sexta-feira, 13 de junho de 2025

A necessária atuação do ICMBio, do MPF e da Justiça Federal em defesa da Reserva Extrativista Chico Mendes

POR GOMERCINDO RODRIGUES

 
 

A Reserva Extrativista Chico Mendes, com mais de 970 mil hectares, localizada no Vale do Rio Acre, abrangendo os municípios de Xapuri, Brasileia, Assis Brasil, Sena Madureira, Rio Branco e Capixaba, criada em 1990 como uma tentativa do governo de então de mostrar-se preocupado com o meio ambiente após o assassinato, em 1988, de Chico Mendes, foi, ao longo de todo esse tempo, sempre objeto de ataques daqueles que são contra a conservação da floresta amazônica e que defendem a sua devastação chamando a isso de “desenvolvimento”.

Nos últimos anos, a Resex Chico Mendes vem sendo invadida por pecuaristas, disfarçados de “pequenos produtores”, muitos deles advindos do já destruído Estado de Rondônia, que “compram” partes das colocações de seringa da Resex e as desmatam integralmente para a implantação de pastagem para a criação de gado.

Mais recentemente, especialmente após 2018, alguns políticos locais, com assento no Congresso Nacional, passaram a defender a diminuição da área da Resex, começando, inclusive, a tramitar um projeto de lei com essa finalidade. Ao mesmo tempo, houve, claro, um incentivo à maior invasão da área de conservação para tentar criar uma situação de “fato consumado”, visando que as áreas antropizadas (desmatadas) pudessem ser excluídas da área total da Resex. Essa situação, obviamente, começou a fermentar uma situação de muitos conflitos na região.

As áreas invadidas mais recentemente, com a introdução de pastagens e aumento da pecuária vêm sendo, há vários anos, objeto de denúncias e, até, de ações judiciais visando não só a conservação da floresta, mas, também, a preservação do patrimônio público ⎯a Resex é uma área de propriedade da União⎯ e, ainda, a manutenção de seu objetivo inicial: um modelo de desenvolvimento que favorecesse às populações tradicionais, os/as seringueiros/as da região, com a busca de alternativas de uso que privilegie a conservação do meio ambiente.

Após muitas notificações e embargos, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), responsável pela fiscalização na Resex, está a desempenhar o seu papel de forma mais efetiva em cumprimento a decisão judicial após longuíssimo processo, e assim foi deflagrada a “Operação Suçuarana”, que visa a desocupação das áreas invadidas por aqueles que não são beneficiários nem têm o perfil extrativista, necessário para estarem dentro da Resex.

A “Operação Suçuarana”, cumprindo a lei, apreende o gado dos produtores que invadiram a área pública, pois, óbvio, é produto de ilícito e, em sendo assim, não pode ser usufruído, pois, concordar com isso é como concordar que um grupo criminoso que consegue assaltar um banco poderia “usar” o dinheiro. Claro que não. O que é produto de ilícito, de qualquer ilícito, não pode beneficiar quem o cometeu.

A necessária atuação ⎯e penso, quase que tardia, atuação do ICMBio que, sabemos, ao longo de um tempo ficou praticamente proibido de exercer a sua ação fiscalizatória, no tempo do “passar a boiada”⎯ tem, no entanto, gerado não só protestos contra o órgão governamental, mas, e isto é o mais perigoso, gerado acusações e ameaças a lideranças históricas do movimento seringueiro do Acre, especialmente ao companheiro Raimundo Mendes de Barros, o Raimundão, primo de Chico Mendes e um dos mais aguerridos defensores do seu legado.

Infelizmente, hoje, em Xapuri, está-se em uma situação muito similar àquela que precedeu ao assassinato da Chico Mendes, em 1988. Urge que sejam tomadas providências não só para garantir a ação fiscalizatória do ICMBio, com a manutenção de todas as forças públicas envolvidas na “Operação  Suçuarana”,  mas, também, que sejam garantidas a vida e a segurança dos moradores da Resex Chico Mendes, especialmente de suas lideranças.

