Marques conversou com o bispo italiano Giocondo Maria Grotti, que dois anos depois morreria durante acidente aéreo no município de Sena Madureira.
Ao ser perguntado sobre os problemas que enfrentava na região, o bispo reclamou da doutrina do Daime, fundada pelo negro maranhense Raimundo Irineu Serra.
Marques decidiu conhecer o mestre Irineu Serra, que trabalhava no roçado de sua propriedade quando o jornalista foi visitá-lo.
- Aquele encontro foi a experiência mais marcante de minha vida. O mestre Raimundo disse que sabia que eu chegaria e estava me esperando. Disse o meu nome, que eu havia sido libertado recentemente da prisão e que eu tinha uma cicatriz na perna.
Marques contou, ainda, que passou três dias no Alto Santo e tomou Daime, mas não revela detalhes de sua experiência.
—— Ele me disse que um dia eu voltaria ao Acre, mas jamais acreditei nessa possibilidade.
A revista Manchete publicou então várias páginas com a reportagem, onde prevaleceu na edição a versão do bispo de que se tratava de uma seita diabólica. Foi a primeira entre tantas a desagradar Irineu Serra e seus seguidores.
Ao terminar de contar sua história, o governador Jorge Viana mostrou ao jornalista o convite que recebera para participar hoje do festejo dos 50 anos de casamento de Irineu com Peregrina Serra. E convenceu o jornalista a permanecer mais um dia no Acre.
Marques reencontrou ontem dona Peregrina, viúva de Irineu Serra, a quem pediu desculpas pelo conteúdo ofensivo que sua reportagem ganhou na edição da revista.
—— Eu não podia revelar que havia encontrado Deus —— disse.
Quem quiser saber mais a respeito da passagem de Carlos Marques pelo Acre, deve pegar o livor "Verdade Tropical", de Caetano Veloso, e fazer uma leitura da página 308 a 319.
quinta-feira, 14 de setembro de 2006
À OPINIÃO PÚBLICA
Chamar o maior grileiro de terras do mundo de pirata fundiário constitui ato ilícito no Pará, obrigando quem utilizar a expressão a indenizar o suposto ofendido por dano moral. Com base nesse entendimento, a 3ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado manteve a condenação que me foi imposta no juízo singular. No ano passado, o juiz Amílcar Guimarães, exercendo interinamente a 4ª Vara Cível do fórum de Belém (é titular da 1ª Vara), acolheu a ação de indenização contra mim proposta pelo empresário Cecílio do Rego Almeida e me condenou a pagar-lhe oito mil reais, mais acréscimos, que resultarão num valor bem maior.
Meu “crime” foi uma matéria que escrevi no meu Jornal Pessoal, em 2000, comentando reportagem de capa da revista Veja de uma semana antes, que apontava o dono da Construtora C. R. Almeida como “o maior grileiro do mundo”. Com base em um título de terra que ninguém jamais viu e todos os órgãos públicos negam que exista, o empresário se declarava – e continua a se declarar – dono de uma área que poderia chegar a sete milhões de hectares no vale do rio Xingu, no Pará, região conhecida como “Terra do Meio”, na qual há a maior concentração de mogno da Amazônia (o mogno é o produto de maior valor da região). Se formasse um Estado, esse megalatifúndio constituiria o 21º maior Estado brasileiro.
C. R. Almeida propôs a ação em São Paulo. Mas como o foro era incompetente, a demanda foi transferida para a comarca de Belém, onde o Jornal Pessoal, uma newsletter quinzenal independente que edito desde 1987, tem sua sede. Durante mais de quatro anos a ação foi instruída na 4ª Vara Cível. A juíza responsável pelo processo, Luzia do Socorro dos Santos, se ausentou temporariamente para fazer um curso no Rio de Janeiro. O juiz Amílcar Guimarães a substituiria por apenas três dias, mas, de fato, só assumiu a Vara no último dia, 17 de junho do ano passado, uma sexta-feira.
Nesse dia ele pediu ao cartório que os autos, com quase 400 páginas, lhe fossem conclusos e os levou para sua casa. Só os devolveu na terça-feira, dia 21, quando a juíza substituta já estava no exercício da Vara. Junto com os autos veio a sua sentença condenatória, datada de quatro dias antes, como se a tivesse lavrado no último dia do seu exercício legal na função.
Representei contra o magistrado, mostrando que a sentença era ilegal, que o processo não estava pronto para ser sentenciado (estava pendente informação da instância superior sobre um recurso de agravo que formulei exatamente contra o julgamento antecipado da lide, que o julgador efetivo pretendia realizar), que os autos sequer estavam numerados e que a sentença revelava a tendenciosidade e o desequilíbrio do sentenciante. A Corregedora Geral de Justiça acolheu a representação, mas, por maioria, o Conselho da Magistratura decidiu não processar o juiz. Recorri em julho dessa decisão, mas o embargo de declaração ainda não foi apreciado.
No plano judicial, apelei da condenação. A relatora do recurso na 3ª Câmara Cível, desembargadora Maria Rita Xavier, manteve a condenação, apenas concedendo uma redução no valor da indenização. A revisora, desembargadora Sônia Parente, pediu vistas. Na sessão de hoje ela apresentou seu voto, discordando da posição da relatora.
Argumentou que a grilagem de terras da C. R. Almeida no Xingu é fato público e notório, comprovado por diversas matérias jornalísticas juntadas aos autos, além de pronunciamentos unânimes de órgãos públicos que se manifestaram oficialmente sobre a questão, incluindo a Polío, incluindo a Polm oficialmente sobre a questrras da C. R. Almeida no Xingu ealizarnso. O juiz Amcia Federal, o Ministério Público Federal e a Justiça Federal. Eu apenas aplicara ao autor da grilagem uma expressão de uso corrente nas áreas de confronto, conforme ela própria pôde constatar quando atuou como juíza numa dessas áreas, o município de Paragominas.
A desembargadora-revisora disse que a matéria do Jornal Pessoal estava resguardada pela liberdade de expressão e de imprensa, tuteladas pela Constituição Federal em vigor. O texto jornalístico expressava uma situação conhecida e lamentada pelos que se preocupam com o futuro da Amazônia, assolada por agressões como a devastação da natureza, a apropriação ilícita do seu patrimônio e até mesmo o trabalho escravo. Muito emocionada ao ler esse trecho do seu voto, a desembargadora disse que Castro Alves, se voltasse agora, encontraria um novo navio negreiro nos caminhões que trafegam pelas estradas amazônicas carregando trabalhadores como escravos. E manifestaria sua indignação da mesma maneira que eu, ao escrever no Jornal Pessoal.
Ela salientou que a expressão em si, de “pirata fundiário”, é apenas um detalhe e irrelevante, porque ela foi aplicada a um fato real e grave, noticiado em vários outros jornais. “Por que só este jornal de pequena circulação, que se edita aqui entre nós, é punido?”, indagou.
Suas judiciosas observações, porém, não tiveram eco. A desembargadora Luzia Nadja Nascimento, esposa de Manoel Santino Nascimento, que deixou a chefia do Ministério Público do Estado para ser secretário de segurança do governo, sem maiores considerações, apresentou logo seu voto, acompanhando a relatora. Nem permitiu que o presidente da sessão, desembargador Geraldo Corrêa Lima, apresentasse as observações que pretendia fazer. Sua decisão já estava tomada.
Como havia apenas as três desembargadoras no momento em que a votação foi iniciada, em maio, os dois outros desembargadores que se encontravam na sessão de hoje da 3ª Câmara Cível não puderam votar. Por 2 a 1, minha condenação foi mantida. Agora me resta apresentar o recurso que poderá provocar a reapreciação da questão junto ao Superior Tribunal de Justiça e ao Supremo Tribunal Federal, em Brasília.
Esse entendimento, de que é ato ilícito aplicar a expressão “pirata” àquele que é proclamado “o maior grileiro do mundo”. é exclusivo da justiça do Pará. Cecílio do Rego Almeida também processou a revista Veja, seu repórter, um procurador público do Estado do Pará e um vereador de Altamira pelo mesmo motivo, mas todos foram absolvidos pela justiça de São Paulo. Ao invés de condená-los, como aqui se fez comigo, o juiz Gustavo Santini Teodoro, da 23ª Vara Cível, elogiou-os por defender o interesse público. Justamente no Estado que sofre a apropriação indébita do seu patrimônio fundiário, com a mais escandalosa fraude de terras, a grilagem é protegida e quem denuncia o grileiro é punido.
◙ Lúcio Flávio Pinto é jornalista paraense
NA TERRA DE GALVEZ

