A ex-senadora Marina Silva ainda tem esperança de que possa romper o  isolamento a que foi submetida na semana passada pelo comando do PV,  quando o presidente da partido, José Luiz Penna, no cargo há 12 anos,  liderou manobra na Executiva Nacional para prorrogar o mandato por mais  um ano.
Marina, que emergiu com quase 20 milhões de votos da disputa pela  presidência da República no ano passado, não esconde as divergências com  o presidente da sigla, mas nega que esteja disposta a se desfiliar do  PV para  criar outro partido.
- Não estou cogitando essa história de um novo partido - afirma.
 Nesta quinta-feira (24), em São Paulo, a ex-seringueira do Acre  participa de uma reunião com a presença, entre outros, de Fernando  Gabeira, Alfredo Sirkis, Sérgio Xavier, Maurício Brusadin, Ricardo  Young, Aspásia Camargo e dirigentes regionais que reivindicam  reestruturação e democracia no PV.
 - Nós não podemos dizer uma coisa e praticar outra. Eu não vou falar  para a sociedade em novas formas de fazer política com as velhas formas  dentro do meu próprio partido.
 É a primeira vez que a ex-senadora se manifesta publicamente desde  que as divergências com a direção do PV se agravaram. Veja os principais  trechos da conversa.  
 Prioridades
 Estou surpresa, pois, quando fui convidada, o Alfredo Sirkis disse  que o PV enfrentava problemas que precisavam ser corrigidos. Todos  falaram que estavam com três grandes prioridades: a revisão programática  do partido, para colocar a sustentabilidade na centralidade do  programa; a reestruturação do partido no sentido da democratização, pois  o PV tem 25 anos e a maioria dos diretórios  são comissões provisórias  nomeadas pelo presidente; por último, que o partido havia tomado a  decisão de ter uma candidatura própria, independente de minha adesão ou  não ao partido.
Movimento
 Durante a campanha nos centramos na questão do programa e da própria  campanha e não tinha como fazer a reestruturação do partido, como ficar  convocando congressos e convenções. Passada a campanha, sinalizei que  era hora de cumprir aquilo que já estava em curso. Eu sabia da  resistência, por parte de um setor, de mudar o estilo de um partido  centralizado, que não organiza-se para acolher os novos ventos da  sociedade. O importante é que nessa desafiadora tarefa de reestruturação  e democratização do partido Fernando Gabeira, Alfredo Sirkis, Sérgio  Xavier, Maurício Brusadin, Ricardo Young, Aspásia Camargo e tantos  outros que não dá para citar aqui estejam todos unidos. Isso é o  importante. Esse movimento não é da Marina. Esse movimento já estava em  curso, segundo me disseram quando me convidaram a ingressar no PV.
Partido em rede
 Agora só estou pedindo para que a gente dê continuidade à decisão que  já existia. Há uma resistência de um grupo, entre os quais o presidente  José Luiz Penna e o Zequinha Sarney, mas o mais importante é que o PV  histórico, o PV programático, o PV que mobilizou a sociedade e que teve  essa clareza, está unido para o desafio posto. Não se trata de uma briga  fratricida pelo poder. Eu nem quero ser dirigente, nada, eu só quero  ser filiada. Quando falo isso é a mais sincera verdade. Quero ser uma  filiada num partido em que as pessoas podem se filiar, votar e escolher  seus dirigentes, em que haja abertura e diálogo com as novas formas de  comunicação e processos decisórios possibilitados pela internet, que é a  idéia de um partido em rede.
Escolha pela caneta
 Somos um partido com o qual a sociedade fez aliança e não podemos  falar de uma nova forma de fazer política praticando a velha fórmula da  disputa do poder pelo poder, das estruturas burocráticas, das alianças  incoerentes em vários estados, como aconteceu no Amazonas, Rondônia e  tantos outros. Estamos afirmando um projeto e ao afirmar esse projeto,  obviamente, nós negamos a escolha dos dirigentes do partido pela caneta.  Queremos, como diz o Sirkis, um partido que seja parlamentarista, que  não tenha na figura do presidente a figura central. Reconheço o trabalho  das pessoas, mas estou tratando de divergências políticas, de visão de  partido. Eu acredito em partido em rede, em processos horizontais de  tomada de decisões, em parcerias com setores não necessariamente  filiados ao partido. Não tem sido assim.
Reunião
 Os dirigentes têm sido nomeados, os diretórios são comissões  provisórias. Podemos fazer um processo de transição democrática para  termos escolhas representativas pelos votos dos filiados do partido.  Este é um processo de discussão que envolve seminários e, nesse sentido,  sugerimos que fossem feitos em seis meses, mas veio a idéia de se  prorrogar o que está aí por mais dois anos e depois o Zequinha Sarney  apresentou a proposta de um ano. Se for de um ano, não vai acontecer  novamente. Quando chegar 2012, vai vir a alegação de que não dá pra  fazer porque é eleição. Essas questões todas estarão sendo discutidas  nesta primeira reunião ampliada, na quinta-feira, em São Paulo.
Recomeço
 Depois de 25 anos de trabalho árduo, queremos que o PV faça jus a  esse legado, o que inclui também o trabalho das pessoas das quais estou  divergindo agora. Tanto eu quanto Alfredo Sirkis, Fernando Gabeira,  Sérgio Xavier, Maurício Brusadin, Aspásia Camargo, Ricardo Young e  tantos outros do Brasil inteiro, queremos que o PV tenha em si mesmo o  que quer ver nos outros partidos. Estamos discutindo a reforma política,  e nós podemos antecipar a reforma política que nós queremos para o país  e para o sistema político no nosso próprio partido. Nós estamos fazendo  tudo de novo dentro PV.
Saída do PV
 Não quero trabalhar com especulações. Quero trabalhar para que o PV  faça jus a esse legado. Foi o PV que protagonizou isso. Foi o esforço de  Gabeira e Sirkis, que vieram da Europa e criaram o partido. Sirkis  disse que, se precisasse fazer tudo de novo, ele estaria disposto. Isso é  uma expressão retórica para mostrar o quanto a gente tem  responsabilidade com as expectativas de um modelo de desenvolvimento e  com uma nova forma de fazer política. Nós não podemos dizer uma coisa e  praticar outra. Eu não vou falar para a sociedade em novas formas de  fazer política com as velhas formas dentro do meu próprio partido.
Novo partido
 O nosso esforço é para que o partido se atualize em termos  programáticos, integre o programa da campanha ao seu programa, as  mudanças de organização da relação com seus filiados, com a sociedade,  com as novas tecnologias e com as redes sociais que nós fomos capazes de  criar. Não vamos cogitar nenhum outro tipo de caminho. A nova maneira  de seguir será pelo caminho que essas pessoas foram abrindo com muita  dificuldade ao longo de 25 anos. Não é um novo caminho, mas uma nova  maneira de caminhar, integrando essa grande contribuição e legado que  nós ajudamos a construir quando lançamos a candidatura e o projeto. Não  estou cogitando essa história de um novo partido. A nova maneira de  seguir é pelo PV de Fernando Gabeira, Sérgio Xavier, Alfredo Sirkis,  Aspásia Camargo e tantas outras pessoas, inclusive aqueles de quem  estamos divergindo agora, mas que abriram um caminho ao longo desses 25  anos.
 
 

 
Um comentário:
Marina Melancia, verde por fora e vermelha por dentro.
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