Não se pode admitir a continuidade da propagação de notícias mentirosas (fake news), nem quaisquer ameaças contra as lideranças dos/as trabalhadores/as rurais de Xapuri. Os invasores da Resex Chico Mendes sabem que cometeram ilícitos, tanto é assim que as próprias primeiras entrevistas divulgadas em sites de notícias locais,  trazem declarações do tipo: “começamos a ficar preocupados quando vimos os helicópteros sobrevoando a região”. Ora, se não tinham cometido nenhum ilícito, por que estariam “preocupados”?

Não há qualquer justificativa jurídica que agasalhe o fato de que os produtos dos ilícitos ambientais e de invasão de terras públicas possam ser usufruídos pelos criminosos. Dessa forma, descabida é a manifestação, inclusive de políticos locais, em apoio aos invasores e insustentáveis as críticas à atuação dos órgãos públicos no cumprimento de seus deveres.

Não podemos voltar à época da violência de 1988, que vitimou Chico Mendes. Cabe não só ao Poder Executivo a garantia da proteção do patrimônio público e da vida dos beneficiários da Resex Chico Mendes, especialmente de suas lideranças históricas ameaçadas, mas, também ao Ministério Público Federal, à OAB, à Defensoria Pública da União, aos órgãos ligados aos Direitos Humanos, ao Poder Judiciário, manter firme atuação no sentido de garantir a integridade da Resex Chico Mendes e da vida dos e das companheiros e companheiras ameaçados/as.

Gomercindo Rodrigues é advogado, amigo de Chico Mendes, militante dos direitos humanos e do meio ambiente.

sábado, 10 de maio de 2025

Cientistas emitem alerta sobre secas severas, queimadas, fumaça e aumento da temperatura na Região MAP

 

Foto: Altino Machado
Foto: Altino Machado

Um grupo de 24 cientistas, pesquisadores e profissionais diversos da "Iniciativa Trinacional MAP", que abrange Madre de Dios (Peru), Acre (Brasil) e Pando (Bolívia), divulgaram nesta sexta-feira, 10, um alerta sobre a seca, ondas de calor, queimadas, fumaça e o clima do futuro na região.

⎯ As tendências de elevação da temperatura e de alteração das chuvas, acopladas com a redução de florestas, indicam que podemos ter secas severas neste e nos próximos anos, com probabilidade alta de se agravar ⎯ afirmam.

O alerta assinala que estamos no período mais marcante de mudanças no clima na região MAP. Desde 1990 até 2024, em 34 anos, a temperatura anual na área aumentou cerca de 1,8ºC, segundo dados da Universidade de Maine nos EUA. A tendência na região MAP segue, em geral, a tendência mundial.

Segundo a "Iniciativa Trinacional MAP", as pessoas mais diretamente afetadas pelas mudanças climáticas ⎯os extrativistas, ribeirinhos, povos indígenas e os povos indígenas isolados na região MAP⎯ precisam que suas florestas sejam protegidas contra desmatamento e degradação, seja por atividade madeireira não sustentável ou fogo.

Publicado em espanhol, português e inglês, o documento de 16 páginas apresenta seis recomendações:

1. Atualizar e implementar, nos níveis federal, estadual, municipal e comunitário, planos de contingência para desastres socioambientais associados a eventos extremos climáticos, com a participação ativa de organizações de bairro. No caso de Pando, os Conselhos de Bairro e as Federações de Conselhos de Bairro (FEJUVE), bem como organizações inovadoras de afetados para a gestão adequada dos riscos decorrentes, durante e após eventos extremos. Os custos destas atividades são muito menores do que os danos causados por estes eventos, exemplificados pela inundação em Rio Branco em 2015 e outros eventos no Acre.