O pai de Wilker estava entre os milhares de nordestinos que vieram para o Acre no começo do século passado. Ele passou 10 anos cortando seringa nas florestas acreanas e quando voltou ao Ceará gerou o filho que vai interpretar na minissérie o jornalista Luiz Galvez Rodriguez Aria, o primeiro presidente do país chamado Estado Independente do Acre.
Pois bem, a Mag Schimidt é cientista política e amiga há mais tempo do jornalista Antonio Alves, do blog O Espírito da Coisa. Ambos foram militantes da Libelu (Liberdade e Luta), um movimento de linha trotskista radical, quando "estudavam" na Universidade de Brasília. Usavam até codinome, acreditem. O do Toinho era "Manuel, o Audaz".

- Antônio e você fazem a política do quanto menos somos, melhor passamos. Não revelam em seus blogs o quanto essa cidade é bonita para não atrair turistas e continuarem a viver em paz. Estou impressionada com essas ruas e parques - dizia Mag enquanto circulávamos por alguns pontos da cidade antes de levá-la ao hotel.
Antes de cumprimentá-la na sala de desembarque, comecei a fotografá-la, o que serviu para atrair a atenção do público. Um marmanjo com caneta e papel na mão quis saber o nome da "atriz", mas tratei de despistá-lo dizendo que não ousasse se aproximar porque ficava irritada com os pedintes de autógrafo.
- Essa você me paga. A Mônica Bergamo fez a mesma sacanagem comigo, no Teatro Municipal de São Paulo, e ainda publicou a foto na Folha - disse Mag ruborizada.
Após o estrelato no Acre, Mag é capaz de aparecer no blog do jornalista Paulo Moreira Leite, do Estadão, outro amigo dela do tempo da militância estudantil.
É bem-vinda à terra de Galvez.
quarta-feira, 13 de setembro de 2006
JUIZ CONDENA FAZENDEIRO
O pecuarista é um dos cinco sócios da sociedade anônima de capital fechado. A empresa pleiteou e obteve financiamento público de mais de R$ 3 milhões para a compra de gado, sementes ou produtos e serviços afins. Parte desse montante foi desviado e justificada com documentos falsos.
O crime pelo qual José Tavares do Couto Neto foi condenado está previsto na Lei 7.492/86, que não permite que recursos provenientes de financiamento concedido por instituição financeira oficial possam ser aplicados em finalidade diversa da prevista no contrato. Além disso, a comprovação de ordenamento de despesas com notas frias caracteriza falsidade ideológica.
Nos autos foi demonstrado que valores foram desviados da finalidade do financiamento. Não há, por exemplo, explicação para R$ 1 milhão que foram transferidos para uma pessoa física. O relatório registra o total de R$ 2,7 milhões transferidos para pessoas físicas e jurídicas sem comprovação de sua aplicação nos objetivos do financiamento.
Apesar da fiscalização da Sudam ter reconhecido que o empreendimento possuia taxa de execução de 93,43%, os R$ 2,7 milhões foram desviados através de cheques nominais. Os gastos foram justificados com notas falsas e, apesar do projeto ter sido aparentemente concluído, não há como negar o desvio de enormes somas de dinheiro público e a justificativa desses gastos com documentos falsos.
O juiz assinala na setença que, "tratando-se de dinheiro público, quem o toma deve prestar contas com documentos idôneos. Não se trata de benevolência, favor ou mercê prestar contas. É imposição de lei e obrigação mínima a quem recebe recursos públicos que poderiam ser utilizados em educação, saúde, segurança, assistência social, infra-estrutura etc".
- O empresário pode investir na Amazônia com seus próprios recursos, hipótese em que não terá prestar contas do dinheiro que aplicou ou como aplicou. Mas se o empreendedor opta por utilizar financiamento público deve prestar contas de cada centavo, patenteando que o interesse público foi preservado e que aquele dinheiro público foi bem empregado e que foi revertido em proveito da sociedade que custeou aquele financiamento. Se esta obrigação, se esta condição não é simpática, cabe ao empreendedor não tomar dinheiro público, custeando suas empreitadas com recursos próprios - diz a sentença. O réu já recorreu da decisão.
Said Farhat
O acreano Said Farhat, ex-ministro, está sendo citado pela Justiça Federal para se apresentar e responder à ação penal movida contra ele pelo Ministério Público. Farhat é acusado de falso reconhecimento de firma. Ele teria falsificado assinaturas em documentos da empresa Indústria, Importação, Exportação e Comércio. Mais informações no site Notícias da Hora.
O CELEBRA E A PARADA GAY
Alô!
JP: Bom dia, Altino. Você sabe que sou evangélico, não é?
Sim.
JP: Sabe, vai ter um evento aqui no Acre chamado 4° Celebra. Evento evangélico e querem o cancelamento por causa da Parada Gay.
É impossível realizar os eventos simultaneamente?
JP: É impossível, meu caro. Impossível mesmo. Nosso evento é de 7 dias apenas, do povo evangélico. Você imagina quantas pessoas sairam das drogas, da prostituição porque aceitaram Jesus?
Não faço idéia.
JP: Muitas, Altino, mas agora querem cancelar o evento, que é de graça, para fazer uma Parada Gay. Estou com meu coração doendo.
Rapaz, procura logo um cardiologista. Com dor no coração não se brinca.
JP: Você não tem jeito mesmo. Você é a favor da Parada Gay?
Sou indiferente, mas todos têm o direito à livre manifestaçao.
JP: Mas você é a favor ou contra realizar a Parada Gay e cancelar nosso evento?
Que coisa, hein? Sou a favor que voces façam também a parada de voces. Sou a favor até que façam no mesmo dia. Basta estar disposto a isso. Ninguém pode impedir. O que acha?
JP: Posso ser sincero?
Seja, claro.
JP: Se a gente fizer no mesmo dia, o evento Parada Gay não acontece. A palavra do Senhor diz que maior é aquele que está em nós, maior do que aquele que está no mundo.
Eis então um bom motivo para realizar o Celebra.
JP: Mas não é comigo. Não sou eu quem decide.
Pois é, meu caro. Também não decido nada.
JP: Mas você é jornalista e poderia fazer alguma reportagem falando sobre isso.
É interessante a sugestão de pauta. Verei o que posso fazer. Onde seria realizado o Celebra?
JP: No Calçadão da Gameleira.
Valeu.
JP: Grato, Altino.
Por nada.
GRITO DE "GUERRA"

A região, que já foi alvo de conturbado litígio, acabou sendo julgada pelo STF como pertencente à Rondônia. Mas o senador petista quer mudar o mapa regional com o argumento de que Extrema e Nova Califórnia viraram "um fundo de quintal" de Rondônia.
Ele disse que toda a assistência às duas localidades e a seus habitantes é prestada pelo Estado do Acre.
- Rondônia virou as costas para aquele pedaço de terra, que tem que voltar a pertencer ao Acre - afirmou da tribuna do Senado.
Os petistas de Rondônia, especialmente a senadora Fátima Cleide, candidata ao governo, e o prefeito de Porto Velho, Roberto Sobrinho, botaram as mãos na cabeça quando tomaram conhecimento do pronunciamento de Sibá Machado.
Comentário de uma fonte petista deste blog em Rondônia:
- A atitude é inoportuna. Estamos no meio de uma disputa eleitoral. O que o senador defendeu é tudo o que o governador Ivo Cassol, candidato à reeleição, queria para nos dividir mais ainda. Além disso, o governador do Acre, Jorge Viana, está vindo para Porto Velho na sexta-feira para nos apoiar. Há tantos municípios acreanos necessitando de ajuda, enquanto o senador tenta anexar mais terras ao Estado.
Um dos dias mais patéticos de minha vida profissional aconteceu no final dos anos 80. Sílvio Matinello, Edson Luiz e eu éramos correspondentes no Acre do Jornal do Brasil, Globo e Estadão. Fomos destacados para acompanhar a movimentação das tropas da Polícia Militar, quando os governadores Jerônymo "Bengala" Santana, de Rondônia, e Iolanda Fleming, do Acre, declararam guerra pela posse da Ponta do Abunã.
Bem, o certo é que as duas vilas sempre estiveram abandonadas, mas agora estão sob a responsabilidade da administração do PT na prefeitura de Porto Velho. Nada que mais uma reunião dos petistas não possa deliberar pelo abafamento do novo grito de "guerra".
Leia mais na Agência Senado.
terça-feira, 12 de setembro de 2006
DEIXANDO O CORAÇÃO FALAR

Falar da trajetória do Binho Marques é algo que faço com misto de alegria e orgulho bom. O Binho educador-político, que acredita e defende o saber de cada ser humano e concebe a educação como processo transformador.
Com seu jeito de observador sensível, percebe o todo a partir das partes, vê em cada forma diferente de atuar a manifestação do potencial valioso que cada um é portador e que se completa no ideal maior do bem comum. Buscador habilidoso que sonha grande e executa passo a passo com determinação, sabedoria e humildade de quem conhece e sabe o que quer.
Acolhe e respeita o saber e vontade do outro e, numa conjugação de idéias e esforços, tudo faz para realizar o melhor. Conheço o Binho há mais de 20 anos. Desde a década de 80 na Universidade Federal do Acre (Ufac). Binho já defendia com determinação e independência uma educação de qualidade, consequente e compromissada com a vocação florestal e o meio social singular do Acre.
Lembro de sua atuação na Ufac, junto com toda uma geração de grandes idealistas, buscadores da verdade como Marina Silva, Quinha, Júlia Feitosa, Francisco Carioca, Aníbal Diniz, Tácio de Brito e tantos outros que me é impossível nominar, mas que quero, ao citar esses, homenagear cada coração que defende a ação transformadora da educação como vocação propulsora, meta e meio de vida.
A Ufac é hoje melhor pela atuação do Binho e de tantos que, como ele, nos ajudaram a buscar a cada dia melhorar nossa forma de ser enquanto educadores.
É com a consciência livre de quem acredita na educação como processo e meio de dignificar cada forma de vida, refinar cada ser humano, ajudar a manifestar e a respeitar cada valor potencial, cada habilidade e saber que possibilita reconhecer a inteireza e o que cada um é essencialmente, que quero continuar acreditando na educação que inclui, para alcançar um mundo melhor.
Um dos aspectos que me encanta e enche meu coração de vontade de continuar cada dia mais defendendo o caminho da educação é a possibilidade de poder manifestar a admiração e confiança que nutro pela congruência do Binho. Ele, que bem sabe manifestar coerência entre sua fala e sua ação, seu discurso e cada atitude praticada, no exercício cotidiano de suas diferentes atribuições de cidadão, educador e homem público, na trajetória realizadora em favor do Acre e sua gente.

Por acreditar nesta geração que aí está a oferecer seu empenho à causa de um Acre cada vez mais desenvolvido e humano para todos, me coloco e ouso convidar a cada educador, homem e mulher, trabalhador, pai e mãe, jovem, e cada cidadão de bem, que tem sonhos e fazem de sua vida o bem maior e, como Binho, acreditam na possibilidade de sermos mais humanos a cada dia, através do ideal da educação e trabalho dignificante.
É por isso que os convido a dizer sim, a votar no Binho, para que ele possa dar continuidade ao trabalho que tem sido idealizado junto com Jorge Viana, Tião Viana, Aníbal Diniz, Marina Silva, Perpétua Almeida, Raimundo Angelim e tantos outros que ajudam a construir o Acre digno e justo que queremos e sonhamos.
◙ A professora de história Cleusa Maria Damo Ranzi enviou o texto com a seguinte mensagem: "Caro Altino! Senti vontade de escrever algo sobre o Binho e meu desejo de que ele vença a eleição para dar continuidade ao trabalho que realiza pelo Acre que queremos. Gostaria que desses uma olhada e se concordas seja publicado em seu Blog. Aceito sugestões para melhorar". Querida Cleusa, o texto está perfeito e expressa o respeito, a admiração e o carinho de todos que conhecem Binho Marques, o candidato do PT ao governo do Acre.
NÃO É UM OBJETO