2. Preparar as sociedades para lidar com mudanças climáticas, perda de biodiversidade e desastres socioambientais nas décadas que vêm, via modificações nos sistemas educacionais do básico até superior, como proposto no Brasil via a Lei no. 14.926, de 17 de julho de 2024 (11) e o que está estabelecido na Lei de Educação nº 070, Artigo Cinco, (Objetivos da educação), inciso 9 no Estado Plurinacional da Bolívia (12). Além do Objetivo Prioritário 1 da Política Nacional de Gestão de Riscos de Desastres até 2050 e o art. 2.2 do Decreto Supremo que declara de interesse nacional a emergência climática no Peru.

3. Fortalecer e propagar bons exemplos de preparação e resposta de comunidades enfrentando os eventos extremos, como a autogestão de desastres promovida pelos moradores do bairro Junín, duramente afetado pelo transbordamento do Rio Acre na cidade de Cobija.

4. Fazer gestão de paisagens para que se mantenham a estrutura e funcionamento de ecossistemas naturais que amortecem os impactos de mudanças climáticas na escala regional, mantendo áreas de proteção e recuperação de áreas críticas. Em linha com o enfoque ecossistêmico da Convenção sobre Diversidade Biológica e as prioridades estabelecidas no Plano Maestro do Parque Nacional Alto Purus 2024–2029 (SERNANP, 2024). Torna-se urgente implementar medidas de adaptação e mitigação a médio e longo prazo, como a restauração de paisagens degradadas, fortalecimento do monitoramento climático coordenado, salvaguardas específicas para os PIACI e o fortalecimento da governança ambiental trinacional para garantir a resiliência desses ecossistemas e das populações que deles dependem.

5. Integrar ferramentas de governança territorial (Zoneamentos, ordenamentos territoriais e planos de vida) com estratégias de adaptação e mitigação as mudanças climáticas e provisão de serviços ambientais. Priorizar a região do MAP e buscar o envolvimento direto dos governos locais, estaduais e federais, com responsabilidades comuns e diferenciadas.

6. Expandir as redes de monitoramento hidrometeorológico e da qualidade do ar da região MAP para auxiliar em alertas e respostas aos eventos extremos, usando tecnologias de baixo custo integradas com os sistemas educacionais e da saúde para facilitar a aplicação de informações geradas.

Clique aqui para ler o alerta na íntegra.

 



sexta-feira, 28 de março de 2025

Instituto lança o mais completo site sobre os geoglifos da Amazônia

 
Presidido pelo paleontólogo Alceu Ranzi, o Instituto Geoglifos da Amazônia (IGA)concluiu a confecção e publicou na web o mais completo site sobre os geoglifos, as impressionantes estruturas escavadas no solo, formadas por valetas e muretas que criam figuras geométricas de diferentes formatos e dimensões.
 
Esses sítios arqueológicos estão localizados na Amazônia Ocidental, especialmente nos Estados do Acre, Amazonas e Rondônia. Até o momento, mais de 1.000 sítios arqueológicos desse tipo foram identificados, número que continua crescendo conforme novas pesquisas são realizadas, inclusive na região Sul do Amazonas, nos municípios de Boca do Acre e Lábrea.
 
Fique por dentro das últimas pesquisas, descobertas e debates sobre os geoglifos da Amazônia e de outras partes do mundo. Explore a história, a ciência e a importância da preservação desses impressionantes vestígios do passado.
 
O IGA tem como pilar de sua existência, atuar na defesa, preservação e conservação do meio ambiente, do patrimônio histórico, dos sítios arqueológicos, dos Geoglifos e da herança cultural dos povos ancestrais da floresta amazônica. O IGA se vale da educação, especialmente a ambiental, das pesquisas e dos serviços ambientais como ferramentas para promover o desenvolvimento socioambiental sustentável da região amazônica, incentivando e valorizando a ética, a paz, os direitos humanos e a democracia.
 
 
Foto: Mauricio de Paiva