A obra reúne vinte poemas ilustrados com imagens diversificadas, de fotos do álbum de família a colagens com motivos cinematográficos. O projeto é mais uma possibilidade artística de reflexão sobre a poesia e sua interação com a pintura, a fotografia, o desenho e o cinema.
A materialidade do livro, que causa inquietação aos autores desde a invenção da tipografia, motivando as vanguardas, é questionada mais uma vez nessa publicação independente. Cada poema-postal pode ser destacado e enviado separadamente ou, ainda, mantido em conjunto.
Os poemas-postais já estão disponíveis no site do escritor, do qual podem ser enviados gratuitamente por e-mail. Ao acessar o site, é possível também fazer o pedido da edição impressa, que custa R$ 30,00.
Cesar Garcia Lima nasceu em 1964, em Rio Branco. É jornalista pela Faculdade Cásper Líbero, de São Paulo, e Mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Atualmente, é professor universitário do curso de Pós-Graduação em Jornalismo Cultural da UERJ e de Cinema da Universidade Estácio de Sá.
Participou de várias antologias poéticas junto ao Cálamo, grupo de pesquisa e criação literária, em São Paulo, e publicou Águas desnecessárias (1997, Nankin Editorial). Promove oficinas literárias, mora no Rio de Janeiro desde 1995 e trabalha também como roteirista de TV. É autor de "Águas desnecessárias" (Nankin Editorial, 1997).
A TERCEIRA MARGEM DA ALMA DE ADÉLIA
Cesar Garcia Lima
Adélia Prado chegou a Parati atenta à condição humana, para ela, “sempre miserável”, recitando os poemas que fizeram dela referência de uma poesia mística e, ao mesmo tempo, carregada de carnalidade. Desde a primeira vez que a vi em público, no MASP, em São Paulo, nos anos 80, é como se uma parente do interior se pusesse inesperadamente em cena, com uma bandeira do Divino nas mãos, com versos livres assumidamente religiosos, mas que não escamoteavam o desejo. Isso trouxe, de alguma maneira, certo alívio para um país cerceado por uma moralidade hipócrita e excessiva reverência para a voz de cada um diante da fé.
Agora, Adélia se coloca desamparada diante da passagem do tempo que branqueou seus cabelos, clamando por Deus. Paradoxalmente, ela remete mais do que nunca ao que é material. À parte seu discurso sobre a falta de sentido do mundo, suas reflexões filosóficas e a busca do simbólico “carregado de afeto”, ainda são as observações mais simples que mostram a voz desconcertante da mineira de Divinópolis que chamaram minha atenção.
É assim que, em Parati, Adélia aponta a "falta de pertença" da família indígena que vende artesanato nas ruas do centro histórico, um contraste com os ventos de politização que caracterizam esta quarta edição da FLIP, cheia de referências à Palestina, invasão do Líbano e dúvidas sobre o futuro de Cuba. A própria Adélia aponta que é impossível rir ao se falar que a invasão do Iraque tem como objetivo implantar a democracia. Mas a poeta busca seu refúgio maior na transcendência, dizendo que o “mistério é constitutivo da nossa natureza”. Com sua escrita caudalosa, Adélia está em busca do que chama de “terceira margem da alma”, referência a Guimarães Rosa, algo como “o mistério do símbolo que tranqüiliza, mas que é melhor não entender”.
Com desconcerto, Adélia diverte a platéia ao dizer que "às vezes é possível cismar com um dedo da própria mão e não se dar conta de que está tendo uma experiência poética ou mística.". É nesse ar doméstico e ao mesmo tempo original que ela resiste, preocupada com a finitude e um pouco mais temerosa do que de costume ao dizer que “o artista verdadeiro tem que nascer velho, para não se confundir com sua própria criação”. Desconfio que, por acreditar na vida eterna, a poeta ainda possa mudar de idéia sobre esse assunto.
O PREÇO DO PANGARÉ
Diogo Mainardi, colunista da revista Veja, enfrenta oitenta e tantos processos individuais num tribunal do Acre
Quem acessar o serviço de consulta processual do Tribunal de Justiça do Acre pode conferir a lista dos nomes das pessoas dispostas a processá-lo.
As reclamações contra o colunista foram protocoladas entre os dias 7 de julho e 29 de agosto no 1º Juizado Especial Cível.
A audiência de conciliação já foi designada pela juiza Solange de Souza Fagundes para o dia 27 de setembro, às 8h30. Improvável que haja conciliação entre as partes.
Caso seja condenado a pagar indenização a todos, Mainardi terá que desembolsar quase R$ 600 mil por ter dito em maio, durante o programa Manhattan Connection, que o Acre não vale um pangaré.
Os reclamantes alegam que a declaração de Mainardi lhes causou “grave lesão à honra”. São acreanos ou pessoas oriundas de outros Estados que vivem no Acre.
Para acessar a lista, clique aqui. Em consulta processual, pesquise por "nome da parte", digite Diogo Mainardi, escolha como comarca Rio Branco/Juizado Especial. E clique em "OK".
O Acre é ou não é uma terra positivamente estranha?

A juiza Solange Fagundes homologou a decisão proferida pelo juiz leigo Vladimir Polizio Júnior no processo em que Rachel Dourado da Silva (foto) pleiteava R$ 3 mil de indenização por dano a honra em decorrência do post "Venda de Kambô no Orkut". Foi o terceiro processo arquivado pela justiça contra o blog nesse ano. Enquanto torço por Mainardi, leiam a decisão:
"Dispensado o relatório por disposição de lei (art. 38, Lei 9.099/95). Trata-se de ação de indenização a dano a honra subjetiva oriunda de matéria publica da na Rede Internacional de computadores, cujo conteúdo teria causado prejuízos indevidos à demandante. Ab initio, não se vislumbra do teor do texto publicado na Web, no "Blog do Altino", nenhum conteúdo hábil a embasar a reparação pelo dano à honra subjetiva perquirida pela autora, a uma por que exerce seu papel de jornalista, repercutindo o conteúdo de uma comunidade criada pela reclamante, destinada para debates sobre uma secreção extraída de sapos; a duas, por que a fotografia utilizada pelo reclamado era de domínio publico, retirada que foi retirada página pessoal da autora junto ao Orkut. Assim sendo, não existe lastro ao pleito exordial pela ausência de qualquer dano à esfera subjetiva da honra da reclamante que extrapole aos dissabores corriqueiros da vida em sociedade, que o próprio cotidiano nos impõem. Ressalte-se, ademais, a restrição imposta pela agência Nacional de Vigilância Sanitária, que inibe divulgação de produtos relacionados ao Kambô, de sorte que a demandante, sendo "dona" da comunidade destinada aos debates do uso daquela substância, fl. 05, assumiu o risco de ver-se divulgada, ainda mais em se tratando de comunidade pública junto ao Orkut. Diante do exposto, com lastro do art. 269, I, do CPC RESOLVO o processo, com apreciação ao mérito, rejeitando o pedido inicial".
segunda-feira, 11 de setembro de 2006
SEMENTES DA AMIZADE

Entro no seu blog e pergunto: cadê as minhas sementes, aquelas que vão germinar? Ia só perguntar isso, mas agora embalei.
Cadê todas as sementes ressequidas que não foram? Não, eu não as varri para debaixo do tapete, mesmo porque não tenho um. Implico com tapetes, piso no chão, doa a quem doer.
Cadê os augúrios que certezas bobas me trouxeram ainda ontem, quando pensei que fosse possível esquecer o inolvidável?
Amor, meu velho, falo de amor, de paixão, mais que isso, de coração estraçalhado, esse que vos murmura agora.
Ai, ai. Te peguei pra Cristo, meu camarada, mas te deixo súbito, porque como diz essa gíria paulista/carioca hedionda, ninguém merece.
Só pra esclarecer: quero mesmo a semente que vai germinar, a de mogno, que um dia você vai me mandar.
E vou de encontro às minhas próprias idiossincrasias. E te abraço, que de ti lembro muito e sempre.
◙ O jornalista Luiz Caversan foi repórter especial e diretor da Sucursal do Rio da Folha de S. Paulo. Escreve crônicas sobre cultura, política e comportamento aos sábados para a Folha Online. Havia colhido na floresta, em Brasiléia, alguns punhados de sementes de mogno para ele. Não germinaram (leia as crônicas Mundo Novo e O bem-te-vi e o mogno) as sementes que Caversan levou quando de sua passagem pelo Acre, em 2002. É a segunda vez que clama pelas sementes que prometi. Elas estavam guardadas numa gaveta, mas foram devoradas por algum bicho e viraram palha. Amanhã mesmo irei à loja do Dr. Raiz. Quem sabe sairei de lá com novas sementes e alguma receita de cura para o coração estraçalhado de meu amigo. A foto acima é do meu pé de mogno.
MARCOS VICENTTI

- O diferencial do trabalho está na amostra de corpos de pessoas anônimas, sem a exigência de expor um modelo de beleza, mas valorizar o ser humano como um todo - diz Vicentti, que começou a carreira como motorista e distribuidor de jornal do diário Página 20, onde também nos servia café na redação.
Durante uma emergência, sem fotográfo na redação, Marcos Vicente foi mandado de improviso com uma máquina na mão para cobrir um incêndio numa indústria de laticínio. As fotos ficaram boas e foram publicadas com o artístico sobrenome Vicentti. Nunca mais voltou a entregar jornal e foi contratado como fotógrafo. Ele é o melhor repórter fotográfico do Acre com quem já trabalhei. Além da competência, seu 1,86 m de altura impõe respeito em certos ambientes do faroeste acreano.

- Quando fui convidado por Moisés Alencastro para fazer as fotos para esta exposição comentei que não havia tempo suficiente, pois elas precisavam ser trabalhadas. Ele então me disse que se tratava de uma questão de honra que a exposição acontecesse. Eu, como não gosto de fugir de desafios, aceitei e fui em frente. O difícil foi acharmos pessoas que posassem nuas. Muitas das que foram convidadas chegaram a questionar o fato de morar em uma cidade onde todos se conhecem, outras cobraram até cachê.
No primeiro dia de fotos, Alencastro marcou com cinco pessoas numa academia de Rio Branco. Apareceram duas, cada uma mais tímida que a outra.

Vicentti com Alencastro que não daria tempo. No segundo dia, marcaram com mais oito pessoas numa loja da cidade. Então, aos poucos, chegaram a mais de quinze "modelos". Das 22 horas até às 3 horas, tudo ocorreu acima do esperado.

- Gostaria de agradecer a algumas pessoas que contribuiram com esses belos corpos que vocês conhecerão. Esta exposição fotográfica, que pela primeira vez acontece no Acre, não deixa nada a desejar em relação a outras amostras que acontecem pelo Brasil. Agradeço de coração a minha esposa Edjane Pinheiro, ao diagramador Fernando de Castro e ao amigo Moisés Alencastro pela confiança. Mais uma vez agradeço às pessoas comuns que fotografei, desde a dona de casa, a secretária, a empresária, os atletas e os anônimos. Para fazer o nu artístico não é necessário ter um corpo escultural, mas apenas a sensibilidade e gostar de si mesmo - ensina Vicentti.
DIOGO MAINARDI E O ACRE
"O segundo mandato de Lula será uma chatice. Já estou me preparando para o pior. Os lulistas querem comprar a imprensa. É o método deles. Compram tudo. Compram jornalistas, compram deputados, compram nordestinos pobres. Quem não quiser o dinheiro deles terá de se arranjar. No caso da imprensa, o ataque será indireto, por meio dos tribunais. Nesse ponto, sou uma espécie de cobaia dos lulistas. Nos últimos anos, eles apresentaram um monte de denúncias contra mim. Perdi a conta de quantas elas são. Mais de 100. A mais extravagante de todas é a dos acreanos. Meses atrás, no Manhattan Connection, comentando a frase de Evo Morales de que a Bolívia havia cedido o Acre em troca de um cavalo, respondi ironicamente que aceitaria o cavalo de volta. Uma deputada federal do PCdoB, Perpétua Almeida, mandou os funcionários de seu gabinete recolher assinaturas de acreanos dispostos a me processar. Oitenta e tantos apareceram. O resultado é que tenho oitenta e tantos processos individuais num tribunal do Acre. É como se os moradores de Pelotas processassem Lula por seu comentário ofensivo sobre a cidade. Processem-no, pelotenses.
Muita gente me considera a versão barata de Paulo Francis. Ele enfrentou um processo de 100 milhões de dólares da Petrobras. Eu enfrento processos de 7 000 reais de oitenta e tantos acreanos. Perpétua Almeida é minha Petrobras. Dei uma olhada nos projetos de lei de sua autoria. Um deles obriga todos os órgãos federais a comprar e a expor obras de artistas nacionais. Outro estende a Voz do Brasil para a televisão. Eu sou a versão barata de Paulo Francis. O lulismo é a versão barata do que a gente queria para o país".
Leiam mais no blog Ambiente Acreano ou na revista Veja
THE BOBs
Em seguida, um Júri internacional, composto de jornalistas independentes, pesquisadores da mídia e peritos em weblog, nomeará dez finalistas em cada categoria do concurso.
No período de 23 outubro até 11 de novembro, serão escolhidos os vencedores dos prêmios dos usuários através de votação online. O júri se reunirá no dia 10 de novembro, em Berlim, para escolher os vencedores dos prêmios do júri.
O júri premiará os melhores candidatos em cada uma das 15 categorias. Os ganhadores dos prêmios do júri receberão como prêmios Apple MacBook e Apple iPod Video.
É possível sugerir várias vezes um mesmo weblog. O júri poderá constatar quantas vezes um weblog foi sugerido como candidato a um prêmio. Isso poderá servir de critério de decisão para a nomeação como finalista, embora não seja determinante.
Eis alguns comentários que leitores daqui deixaram lá:
Independent, serious but well humored, ecological concerned, poetic sometimes, very good information abot amazon way of life. Excellent! (Margrit Schmidt)
"A Great Brazilian Blog!" (Tiago Juruá)
"Altino Machado é um jornalista sincero e competente. Suas informações são consistentes e nos ajudam a refletir sobre a Amazônia". (Francis Mary)
"Really independent, really professional at the same time (Roberto Smeraldi)
"This is an interisting jornalistic blog, with a numerous range of information about amazonian issues!" (Roberta)
"É de grande importância o trabalho que você vem fazendo, traduzindo em miúdos tudo o que acontece no Acre/Amazonia, de forma própria e muito autêntica. Acessando o teu blog, me dou conta de tudo o que acontece por aí, desde política, desenvolvimento, cultura, social,enfim... Só tenho que te desejar muitos, muitos anos de vida, aqui e agora, e que o teu trabalho seja realmente inovador, reconhecido e abençoado por Deus e por nós, seres humanos! Sorte, alegrias e encantamentos, sempre no seu caminhar!!! Guerreiro da paz!!! (Mariah Flor)
ACRE NA FOLHA DE S. PAULO
Grupo do governador, forte candidato a um ministério caso Lula se reeleja, fecha coligação com PP
Um dos pais do acordo é o ex-deputado Ronivon Santiago, envolvido nos escândalos da compra de votos e dos sanguessugas
FÁBIO ZANINI
ENVIADO ESPECIAL A RIO BRANCO
Oito anos após ter despontado na política com a promessa de tirar o Acre das páginas policiais, o grupo ligado ao governador Jorge Viana (PT) recorreu às mesmas personagens que antes combatia para se manter no poder.
Forte candidato para o ministério em um eventual segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, Viana conquistou o apoio do ex-governador Orleir Cameli (1995-1998), o mesmo que era caracterizado por ele como responsável pelo "desmonte" do Estado.
Cameli entrou no barco petista junto com seu primo Cesar Messias (PP), ex-prefeito de Cruzeiro do Sul (segunda cidade do Estado), indicado vice na chapa do PT ao governo.
Do lado do PP, um dos pais da aliança é o ex-deputado Ronivon Santiago, presença constante nos grandes escândalos dos últimos anos -compra de votos, valerioduto e sanguessugas.
Mas ele não pôde ver o resultado final de seu trabalho. Foi preso pela Polícia Federal poucas horas antes da apresentação da coligação, em 4 de maio.
Figura ainda na frente petista o PL de Aureliano Pascoal, ex-secretário de Segurança Pública de Cameli e primo de Hildebrando Pascoal, símbolo do "faroeste" que o PT combatia. Hildebrando, preso desde 1999 por mandar matar um adversário com uma motosserra, comandava a PM do Estado.
Há oito anos, o PT dizia que o Acre era palco de uma luta do bem contra o mal, este simbolizado por Cameli e Ronivon. Como dizia Jorge Viana à época: "São grupelhos que se organizaram e atuam como bandos. Tudo coordenado por um governador [Cameli] que não tem currículo, mas folha corrida".
A "folha corrida" de Cameli incluía, além dos muitos CPFs, acusações de desvio de recursos, a apreensão de um Boeing de sua família com contrabando e a intermediação da compra de deputados para aprovar a reeleição no Congresso.
O bem, no maniqueísmo vigente, era representado pelos "meninos do PT" -Jorge, o senador Tião Viana e a ministra Marina Silva (Meio Ambiente). Hoje quarentões e grisalhos, assumem o pragmatismo.
"Um governo que é aprovado por 70% não pode ficar chutando pessoas que queiram apoiar nosso projeto.[...] Qualquer apoio estamos aceitando com gosto", diz Viana, 46. Mas não haverá concessão, nem há compromisso com a partilha do governo, promete. "Nosso projeto não mudou um milímetro".
Os petistas agora tentam caracterizar Ronivon como uma figura secundária. "O PP não está preso a ele. O Ronivon não negociou acordo nenhum", afirma o governador.
Na verdade, o ex-deputado continua apitando no partido. Seu irmão Carlinhos Santiago preside o diretório estadual do PP. Segundo ele, Ronivon -que, depois da prisão, tem se mantido nas sombras e não atendeu à Folha- teve "participação ativa" na aliança.
Cameli, embora formalmente afastado do PP e há oito anos sem mandato, mantém-se influente na política acreana. Sua base é o vale do Juruá, de 120 mil habitantes, na fronteira com o Peru, que sempre foi reduto anti-petista.
"O Cameli é uma liderança inquestionável, adorado na sua região. Existe uma diferença muito grande entre o que sai nos jornais e o que a população sente", diz Binho Marques, candidato do PT ao governo.
A aproximação de PT e PP veio aos poucos. Desde o início do ano, Cameli passou a receber uma romaria de petistas e antigos aliados. Vendiam a ele as vantagens da união. "A aliança abriu a perspectiva da volta dele à política", diz o deputado José Bestene (PP).
Em 26 de maio, após o ex-governador ter sido devidamente "amaciado" por meses, a cúpula do PT desembarcou em Cruzeiro do Sul para o lance final.
Do aeroporto, uma comitiva liderada por Binho e Tião foi ao escritório dele, no centro da cidade, buscar a bênção do "Barão do Juruá", como é conhecido. Os petistas pediram a Cameli que relevasse as rusgas em nome da união do Acre.
O "Barão" ensaiou suspense: queria antes garantias de que seu sobrinho e herdeiro político, Gladson Cameli (PP), seria um dos puxadores de voto da coligação para deputado federal. Trato feito, o anúncio do apoio do ex-governador veio no início de julho. Ele diz que apóia o PT por ter "a melhor proposta" para o Acre.
O PT calcula que o ganho por ter fincado bandeira no Juruá compensa o desgaste. É um risco, pois o principal oposicionista, Márcio Bittar (PPS), não se cansa de apontar "incoerência". "Estamos recebendo o apoio de pessoas que nunca gostaram de nosso projeto, mas reconhecem que o Acre mudou", diz Jorge Viana.
Os erros dos ex-adversários não sumiram, afirma o governador. "Quem destruiu o Acre tem que acertar as contas com a Justiça. Mas, se querem votar no PT, vamos impedir?".
entrevista
Ex-governador diz que não guarda mágoas
DO ENVIADO A RIO BRANCO
O ex-governador Orleir Cameli diz que não guarda mágoas do PT e que apóia o partido por ter a "melhor proposta". Em entrevista por telefone, ele se irritou ao ser questionado se iria indicar nomes para o governo. (FZ)
FOLHA - O sr. vai fazer campanha para o PT, pedir voto?
ORLEIR CAMELI - Estou pedindo direto. Para mim, a melhor proposta é a deles. A gente tem quase certeza da reeleição do Lula. Não dá para ter um governador de oposição ao governo.
FOLHA - Mas o PT batia duro.
CAMELI - Eu não guardo mágoa, meu irmão. Eu faço meu trabalho. Se fosse guardar mágoa, não falaria com ninguém.
FOLHA - Quem fez a aproximação com o PT?
CAMELI - O senador Tião Viana e o Binho [candidato do PT ao governo], há três meses. Não tenho que lhe dar satisfação, não sou político. Você está enganado em fazer essa investigação da minha vida.
FOLHA - Não é investigação...
CAMELI - [irritado] Vocês continuam com a mesma linha de querer atacar as pessoas, para depois ficar metendo o pau. Vocês são os donos da razão, patrão. Estou apoiando por livre e espontânea vontade. Tem algum problema? Você deveria parar com esse perguntatório.
FOLHA - É que o Jorge Viana era seu adversário aí, e agora...
CAMELI - Como os outros eram também. O Lula era adversário do pessoal do PMDB e agora está todo mundo junto. Por que você não investiga eles?
FOLHA - E como isso está sendo recebido pela população?
CAMELI - Isso eu não sei, não posso te garantir. Quem vai dizer é a população nas urnas.
FOLHA - O sr. vai participar do governo ou fazer indicação?
CAMELI - Como é teu nome?
FOLHA - Fábio.
CAMELI - Fábio, eu não vivo disso, tenho os meus negócios, tenho o meu trabalho. Não quero saber de apoiar governo por cargo.
FOLHA - Durante quantos anos o sr. teve contato com Jorge Viana?
CAMELI - Converso com ele desde que se elegeu.
FOLHA - Ele dizia que tinha que combater o crime organizado, varrer o coronelismo, simbolizado pelo senhor.
CAMELI - É verdade, exato. Não foi só ele que fez isso, não, foi muita gente.
FOLHA - Mas o sr. acha que a população vai entender isso?
CAMELI - Escuta aqui, tu tá querendo o quê? Tá querendo me convencer que eu não tenho que apoiar?
Petista acelera inauguração de grandes obras
DO ENVIADO A RIO BRANCO
Na reta final da campanha eleitoral, o governador Jorge Viana (PT) vem mantendo um ritmo acelerado de inaugurações de grandes obras.
Na última terça, Viana e o prefeito de Rio Branco, Raimundo Angelim (PT), entregaram a reurbanização da maior praça do centro da capital acreana, a Plácido de Castro. O projeto de R$ 3,7 milhões é assinado pelo escritório do paisagista Burle Marx.
Há um mês, Viana inaugurou a restauração do Mercado Velho, uma grande área do começo do século 20 que estava degradada. Há outro mercado para ser entregue antes da eleição, uma ponte para pedestres com design futurista e um estádio com capacidade para 20 mil pessoas que está previsto para outubro.
"Estou separando direitinho governo de campanha. Agora, não posso parar de governar por causa do calendário eleitoral", rebate o governador.
A popularidade de Viana, que chega a 70% em pesquisas locais, é o maior combustível para o petista Binho Marques, que começou com traço e alcançou 42% no último levantamento feito pelo Ibope, contra 35% de Márcio Bittar (PPS).
CIDADÃ LIVRE

A candidata a deputada federal Antônia Lucia, da coligação Frente Popular, disse numa reunião no bairro Sobral, no dia 7 de setembro, que vai lutar para impedir casamento entre gays e, pior, que gays e lésbicas sejam professores, para que não possam dar mau exemplo aos alunos.
Quero alertar a todos sobre esse fundamentalismo em plena Semana da Diversidade, patrocinada pelo governo e, ainda, lembrar que o programa "Não à homofobia", do Governo Lula, foi lançado aqui no Acre, no ano passado.
Gostaria de sugerir ao Elson Martins, que escreveu longo artigo no blog, que leia o livro "Cidade Febril", de Sidney Challoub.
Quanto à questão do nome do Acre, digo o seguinte: existe um lugar chamado Acre, próximo ao Mar da Galiléia. Na verdade, é São João do Acre.
Acredito que o nome "Acre" tenha a ver com essa cidade do Oriente Médio e nada a ver com o nome indígena Aquiry. Para os nordestinos, "os índios estavam logo abaixo dos pretos e pouco acima dos macacos".
A cidade de Boca do Acre (AM), por exemplo, tem como nome original Nossa Senhora da Boca do Acre e um vereador, em 1948, eliminou o Nossa Senhora, deixando só Boca do Acre.
Antes que me quesqueça: passei o sábado em função da visita de Heloísa Heléna à nossa capital, participei da carreata, caminhada pelas calçadas e debate à tarde.
Foi o dia mais importante da minha vida de cidadã desde os tempos do movimento estudantil na universidade. Há 30 anos não me sentia tão livre e realizada como cidadã.
◙ Fátima Almeida é historiadora, professora, crítica e cidadã acreana, a quem consultei sobre a origem do nome Acre. Ela aproveitou a oportunidade para responder com algumas provocações e autorizou a reprodução de sua mensagem neste blog. Na sexta-feira, às 19 horas, no auditório do Departamento de Ações Básicas de Saúde, como parte da Semana da Diversidade, Fátima Almeida debaterá o filme "Má educação", de Pedro Almodóvar.
ALÉM DO CIDADÃO KANE
Trata das relações sombrias entre a Rede Globo de Televisão, na pessoa de Roberto Marinho, com o cenário político brasileiro.
Os cortes efetuados na edicão do último debate entre Luiz Inácio da Silva e Fernando Collor de Mello, que influenciaram a eleição de 1989.
Censura a artistas, como Chico Buarque que por anos foi proibido de ter seu nome divulgado na emissora.
Criacao de mitos culturalmente questionáveis e veiculação de notícias frívolas e tolices em programas de auditório.
Depoimentos de Leonel Brizola, Chico Buarque, Washington Olivetto, entre outros jornalistas, historiadores e estudiosos da sociedade brasileira.
Clique qui para assistir ao "Beyond Citizen Kane", com 1h33min de duração, que já foi visto por mais de 100 mil pessoas na internet. O vídeo pode ser baixado facilmente no site Mídia Independente.
domingo, 10 de setembro de 2006
MODERADAMENTE OTIMISTA
Sim, Aníbal e Altino, será maravilhoso ter o Binho Marques (PT) eleito governador no primeiro turno. Mas permitam-me dizer que os números das pesquisas, por enquanto, nos autorizam apenas um otimismo moderado e nos induzem a um cuidado redobrado.
Já perdemos eleições com números mais favoráveis. Lembro de uma, particularmente dolorosa: no início de setembro de 1996, nosso candidato, Marcos Afonso, tinha 17 pontos de vantagem sobre Mauri Sérgio, do PMDB.
Foi quando o jornalista Antonio Stélio publicou uma nota no jornal Página 20 contendo duas dúzias de impropérios contra o candidato do PMDB, inclusive a famosa expressão "pederasta arrependido", que propiciou ao ofendido candidato uma intensa campanha de vitimização.
Chegamos à véspera da eleição com apenas 7 pontos de vantagem e o esquema "azulão" garantiu a virada no dia.
É certo que as circunstâncias são bem diferentes (incluindo o alívio de ter agora o Stélio na campanha adversária), mas este episódio e muitos outros me ensinaram que pesquisa é algo para consumo interno, análise de detalhes e correção de rumos na campanha, mas não serve para fazer previsão de resultados.
Estou otimista quanto à vitória do Binho porque é o que vejo nas ruas, nos ônibus, nos mercados, na conversa com as pessoas.
Moderadamente otimista, repito.
◙ O jornalista Antonio Alves é dono do blog O Espírito da Coisa. O texto acima foi enviado como comentário ao artigo "Binho vence no 1º turno", de autoria do jornalista Aníbal Diniz, publicado ontem nesse blog.
DEDICADO FOSTER BROWN
Admiro a dedicação do pesquisador americano Irvin Foster Brown, do Parque Zoobotânico da Universidade Federal do Acre.
Doutor em geoquímica, desenvolve estudos nas áreas de dinâmica do uso da terra e florestas, gerenciamento e educação relacionados a recursos naturais e mudanças globais.
Na semana passada, estávamos todos preocupados com a fumaça, o calor e baixa umidade na região. Na quinta-feira, esse blog publicou o alerta dele sobre incêndios e a previsão de que poderia chover no domingo na região. Choveu.
Foster Brown é um incansável pesquisador, que trabalha nos domingos e feriados em defesa de nossas florestas. Veja o boletim que enviou hoje:
"Caiu chuva durante a madrugada até às 9 horas em Rio Branco. O capitão Batista reportou 20 mm de chuva no pluviômetro da Defesa Civil do Acre até às 6 horas da manhã - o total vai ser mais. Também informou que há noticias de chuva em todo o leste do Acre.
A previsão de tempo para Rio Branco do CPTEC indica possíveis chuvas no próximos dias com nuvens e alta úmidade relativa.
Houve um erro ontem. A cota do Rio Acre no dia 9 de setembro mudou de 2,00 m a 1,98 m e baixou até 1,94 m, à tarde. Hoje pela manhã, a cota esteve a 2,10 m. A cota mínima de 1,94 m já coloca o mês de setembro com a segunda menor cota em 36 anos de observaçoes - a menor foi a de 2005.
Isso signfica que há pouca água no subsolo e estamos numa seca séria, apesar das chuvas.
Quando a cota está tão baixa, a área transversal do rio está muito menor do que em condições normais. Consequentemente, um pouco aumento de vazão produz um aumento consideravel da cota.

Notáveis são as altas concentrações na região de Tarauacá e Feijó, no Acre. Baseado nas setas de vento do modelo, a poluição de fumaça no dia 9 setembro, no leste do Acre, está vindo do oeste e do norte, além de geração local.
Os focos de calor, de 9 a 10 de setembro, até às 7 horas, foram:
Pando...........................................83
Acre...........................................239
(Tarauaca/Feijo/Bujari/Sena Madureira)
Madre de Dios...................................71
Tambopata.......................................44
Tahuamanu.......................................27
(Nota: concentrações perto de Iñapari e Iberia)
Ucayali..........................................?
Puerto Inca.....................................38
Quando tentei combinar os dados, parece que há inconsistências. Porém, há muitos focos perto de Pucallpa.
As fronteiras Iñapari, Assis Brasil, Cobija - Brasiléia, Epitaciolândia, Plácido de Castro, Capixaba - Santa Rosa do Abunã têm altas concentrações de focos de calor.
Notem que Madre de Dios e Ucayali agora estão tendo altas concentrações de focos.
Foster Brown"
UMA VIDA TÃO RICA

Lee Dawson
Caros amigos e colegas,
Vanessa Annabel Schaffer Sequeira era minha grande amiga. Eu encontrei Vanessa no final de 2004 em Bangor, no Reino Unido, e até poucas semanas atrás dividíamos uma pequena casa de madeira enquanto eu estava fazendo minha pesquisa no Acre. Nós trabalhamos juntos na Amazônia, nós passamos incontáveis horas conversando nas varandas de várias casas, e sentados nos barrancos dos rios, debaixo de um céu tão cheio de estrelas que parecia que tínhamos deixado a terra e estávamos sentados no espaço.
Nós conversávamos profundamente sobre a vida, o meio ambiente, sociedade, política, amor, e qualquer coisa imaginável. Outras vezes, sentávamos juntos em silêncio, fumávamos nosso cigarro, e mutuamente apreciávamos o som da floresta e do mundo ao nosso redor, não precisando dizer nenhuma palavra ao outro, e sempre sabíamos sobre o que o outro estava pensando.
Nós dois simplesmente contemplávamos o prazer da vida, o silêncio, a paz e o fato de estarmos vivos. Tornamo-nos amigos próximos, e desenvolvemos uma forte conexão por causa das nossas similaridades e diferenças. Ela era uma linda mulher, cheia de convicção, dinamismo, coragem, e um profundo senso de justiça social e amor pela floresta e sua gente. De fato, ela era uma das mais raras e inspiradoras mulheres que alguém espera encontrar um dia.

No domingo, dia 3 de setembro, Vanessa foi violentada até a morte em uma pequena reserva florestal no Estado do Acre - Brasil.
Na quinta-feira, nós a enterramos no cemitério de uma pequena vila de Sobrainho dos Gaios, um lugar que ela sempre falava e sonhava em retornar um dia. A vista do Vale do Ouro e das oliveiras de Portugal eram de tirar o fôlego.
A enorme multidão que apareceu veio de muitas partes do mundo. A rapidez com que tudo aconteceu evitou que muitos participacem da cerimonia. Apesar disso, a mobilização de muitos que vieram foi um maravilhoso crédito para sua vida, e uma lembrança do efeito que ela tinha na vida de todos. Idéias de memorial estão sendo discutidas do Brasil à Bali; do Nepal ao Peru. Enquanto ela retornava para casa, para o lugar que ela amava profundamente, incontáveis pessoas ao redor do mundo estavam tristes pela perda de uma amiga verdadeira e de um excepcional ser humano.
Vanessa era de fato um enigma, era uma inspiração para muitos, e tinha uma vida com méritos de celebração; eu quero fazer todos saberem disso.
Quando você ler isto, segure o nó na gargante e converta isto para promover justiça no mundo. Vanessa devotou sua vida para isto, e eu nunca cessarei de ser inspirado por sua coragem e dedicação. Eu me sinto muito orgulhoso de ter conhecido uma mulher tão esplêndida.
“Ness”, você estará sempre entre nós, e seu legado sobrevivirá conosco.
◙ O depoimento do inglês Lee Dawson foi publicado no blog Reservas Extrativistas. Vale a pena vistar o blog para conferir o artigo do Carlos Valério Gomes, estudante de doutorado em geografia, da Universidade da Flórida. Ele revela, por exemplo, que Vanessa fora acusada como biopirata ao Ibama e à Polícia Federal por um pescador da região onde atuava. Valério faz alguns questionamentos: "O assassino de Vanessa até agora não confessou o crime, e de fato novos detalhes podem aparecer se ele resolver falar. Indagações, neste caso, ainda são bem pertinentes. Será que a denúncia sem sucesso contra Vanessa havia despertado algum sentimento de vingança para estes que estão desenvolvendo alguma atividade ilegal na comunidade? Será que Vanessa foi vitima de um crime previamente tramado? Se sim, será que o assassino estava de fato sozinho? Será que seu passado de criminoso despertou sua intenção de assassiná-la pensando que ela era de fato uma policial? E a Policia Federal e o IBAMA, o que fizeram ao constatar que a denuncia era infundada? Verificaram o perfil do denunciante? Isto poderia ter evitado a morte de Vanessa? Não sabemos nada disso, nem a polícia tem investigado tais possibilidades, até onde a imprensa local tem informado. Mas no minimo devemos questionar..."